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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

SOMOS NÓS OS PRIMITIVOS CELTAS?

"Verificamos afinal que "a "misteriosa chegada" dos Celtas ao Ocidente da Europa (...) é substituída pelo panorama de uma mais primitiva diferenciação dos Celtas, enquanto grupo indo-europeu mais ocidental da Europa (1). E que a Europa Ocidental deve ter sido sempre céltica" (...)

 A estes testemunhos sobre a celticidade do território português temos agora de acrescentar um dos mais recentes estudos sobre a escrita tartéssica (abrangendo todo o Sul de Portugal e boa parte do Sudoeste de Espanha e datável entre 800-550 a. C.) de John T. Koch (2). Este investigador vem, aliás, ao encontro do já aventado Xaverio Ballester (3), um dos mais famosos defensores do novo paradigma da continuidade paleolítica: o tartéssico (tal como o galaico-lusitano, para Ballester) deverá ser talvez acrescentado à lista das línguas célticas mais primitivas. Também nesta obra de Koch se inclui um texto (4), devidamente fundamentado, a questionar seriamente as teorias tradicionais. Mapas muito elucidativos, inseridos neste artigo, apresentam o que hoje, à luz de novos conhecimentos, se considera ser muito mais provável: foi no Extremo Ocidental da Europa que se situou o berço dos povos Celtas.

(1) Alinei, M., A Teoria da Continuidade Paleolítica das Origens Indo-Europeias: Uma Introdução, Lisboa, Apenas Livros, 2008

(2) Koch, John T., Tartessian, Celtic in the South-West at the Dawn of History, Aberystwyth, 2009

(3) Ballester, Xaverio, Sobre el Origen de las Lenguas Indoeuropeas Prerromanas de la Península Ibérica, www.continuitas.com

(4) O'Donnell, Charles James, Celtic Studies Lectures, 2008 (Was the Atlantic Zone the Celts Homeland? e People called Keltoi, the La Tène Style, and Ancient Celtic Languages: the Threefold Celts in the Light of Geography), in Koch, John T., op. cit, pp. 132 a 142

in Portugal, Mundo dos Mortos e das Mouras Encantadas, Vol. I,  Fernanda Frazão e Gabriela Morais, Apenas Livros, Lisboa, 2009

Imagem Google

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

UM RITUAL PAGÃO NUNCA INTERROMPIDO



Tigh nam Bodach (the Hag’s House)

Localizado em Glen Calliche, perto de Glen Lyon, fica Tig nam Bodach (a Casa da Bruxa). Esta pequena estrutura em pedra contendo pedras moldadas pela água é conhecida como a  "Cailleach e as suas crianças". Nos meses de verão, do primeiro de maio ao primeiro de novembro, as pedras são colocadas fora do santuário, até que no começo do inverno elas regressam ao seu interior pelas mãos dos pastores locais.

Este é considerado o mais antigo ritual pagão nunca interrompido na Britânia e até mesmo, segundo algumas fontes,  em toda a Europa.

Trata-se de rituais relacionados com a divisão primordial do ano em duas estações, verão e inverno, o tempo da Deusa enquanto Donzela e o Seu tempo enquanto Anciã.

Fontes:
Sorita d’Este & David Rankin, Visions of the Cailleach)

Imagem: Google

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Faleceu Patricia Monaghan

Faleceu no último dia 10, aos 66 anos, Patricia Monaghan, poeta e feminista, autora entre outros títulos de O Caminho da Deusa, editado em Portugal pela Europa-América, livro que forneceu inspiração a muitas de nós, nomeadamente a mim no meu trabalho com os arquétipos do Feminino.

Patricia Monaghan Ph.D. publicou mais de 15 títulos, incluindo um sobre vinhos, matéria em que era perita, e os 2 volumes da Enciclopédia das Deusas e Heroínas. Foi uma das fundadoras do Black Earth Institut, no Wisconsin, onde vivia, apesar de também ter a nacionalidade irlandesa.

Considerada por muit@s uma verdadeira força da natureza, que entre outras atividades também se dedicava à agricultura biológica, Patricia Monaghan foi uma das primeiras autoras através das quais aprendi antigos rituais da religião da Deusa. Onde quer que estejas, irmã, a minha profunda gratidão pela tua força, inspiração e generosidade. 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SAMHAIN - CELEBRAR O FIM DUM CICLO



Este é o momento do ano em que o ciclo da vida termina, tudo o que a terra produziu já foi colhido e armazenado, o grão, os frutos, os vegetais (resta-nos a azeitona, a nós, mas está quase...!). Tudo o que resta vai agora ser cortado rente pela foice da morte da Anciã e retornar ao útero da Mãe Terra para aí ser transformado. O caldeirão simboliza esse útero da Mãe onde tudo é recriado para voltar a nascer. Na natureza, vão acontecer processos de decomposição, de putrefação, de transmutação; pétalas, folhagem, galhos secos transformar-se-ão em húmus suculento, enquanto das sementes nova vida germinará para que o ciclo recomece. O tempo circular, o tempo da Deusa.
 
Este é o momento da hibernação, quando a vida se recolhe para o interior da terra, quando a nós humanos também apetece ficar em recolhimento no interior das nossas casas, no aconchego do calor da lareira, honrando esta época de introspeção, de avaliação daquilo que na nossa vida também precisa de morrer, de ser transformado. Momento ainda de confronto com a Sombra... Quando aceitamos fluir com a Vida, com a Natureza, quando compreendemos que dela fazemos parte enquanto criações da Deusa, aprendemos a aceitar, respeitar, valorizar, honrar e celebrar o processo da morte. Sabemos que somos energia eterna, que como dizia Lavoisier, na Natureza nada se perde, tudo se transforma e que por isso também nós estamos envolvidas e envolvidos neste ciclo de morte e renascimento. Assim aquelas e aqueles que nos precederam, que continuam a viver noutra dimensão, e a quem naturalmente na nossa cultura nós recordamos e honramos neste momento do ano. 

Pessoalmente, gosto de ir ao cemitério visitar o túmulo da minha mãe, do meu pai, das minhas avós e avôs, das tias e dos tios já falecidos. Levo-lhes flores e uma prece de gratidão pela herança que me legaram. No meu altar coloco um bolo para elas e para eles, aquilo a que agora chamamos bolo dos santos, herança duma tradição muito antiga, pagã, que como tantas outras o cristianismo teve de assimilar para conseguir impor-se e dominar enquanto religião. É óbvio que elas e eles não irão comer esse bolo de uma forma física, mas a energia amorosa que foi colocada na sua confeção e na intenção desta oferenda tocará a energia que são agora, e sempre foram, e que conecta os nossos corações.

Neste festival honremos a Deusa Anciã, a Deusa Negra do Mundo de Baixo e peçamos-lhe que nos ajuda a transmutar dentro do Seu caldeirão ou na fogueira que Lhe acendemos, aquilo que não queremos mais na nossa vida. 
E depois celebremos a Vida com muita alegria!

©Maria Luiza Oliveira Frazão

terça-feira, 30 de outubro de 2012

CRISE NO PATRIARCADO



A estrutura caractereológica do homem atual (que vem perpetuando uma cultura patriarcal e autoritária desde há entre 4 a 6 mil anos) caracteriza-se por um encouraçamento contra a natureza dentro de si mesmo e contra a m
iséria social que o rodeia. Este encouraçamento do carácter está na base da solidão, do desamparo, do insaciável desejo de autoridade, do medo, da angústia mística, da miséria sexual, da rebelião impotente, assim como duma resignação artificial e patológica. Os seres humanos adotaram uma atitude hostil àquilo que dentro deles mesmos está vivo, mas de que se afastaram. A origem desta alienação não é biológica, mas social e económica e não é detetável na história humana antes do surgimento da ordem social patriarcal.

WILHEM REICH
La Función del Orgasmo
citado por Cacilda Rodrigañez Bustos, em El Assalto al Hades


Imagem:  René Magritte

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

FILHAS DO PATRIARCADO


“É precisamente na mulher que tem uma relação pobre com a mãe que o arquétipo do si mesmo primeiro se constela, naquela que tende a buscar a sua plenitude através do pai ou do homem amado. […] Uma mulher expressou isso quase como um manifesto no começo da análise:
“Eu insisto em ter o carinho dum homem. Qualquer fonte feminina me enfurece. O homem é responsável pelo universo. As mulheres  não passam dum segundo lugar. Odeio túneis, Kali, minha mãe e este corpo de mulher. O que eu quero é um homem.”

O problema é que nós, mulheres muito feridas na relação com o feminino, quase sempre temos uma persona muito eficiente, uma boa imagem pública. Crescemos como filhas dóceis do patriarcado, frequentemente intelectuais e dotadas daquilo que denominarei “egos-animus”. Lutamos por defender as virtudes e ideais estéticos a nós apresentados pelo superego patriarcal. Mas enchemo-nos de autorrejeição e de uma sensação de profunda feiura e fracasso quando não conseguimos satisfazer nem aliviar as exigências de perfeição do superego.

Uma mulher com mais de dez anos de análise junguiana disse-me: “Passei anos tentando relativizar uma coisa que nunca tive: um ego verdadeiro”. Realmente, ela tem apenas um ego-animus, e não um que seja verdadeiramente seu para se relacionar com o inconsciente e com o mundo exterior. A sua identidade baseia-se em adaptações da persona àquilo que o animus lhe diz que deve ser feito; assim, ela a um só tempo, adapta-se às projeções que lhe impingem e revolta-se contra elas. 

Consequentemente, essa mulher quase não tem o sentido do seu núcleo pessoal de identidade, do valor e do ponto de vista femininos. Isto acontece por se terem valorizado, em relação às mulheres ocidentais, virtudes que frequentemente apenas se definem pela sua relação com o masculino: a mãe e esposa fecunda e bondosa; a filha agradável, dócil e delicada; a companheira diligente, discretamente encorajadora ou brilhante.

Como tantas escritoras feministas declararam pelos tempos afora, esse modelo coletivo e o comportamento daí resultante é inadequado para a vida; nós mutilamo-nos, enfraquecemo-nos, silenciamo-nos e enfurecemo-nos, tentando comprimir os nossos espíritos dentro dele, na certa exatamente como as nossas avós deformaram os seus corpos sensíveis dentro de espartilhos, por causa dum ideal.”

Sylvia Brinton Perera, Caminho para a Iniciação Feminina, Edições Paulinas, São Paulo, 1985 (adaptado)

Imagem: Liv Tyler em "O Senhor dos Anéis" (clique sobre a imagem para uma definição de consceitos junguianos como "anima" e "animus")


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

HOJE, 11 DE OUTUBRO, PRIMEIRO DIA INTERNACIONAL DA RAPARIGA

A CÉLULA "RAPARIGA" É UM CHIP QUE PODE MUDAR A NOSSA CONSCIÊNCIA COLECTIVA

A célula “menina”, ou “rapariga”, é uma célula, ou um conjunto de células, central para a evolução da espécie humana. Essa célula existe em tod@s nós, mas entretanto os poderes em vigência compreenderam a necessidade de a suprimir, reinterpretando-a, negando o seu valor, levando-nos a tomá-la por fraqueza, reduzindo-a, erradicando-a, matando a célula “rapariga” em nós.

 Imaginemos que a rapariga é um chip no macrocosmos da consciência colectiva, e que é preciso repensar e equilibrar o futuro de tod@s nós. Imaginemos que essa célula “rapariga” é compaixão, empatia, paixão, intensidade, vulnerabilidade, sinceridade, capacidade de associação, de relacionamento, intuição.

 Compreendamos que da compaixão decorre grande sabedoria, a vulnerabilidade pode ser a nossa maior fortaleza e as emoções têm a sua lógica própria que nos leva a tomar as medidas mais certas, radicais e salvadoras. Os poderes instituídos, no entanto, sempre nos disseram o contrário, que a compaixão turva o raciocínio, que atrapalha, que vulnerabilidade é igual a fraqueza, que não nos devemos deixar guiar pelas nossas emoções, que não devemos tomar as coisas a peito, pessoalmente.

 O mundo foi criado para evitar sermos uma rapariga. 

O que significará então ser um rapaz? Ser um rapaz significa não ser uma rapariga, ser um homem significa não ser uma rapariga, ser uma mulher significa não ser uma rapariga, ser um líder significa não ser uma rapariga. Ser uma rapariga é então algo de tão poderoso que é preciso treinar as pessoas para não o serem!

A ironia é que negar, suprimir, a rapariga, recusar o sentimento, nos trouxe até onde nos encontramos agora, a um mundo onde as mais extremas formas de violência, a pobreza mais terrível, a violação, o genocídio, a destruição do planeta e dos seus recursos, tudo está fora de controlo. Por termos suprimido as nossas células “rapariga”, não sentimos mais o que está a acontecer, não conseguimos sentir o peso do que está a acontecer connosco e com o planeta…

No Congo, por exemplo, uma terrível guerra que já matou mais de 6 milhões de pessoas dura há mais de 12 anos relacionada com a exploração de minério para exportar para o Ocidente. Os sentimentos são contrários aos interesses dos impérios, interferem com a exploração desenfreada, com o esventrar da Terra e com a exploração desenfreada e destrutiva das suas riquezas.

A célula “menina” foi suprimida tanto nas mulheres como nos homens, e nos homens os estragos foram ainda maiores. A educação dos rapazes, no sentido de os tornar “fortes”, obriga-os a distanciarem-se de si próprios, dos seus sentimentos, a não chorarem. Na verdade, as balas que eles usam na guerra são as suas lágrimas endurecidas… Quando não permitimos que os homens tenham acesso à sua Menina Interior, à sua vulnerabilidade, à compaixão, eles embrutecem, tornam-se agressivos e violentos. Ensinamos-lhes que devem sentir-se seguros quando não o estão, que devem fingir que sabem tudo quando não é o caso. Sem isso não teríamos chegado aonde nos encontramos…


Se é mau aquilo que fazemos com a menina dentro de nós, é terrível aquilo que fazemos com as raparigas por esse mundo fora.

elas são espancadas
queimadas com pontas de cigarros acesas
tratadas como lixo
espancadas pela mãe, o pai, os irmãos, os tios
passam fome deliberadamente, nos países ricos, para se assemelharem à imagem idealizada que têm de si próprias
são controladas
mutiladas
 vítimas de analfabetismo
levadas a sentirem-se mal por serem tão inteligentes e talentosas
silenciadas culpabilizadas
queremo-las suaves, com bons modos, menos intensas
são mortas no estado embrionários por serem raparigas
são escravizadas
violadas...

Elas estão tão habituadas a ser espoliadas de tudo aquilo que as torna humanas, que acabamos por transformá-las em objectos, em mercadorias. O comércio de raparigas é uma realidade em todo o mundo e em alguns países elas valem menos que as vacas ou as cabras…

Actualmente, uma em cada oito pessoas no mundo é uma rapariga entre os 10 e os 24 anos de idade. Elas são portanto a chave para o futuro da humanidade. Mas estão em sérios apuros porque enfrentam muitas desvantagens que as mantêm exactamente lá onde a sociedade quer que elas estejam: à míngua de cuidados médicos adequados, de educação, de comida saudável, de participação na força laboral, sobrecarregadas com toda a carga de tarefas domésticas e muitas vezes com a criação dos irmãos mais novos…

No entanto, é a condição das raparigas no mundo e da rapariga dentro de nós que vai determinar a nossa sobrevivência ou não enquanto espécie. 

A palavra de ordem que é imposta às raparigas de todo o mundo é o verbo “agradar”, as raparigas são treinadas para agradarem. Torna-se urgente mudar este verbo para “educar”, “activar”, “ocupar-se”, “confrontar”, “desafiar”, “criar”. Se ensinarmos as raparigas a mudar as suas palavras de ordem, vamos fortalecer, empoderar a rapariga dentro de nós tod@s.

Alguns exemplos de raparigas que abraçaram a sua Menina Interior, apesar de todas as circunstâncias negativas à sua volta:

uma rapariga holandesa que quer dar a volta ao mundo no seu barco sozinha

uma rapariga que quis tatuar 56 estrelas no lado direito do seu rosto

Julia Butterfly Hill, que passou um ano em cima duma árvore para defender velhos carvalhos que iam ser abatidos

uma rapariga afegã de 17 anos, que com uma câmara escondida na burca, filmou cenas de violência contra as mulheres no seu país, que deram a volta ao mundo

Rachel Corrie, uma rapariga israelita que se pôs à frente dum tanque de guerra gritando pelo fim da ocupação, sabendo o risco que corria

uma rapariga congolesa que engravidou do seu violador e que me disse amar o seu bebé, porque o seu bebé estava cheio de amor…

A capacidade destas raparigas para suplantarem situações adversas e ultrapassar limites é espantosa. (…)

Eve Ensler (tradução livre)

Veja o vídeo


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

GLASTONBURY - A MÃE DE TODAS AS CONFERÊNCIAS




A 17.ª Conferência da Deusa de Glastonbury acabou no domingo por volta das quatro da tarde. Depois disso, desmontámos o cenário e na 2.ª feira às 19 e 30 foi a cerimónia de Lammas no Goddess Hall. O tema deste ano foi a Mãe, a energia da Criadora, daquela face da Deusa que nutre, que suporta a manifestação,  a vida. Os amarelos e os dourados prevaleciam sobre todas as cores. Cores da abundância e da riqueza.

Mas aí, na energia da Mãe, nem tudo foi colo, aconchego, nutrição, generosidade… Foi primeiro o doloroso recordar das feridas da Mãe, a Mater Dolorosa em nós. Nós filhas, nós mães… Como cuidamos ou negligenciamos, como fomos cuidad@s ou negligenciad@s … Cada ferida se abrindo, cada uma se oferecendo à consciência/cura…  Ir fundo no abandono, ir fundo na consciência da criança em nós que pede colo, ir fundo na consciência da Mãe ferida em nós que aprendeu a dar, dar, dar como única forma de pagar o seu direito de estar viva… Até que nas feridas abertas a Deusa lança o seu bálsamo e começas a fluir leve no amor, na alegria, na graça e na beleza do Feminino… Realizas como é justo e natural cultuar uma Criadora cujo corpo se abre para dele sair a vida, a vida que foi fabricada no seu corpo, com a sua própria substância…

Na noite depois da abertura, no Drama Sagrado Mother Matters, dirigido por Katie Player, dezasseis mulheres, à semelhança de Monólogos da Vagina, contaram-nos as suas histórias reais enquanto mães ou enquanto filhas, guiando-nos com graça pelos seus meandros mais obscuros, onde por vezes se podia ouvir o coro da tragédia ou o coro dos anjos, das fadas, dos unicórnios, nas dimensões aonde brincam agora os espíritos bem-amados…

Depois dessa noite, o tom das Senhoras de Avalon estava dado: não há por onde fugires, nem penses em fazer de conta, não vale virares a cara… Vais viajar pelos três mundos em segurança, é só veres como fazemos, repara bem, nós vamos à frente, abrimos-te o caminho… follow us, sister… vai com confiança aos teus infernos mais privados, onde serás acolhida pela toda-poderosa Keridween com o seu caldeirão de morte, transformação e renascimento…


Não conheço sobre esta terra lugar mais seguro, porque nenhuma parte de nós tem de ser negada ou suprimida aqui, nem o nosso natural gosto pelo enfeite, a exuberância, a cor, o puro divertimento…
Foi muita Mãe, sem dúvida, mas não tanto como na nossa cultura patriarcal onde este é o arquétipo feminino mais estimulado, validado, usado e abusado…  Muito peso. A Mãe suporta aqui, na nossa cultura… o insuportável…  E foi por isso que o trabalho da californiana Ava sobre o arquétipo da Rainha soube tão bem. Durante mais de duas horas, explorámos a riqueza do único arquétipo do Feminino que não pode coexistir com o patriarcado e que tem sido portanto o mais difamado e atacado. Aquela que governa, que conduz a energia, tem o poder de pura e simplesmente não a dar a seja o que for que, com o seu apurado discernimento, não lhe pareça ser a favor do bem maior, sendo que a Rainha em nós é o arquétipo mais impessoal, a que vê the big picture… Amei!


Completamente de acordo com Ava, a facilitadora da Rainha em nós, quando começou por pedir uma salva de palmas para Kathy Jones, a criadora da Goddess Conference, que, segura da sua visão e do seu poder, não teme rodear-se de outras Rainhas e com elas interagir, criando um evento cuja energia inspiradora irradia para o mundo inteiro e se arrisca a ser neste momento o foco da mais extraordinária revolução da atualidade…

Luiza Frazão

Imagens: Sacred Drama, Mother Matters e altar principal

quarta-feira, 11 de julho de 2012

OS HOMENS NO CAMINHO DA DEUSA



Nasci numa família de mulheres. A minha mãe tinha três irmãs e o meu pai duas – mulheres fortes, a maior parte delas. Na minha infância, com o meu pai ausente em África, em redor da máquina de costura da minha mãe, e do seu forte carisma, na nossa casa juntava-se um verdadeiro círculo de mulheres, cosendo, remendando, bordando, contando histórias, falando das suas (e de outras) vidas… Tenho consciência agora de que era um ambiente paradisíaco, o grande regaço da Deusa, um oceano de prazer onde me sentia completamente segura.

Para quase todas aquelas mulheres, entretanto, eram os homens o principal objeto da sua preocupação, do seu amor, mas também do seu medo. Alguns eram violentos, sarcásticos, bebiam demais… No mínimo, pareciam viver noutro mundo, segundo outras leis. Tudo lhes era permitido; já a elas tudo parecia proibido, sobretudo coisas que dessem prazer. “Toma muito cuidado com os homens” era o aviso mais repetido, de todas as formas.

Este abismo entre os homens e as mulheres, entretanto, acabava por tornar os homens objeto de grande atração e fascínio – as coisas são sempre bem mais complicadas do que parecem… De alguma forma e em algum momento das nossas vidas de mulheres – e quanto mais cedo melhor – deveríamos encontrar o tal príncipe encantado, o único e exclusivo ao qual iríamos dedicar a nossa vida; aquele que se tornaria dono e senhor dos nossos dias. De alguma forma (e a grande insanidade era esperarmos isso apesar de toda a corrente de mensagens negativas que circulava a respeito deles…), esperávamos que esse fosse perfeito, embora com frequência ele se revelasse aos nossos olhos mais como uma espécie de Barba Azul que iria manter-nos prisioneiras e tentar “matar” as nossas irmãs, os nossos apoios no exterior…

Podemos considerar que esta é uma boa imagem daquilo que aconteceu ao sistema matriarcal, ginecocêntrico, esse modo de vida aprazível, pacífico, inclusivo, igualitário, sustentável, essa Idade de Ouro, destruída quando os patriarcas impuseram o seu estilo de vida agressivo, violento, competitivo, egocentrado, hierarquizado, de espada sempre em riste e obcecados com o “crescimento” …

Claro que o tema é muito mais complexo, mas a questão é que o sistema patriarcal, baseado na lógica, que fomentou um desenvolvimento excessivo do hemisfério esquerdo do cérebro, em detrimento do direito, com o seu sentido de separação do todo, se tornou obcecado com o poder, a hierarquia, a propriedade privada, a herança, as leis e regulamentos para manter o estado das coisas… Até que a certa altura a mulher se tornou parte da propriedade do patriarca, como uma sofisticada e insubstituível tecnologia de reprodução, requerendo apertado controlo para garantir a pureza da linhagem.

O papel do pai tornou-se então cada vez mais importante, tão central na sociedade que a Deusa Mãe dos primórdios, cultuada durante milhares de anos, foi substituída pelo Deus Pai. Todo o poder passou para mãos masculinas com as desastrosas consequências que conhecemos. O Feminino foi suprimido tanto nos homens como nas mulheres para que fosse possível um mundo mais violento e competitivo, baseado na lei do mais forte que exerce o seu poder sobre tudo e tod@s percebid@s como mais frac@s: crianças, mulheres, outros homens, a própria terra. Poder que vai até impor a escravidão e tudo considerar numa perspetiva de puro lucro.

Tod@s somos vítimas deste desequilíbrio entre as energias Femininas e  Masculinas, destes papéis atribuídos a cada um-a de nós ao nascermos. O papel de Mulher contém certas expectativas que devo cumprir para poder ser aceite e amada. O mesmo acontece com o papel de Homem, e concordo que este não é nem melhor nem mais fácil do que o meu, mesmo  fazendo eles teoricamente parte do clã dominante. A verdade é que somos tod@s um-a e ninguém ganha quando um-a de nós perde.

Então,  o nosso desafio é conseguir equilibrar as energias, trazendo de novo à nossa consciência a Grande Deusa dos começos, o arquétipo, o padrão do Feminino esquecido e desvalorizado, procurando-A na terra, na natureza, nos nossos corpos, nesses lugares de onde os patriarcas judaico-cristãos A baniram para nos levarem a procurar exclusivamente nos céus um Deus severo e ciumento à semelhança do qual eles foram feitos, não nós. Fomos separad@s sistematicamente do nosso corpo, dos instintos, da natureza, percebid@s como lugares do mal, deixando livre o caminho para a sua exploração e destruição desenfreadas.

São muitos os homens que entenderam isto, que sentem em si próprios este desequilíbrio e alguns d@s autor@s mais inspirad@s que já li são homens como Jean Markale, Eric Neumann, Jung, Robert Graves, Stuart McHardy e muitos outros.

No entanto, em meu entender, homens e mulheres são muito diferentes biológica e  culturalmente. Temos histórias muito diferentes, vivências muito diferentes.


Interagir com homens neste caminho da Deusa não é simples. Quando nós, mulheres, nos juntamos há uma imediata compreensão da nossa história comum, uma cumplicidade natural que não inclui os homens. Diria até que os exclui, sentidos como o inimigo, não os homens em si mas os papéis que têm vindo a desempenhar na nossa cultura. Sinto muito, mas este é um ponto muito importante, porque se não temos esta primeira impressão, este sentimento de dor e de revolta, não conseguiremos mudar nada. Apenas a nossa indignação, a nossa raiva, a nossa dor nos podem dar a motivação e a força para mudarmos as coisas. Os homens nunca foram considerados inferiores só por serem homens, nunca foram considerados impuros, sujos, culpados da queda da humanidade, nunca lhes foi interdito o acesso direto ao sagrado…

Muitas mulheres por esse mundo fora continuam a sentir-se sujas, desvalorizadas, separadas dos seus corpos, dos seus instintos, da natureza, do sagrado, nas mãos dos patriarcas, escravizadas na sua grande parte e nós precisamos de curar essas mulheres ousando amar o nosso corpo tal como ele é e não apenas se ele corresponder aos padrões impostos pela cultura patriarcal, amar o lado feminino da humanidade, reclamar o nosso direito de lidar diretamente com o sagrado, como fizemos no passado, como fomos criadas para fazer.

Sei que não é fácil, que pode parecer um ponto de vista sexista, separatista, mas nós, mulheres, temos tantas feridas para curar, que precisamos dum campo seguro, só nosso, uma zona de pura irmandade, de perfeita compreensão, aceitação, cumplicidade para nos curarmos umas às outras, para nos sentirmos mais fortes, consideradas e respeitadas. Curarmo-nos a nós próprias significa admirarmo-nos e amarmo-nos umas às outras por aquilo que somos, fazermos as coisas por nós mesmas, sentir que somos capazes, já que durante milhares de anos fomos consideradas incapazes.


É por isso que a Conferência da Deusa, por exemplo, é um acontecimento tão fantástico. É-o não apenas por aquilo que lá acontece, que é excelente, mas sobretudo porque tudo é concebido por e para as mulheres. Nós precisamos de experienciar o nosso próprio poder, a nossa força, talento, criatividade, apresentar ao mundo a nossa própria visão, dar a cara por aquilo que acreditamos estar certo, demarcarmo-nos duma maneira masculina de fazer as coisas. Nós mulheres que fomos e ainda somos tantas vezes consideradas menos, pouco mais autónomas do que crianças, sem direito a exprimirmos a nossa maneira própria de ver as coisas, silenciadas pelo sarcasmo masculino e a sua “superioridade” a nível do raciocínio lógico, precisamos de agir neste mundo por nós próprias. Precisamos de aprender como é e a exprimir a nossa própria natureza num ambiente seguro.

Os homens que claramente entendam isto e solidariamente permaneçam ao nosso lado, colocando a sua força e os seus talentos ao serviço do Feminino, sabendo o que está em causa, sentindo-se suficientemente seguros para não nos retirarem a energia de que precisam, como habitualmente fazem das mais variadas maneiras, esses homens são bem-vindos, e há vários no caminho da Deusa. Como os antigos cavaleiros, eles precisam de se render à sua Dama, a sua Alma, a sua parte feminina; e a Alma vai à frente, está primeiro. É a Alma que mostra o caminho.

Luiza Frazão 

Imagens: Herman Smorenburg. 
Glastonbury Goddess Conference

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O PRIMEIRO PASSO PARA HARMONIZAR O FEMININO É RECUPERAR AS NOSSAS ÁGUAS


Redescobrindo o princípio do divino feminino na água


Nos tempos atuais, quase se perdeu a consciência de que a água é a manifestação do Feminino no nosso planeta. E não é por acaso que numa cultura patriarcal e machista, onde o divino feminino é tão desrespeitado, as águas, justamente, estão tão poluídas e são cada vez mais escassas.
É a interessante reflexão que faz Kathi von Koerber, dançarina/curandeira e diretora de cinema, que vive na Alemanha e África do Sul.

“Estamos vivendo uma época em que nos damos conta de que durante séculos o valor real da água como a verdadeira forma do feminino foi negligenciado. Por milénios a humanidade reverenciou o elemento fogo, o filho do Sol. O fogo é uma manifestação do masculino no planeta Terra, e a água é o aspecto feminino. Na nossa história, fogo significou riqueza, potencial, capacidade de forjar ouro, massacrar e queimar impérios, conquistar territórios, cruzadas e caça às bruxas; e continua a ser usado como elemento de impacto e poder. Desta maneira, civilizações imperiais governaram com desdém pelo equilíbrio entre os elementos água e fogo. Este último, como relativo ao Sol no planeta Terra, tornou-se a celebrada força do elemento masculino de força e poder, e as águas, elemento feminino, lenta mas consistentemente foram depreciadas e poluídas.
Hoje as nossas águas estão em estado de profunda crise e nós human@s refletimos esse estado em nós mesm@s. Sem dúvida o ciclo da vida está a ser desafiado enquanto o aquecimento global acelera, barragens estão a interferindo com o fluxo da natureza e até mesmo o rio Amazonas está experimentando secas.

Igualmente, a saúde e o bem-estar interior da humanidade está experimentando pobreza espiritual e existencial. Desordens mundiais como a ansiedade, depressão, esquizofrenia, insónia, vícios e personalidades maníacas são resultado da crise interior. Desordens femininas como a TPM extrema, fibrose, cancro de útero, infertilidade e cancro da mama são apenas alguns exemplos que refletem a luta do sexo feminino para encontrar equilíbrio e saúde num mundo moderno afastado da natureza. Esta crise é resultado da falta de harmonia entre @s human@s; homens, mulheres e a sua relação mútua e consigo mesmos, a natureza e os elementos. E mais especificamente o desequilíbrio da água e do fogo nas nossas vidas.



Como passámos a compreender nas últimas décadas, a água é fundamental para a nossa sobrevivência futura. Mais do que nunca imaginámos. Como habitantes da Terra, nós entramos numa época onde precisamos de dar prioridade e de reverenciar mais a terra e os seus habitantes femininos para nos reequilibrar e harmonizar.

O princípio do feminino no planeta Terra pode ser encontrado no fluxo das águas. Os lagos, rios, tudo o que flui, acumula, nutre e eventualmente origina o oceano. Nos textos Védicos é dito que existem sete tipos de águas: nascentes, corredoras, rios, lagoas, lagos, aquíferos e o mar. Por exemplo, os lagos e lagoas representam o ventre, os rios e as cachoeiras a fertilidade e virilidade das águas e os oceanos representam o líquido amniótico. Os mares e oceanos são conhecidos em muitas tradições com a mãe das águas, também conhecido no Brasil como Yemanjá.




O elemento água é o sangue do nosso planeta, os rios são as veias da Terra e por natureza, as mulheres cuidam e abençoam a água. O princípio feminino é nutrir, manter seguro, como a mãe segurando e alimentando seu bebé. Ao nutrir o seu ventre, as suas crianças, as mulheres efetivamente nutrem as águas e a si mesmas. Portanto, as mulheres têm a responsabilidade de agir como guardiãs das águas. Toda água que flui traz a marca da nutrição, da mãe e da cuidadora.


A natureza do feminino é muito similar a um cristal. Cristais são condutores de energia, assim como as mulheres. Mulheres são geralmente mais sensíveis que homens, elas absorvem e transformam a energia, como uma mãe que cuida de seu filho com leite do seio. Da mesma maneira, pensamentos e emoções são absorvidos e armazenados nos nossos corpos através das nossas águas, como o nosso sangue que leva nutrientes para as células e órgãos. A água é um condutor e portanto precisamos de tomar cuidado com os pensamentos que colocamos na água pois ela pode absorvê-los. Quando absorvem e não libertam, as nossas águas podem ficar fisicamente desequilibradas, resultando em desarmonia ou doença. Então, para reestabelecer a harmonia, é preciso aprender a equilibrar as emoções e estar consciente de que estamos poluindo as nossas águas interiores com pensamentos negativos.

É o entendimento de que precisamos de participar ativamente dos ciclos da vida e não nos considerarmos separad@s da natureza. Para cada recebimento há uma retribuição. Assim como há um negativo, há um positivo, como uma bateria. Para cada recebimento de água há uma oferta. Para cada emoção há um ato de harmonização e limpeza. Como na natureza, para cada noite há um dia, enquanto o Sol e a Lua vivem harmoniosamente, as energias do fogo e da água podem novamente se realinhar.


Então para cada gole de água que sacia a nossa sede e limpa os nossos corpos, deve haver um ato recíproco. Um ato de devolver é um agradecimento em uma tentativa de harmonização das nossas águas internas e externas. Pensando positivamente quando cozinhamos, ou quando movemos as nossas águas internas através da dança, ou ao cantarmos e vibrarmos durante o banho. Compreender que toda a água que usamos foi usada pelos nossos ancestrais e será usada pelos nossos filhos e que portanto devemos honrar a linhagem e a continuidade da vida.
Com o tempo podemos reintegrar o ciclo da água nas nossas vidas, seja através de um estilo de vida sustentável, coletando as águas cinzas ou sabendo de onde vem a nossa água potável. Assim, o nosso conhecimento torna-se mais consciente do design sagrado da vida e das leis da natureza. Para homens e mulheres poderem também compreender que a cozinha, para uma mulher, é o ponto central da família e o altar vivo do equilíbrio alquímico da água e do fogo.

Não Podemos viver sem água. Água é vida, água dá vida e água tira vida.
Estamos vivendo no limiar da maior crise que a humanidade já vivenciou, que é a falta de água fresca e limpa. Portanto é extremamente importante como iremos tratar a água interna e externa. Uma crise planetária da água revela-se de três formas: água contaminada, falta de água e excesso de água. Nos nossos corpos, a água poluída manifesta-se como raiva, falta de água relaciona-se com tristeza e o excesso de água é o ciúme e ganância, todos levando a tormentos e desequilíbrio. Para quaisquer formas de turbulência sobre a água que falemos, o antídoto são a oração e as boas ações.

As mulheres foram abençoadas com o presente da auto-limpeza na forma de nosso ciclo menstrual. Assim como a terra tem os seus ciclos, os sistemas reprodutivos da mulher e o ciclo menstrual são um mecanismo de limpeza sintonizado com a lua. A lua é a guardiã do feminino que alinha as águas femininas e a menstruação aos ciclos do cosmos. Assim como a água se limpa a si mesma por osmose, evaporação, precipitação e filtragem durante a sedimentação, as mulheres libertam e transformam toxinas acumuladas, energias estagnadas e emoções através da menstruação. A menstruação é uma maneira do corpo e da mente se limparem para toda a família, pois a mulher é a peça central da família, pois é a que dá a luz e nutre. A menstruação foi suprimida pela sociedade ao ponto das pessoas tentarem escondê-la, fingir que não está acontecendo e ignorando-a. Todos os sintomas da TPM, ou saúde debilitada em torno da menstruação ou dos sistemas reprodutivos são claras indicações de alguma sorte de desarmonia espiritual ou física. Os ciclos naturais nunca deveriam ser considerados como certezas; o mesmo vale para o sistema menstrual da mulher.


O ciclo natural da mulher é um método altamente avançado para as mulheres se reconectarem à terra e limparem o seu ser interior. As mulheres precisam de aprender a honrar esse momento sagrado e serem apoiadas pelo seu entorno neste feito. Devolver o sangue menstrual como matéria fértil para o solo é uma prática ancestral, contrastante com o conveniente descarte na descarga do banheiro. A verdadeira reza da mulher para devolver seu sangue menstrual para a terra, através do uso do moderno e conveniente coletor de silicone (mooncupe) fortalece a comunicação direta com a terra e o eu interior da mulher. Isso permite que as mulheres novamente se tornem as suas próprias curandeiras e revigora a relação deteriorada com o planeta Terra. As emoções ficam ancoradas ao solo e não na água. Quando o sangue menstrual é depositado na água, a água se torna mais volátil com emoções e toxicidade. Mesmo a água sendo reciclada muitas vezes, nós beberemos esta volatilidade e será difícil equilibrar mente, espírito e a harmonia masculino/feminino no planeta.

O elemento terra tem a habilidade de acalmar as águas.


O primeiro passo para harmonizar o papel do divino feminino é recuperar as nossas águas. Como humanidade, temos de reclamar as nossas águas. Numa jornada interior para curar e garantir águas tranquilas é importante integrar a si mesmo nos ciclos naturais das leis do universo. Num nível ambiental é importante estar Ségur@ de onde vem a nossa água potável, como foi tratada e para onde fluirá depois. É a responsabilidade pessoal com a saúde interior e sua manutenção, para que então possamos ser úteis na preservação e continuidade da comunidade. A oração no dia-a-dia, significa balancear as águas internas e externas permitindo a nós mesmas honrar e ouvir a fluidez das águas femininas."

Kathi von Koerber é uma bailarina/curandeira e diretora de cinema da Alemanha/África do Sul. Conviveu com idosos das tribos Bushmen no sul da África do Sul, os Tuareg no Saara, a princesa da Iboga no Gabão, Bernardette Riebenot, Lakota, Navajo e Cherokee nos EUA, Xawante e Fulnio no Brasil e os Camsra e Kogi na Colômbia. Kathi ensina dança e faz apresentações internacionais há 15 anos, e dedica a sua vida para preservar a sabedoria indígena e praticar rituais como elementos chave na evolução humana e iniciação na vida adulta.

Kathi fundou a Kiahkeya em 2004 com o objetivo de informar e disseminar a arte, criatividade e espiritualidade com o propósito da tolerância e igualdade cultural e ambiental.

Vários projetos incluem filmes sobre a tribo Bushmen na África do Sul, o filme “Footsteps in Africa” sobre a música, dança e capacidade de sobrevivência dos nómadas Tamakesh no Saara e um filme ambiental de dança Butoh feito nas geleiras do Alaska, que ela atualmente está editando.
O projeto mais recente de Kathi é um filme sobre os poderes místicos da água chamado “Moving Waters”. Kiahkeya também produz workshops interculturais, incluindo dança, medicina sagrada com plantas medicinais, rezas de diferentes tradições, treino em liderança selvagem e vida sustentável.
www.kiahkeya.com
www.imovewater.net

http://plantandoconsciencia.wordpress.com/2010/12/03/redescobrindo-o-principio-do-divino-feminino-na-agua/
Colaboração: Vanessa Reis
Imagens: recolhidas este fim de semana: poços antigos no meio de vinhas semi-abandonadas.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

UMA CONTRARREVOLUÇÃO SEXUAL

"Afirmou Ernest Borneman que o surgimento do patriarcado foi uma contrarrevolução sexual, na qual se perderam os hábitos sexuais das mulheres (désaccoutumance sexuelle, na versão francesa da obra); que as mulheres só puderam ser subjugadas despojando-as da sua sexualidade, o que é consistente com os mitos originais dos heróis solares e santos, que matam o dragão, a serpente e o touro. O rasto destes hábitos sexuais, que nos chegam através da arte e da literatura, é muito importante porque nos dá uma ideia do que se destruiu com a contrarrevolução sexual.

Um lugar-comum dos hábitos perdidos são os círculos femininos e danças do ventre universalmente encontradas por todo o lado, desde os tempos mais remotos (pinturas paleolíticas como as de Cogull (Lérida) e Cieza (Múrcia), cerâmica Cucuteni do 5.º milénio a C., arte minoica, etc.), que nos falam duma sexualidade autoerótica e partilhada entre mulheres, de todas as idades, desde a infância. Entre os testemunhos escritos, cito os versos de Gongora sobre as mulheres que habitavam as nossas serranias ainda no séc. XVI, e que se reuniam para bailar:

En los pinares de Júcar
Vi bailar unas serranas,
Al son del agua en las piedras
Y al son del viento en las ramas.

No es blanco coro de ninfas
De las que aposentan el agua
O las que venera el bosque,
Seguidoras de Diana:
Serranas eran de Cuenca,
Honor de aquella montaña,
Cuyo pie besan dos ríos
Por besar de ellas las plantas.

Alegres corros tejían,
Dándose las manos blancas
De amistad, quizá temiendo
No la truequen las mudanzas.
¡Qué bien bailan las serranas!
¡Qué bien bailan!
(…)


As Serranas, como as chamadas Amazonas em outros lugares do mundo, eram mulheres que iam viver para o monte para preservarem os seus hábitos sexuais. Durante séculos, e com ligação a redutos do antigo paganismo, sobreviveram entre a cumplicidade e a calúnia (como a do Romance de Serra da Vera, que apresenta estas mulheres como salteadoras que sequestravam homens para saciarem a sua lascívia, matando-os em seguida). No entanto, a realidade podia mais do que qualquer deformação, calúnia e mitologia juntas, e a sua existência contaminava a das outras mulheres que abandonavam as aldeias pela calada da noite para se juntarem a elas.


No séc. XVII, desencadeou-se, como se sabe, uma campanha de extermínio contra estas mulheres, que passaram à história convertidas em bruxas. A natureza sexual dos jogos e círculos femininos foi também estudada a partir das letras das suas canções que chegaram até nós (1). O hábito quotidiano das mulheres se juntarem “para bailar”, e para se banharem, é ancestral e universal, e dá-nos um vislumbre do espaço coletivo de mulheres impregnado de cumplicidade e baseado na intimidade natural entre mulheres, que hoje apenas prevalece em recônditos lugares do mundo. Em África, existem aldeias onde as mulheres ainda se reúnem à noite para dançar (bailes claramente sexuais, como se pode ver numa reportagem do Sudão (2). A imagem das mulheres do quadro “o Jardim das Hespérides”, de FredericK Leighton (séc. XIX) é outro vestígio dessa relação de cumplicidade e de intimidade entre mulheres.

Os hábitos sexuais das mulheres remetem-nos para a sexualidade não falocêntrica das mulheres; para a diversidade da sexualidade feminina, e a sua continuidade entre cada ciclo, entre uma etapa e outra. Uma sexualidade diversa e que se diversifica ao longo da vida, cujo cultivo e cultura perdemos. (…) Vivemos num ambiente em que o sistema libidinal humano, desenhado filogeneticamente para travar relações humanas, está congelado. Hoje as mães vivem longe das suas filhas e as avós vão de visita a casa d@s net@s; a pessoa de família que nos dá a mão quando adoecemos vive no outro extremo da cidade, e mal conhecemos o vizinho ou a vizinha" (…)

Cacilda Rodrigañez Bustos

domingo, 6 de maio de 2012

O LUGAR DA MÃE - A RECUPERAÇÃO DA MÃE É A RECUPERAÇÃO DO FEMININO COLETIVO


A MÃE COMO ELEMENTO DETERMINANTE DA SOCIEDADE

“Recuperar a mãe verdadeira pressupõe então recuperar o coletivo de mulheres e a sua função coletiva dentro dum determinado grupo social. A recuperação da mãe não é uma recuperação individual (embora tenha uma dimensão individual e corporal), mas a recuperação do feminino coletivo, de todas nós.”

“Com a frase “Dai-me outras mães e eu vos darei outro mundo”, Santo Agostinho revelava o ponto débil do seu projeto de sociedade e a necessidade que tinham de transformar duma vez por todas as mães. Transformar as mães para vencer a natureza humana e a sua predisposição para se organizar e viver como o fez durante muito tempo, sem dominação nem escravatura, em paz e em cooperação (a arqueologia já afastou qualquer dúvida a este respeito, provando que a Idade de Ouro não é um mito mas uma realidade).

Novas mães para reproduzirem os “filia” continuadores das empresas guerreiras, humanos aptos para fazerem a guerra ou para aceitarem tornar-se escravos. Não se podia criar este mundo sem mudar a mãe. A sociedade patriarcal foi erguida sobre um matricídio, acabando com as gerações de mulheres com cujo desaparecimento se sumiu também a paz sobre a Terra (Bachofen). É esta a civilização que perdura ainda hoje, continuando a destruir a vida e a corromper a condição humana, mais competitiva, mais fratricida, mais belicista e mais desapiedada que nunca. Do meu ponto de vista, não é a economia que está em crise, é o modelo de civilização.

Na encruzilhada na qual a humanidade se encontra, o que precisamos de fazer se queremos acabar com este sistema de dominação e sobreviver é recuperar a verdadeira mãe, e com ela as qualidades básicas dos seres humanos, que nos capacitam para a concórdia e nos incapacitam para o fratricídio. Recuperar a mãe verdadeira é recuperar o habitat que a rodeia. Bachofen criou um termo em alemão para o definir: é o Muttertum, sendo que o sufixo “tum” (equivalente ao “dom” em inglês) significa o sítio, o lugar da mãe.

Não se trata apenas dum espaço físico, mas antes dum conjunto de relações travadas com o seu fluxo libidinal específico, o fluido feminino-materno, o hálito materno, porque a produção do nosso sistema orgânico libidinal, desenhado para organizar as relações humanas, é a matéria-prima do tecido social humano original. O Muttertum é assim como a urdidura da tela social, como lhe chamou na sua preciosa metáfora Martha Moia: um conjunto de fios, porque um fio sozinho não consegue fazer a urdidura.

Recuperar a mãe verdadeira pressupõe então recuperar o coletivo de mulheres e a sua função coletiva dentro dum determinado grupo social. A recuperação da mãe não é uma recuperação individual (embora tenha uma dimensão individual e corporal), mas a recuperação do feminino coletivo, de todas nós. Segundo Malinowski, as mulheres trobriandesas dum clã (in The Sexual Life of Savages in the Western Melanesia) tinham um nome coletivo, “tábula”, a “tábula” é que se ocupava do parto das mulheres do clã.

Em castelhano há uma aceção do nome "mãe" que é um vestígio dessa mãe ancestral, que se encontra na expressão "salirse de madre", "sair da mãe", que seria sair do Muttertum, que nos faz amadurecer e nos torna consistentes. Há também uma aceção em que a palavra significa "fonte originária de algo" ("a mãe do vinagre", por exemplo), ou como a raiz de algo, quando dizemos que encontrámos a "mãe do cordeiro". Se um rio sai da "madre", tudo se inunda e é o desastre. Pois assim anda a humanidade, "fora da mãe", em permanente estado de esquizofrenia e cada vez com mais ataques de violência..."

Cacilda Rodrigañez Bustos

Poderá continuar a ler aqui



quarta-feira, 25 de abril de 2012

A LINGUAGEM DA DEUSA



“A minha tese é que a linguagem do mito poético, corrente na Antiguidade na Europa mediterrânica e setentrional, era uma linguagem mágica vinculada a cerimónias
religiosas populares em honra da deusa da Lua, ou Musa, algumas das quais datam da época paleolítica, e que esta continua a ser a linguagem da verdadeira poesia, «verdadeira» no moderno sentido nostálgico de  «o original inmelhorável e não um substituto sintético”. Essa linguagem foi corrompida no final do período minoico quando invasores procedentes da Ásia Central começaram a substituir las instituições
matrilineares pelas patrilineares e remodelaram ou falsificaram os mitos para justificar as mudanças sociais. 

Em seguida vieram os primeiros filósofos gregos, que se opunham firmemente à poesia mágica porque ameaçava a sua nova religião da lógica, e sob a sua influência criou-se uma linguagem poética racional (a que agora se chama clássica) em honra do seu patrono Apolo, e impuseram-na ao mundo como a última palavra em iluminação espiritual: opinião que predominou praticamente desde então nas escolas e universidades europeias, onde agora se estudam os mitos unicamente como relíquias arcaicas da era infantil da humanidade. 

Uma das repudiações mais intransigentes da mitologia grega primitiva foi feita por Sócrates. Os mitos assustavam-no e desagradavam-lhe; preferia voltar-lhes as costas e
disciplinar a sua inteligência para pensar cientificamente: «para investigar a razão da existência de tudo, de tudo tal como é, não como parece, e para refutar todas as
opiniões que não se podem explicar».

Robert Graves, A Deusa Branca (traduzido por mim da versão espanhola)

 A DEUSA BRANCA (SINOPSE)

Ao defender suas ideias, Graves empreendeu esta obra singular que constitui uma gramática histórica do mito poético. O escritor argentino Jorge Luis Borges sempre consultava A Deusa Branca, que foi publicado pela primeira vez em 1948. Trata-se de um texto fundamental para a teoria da literatura, mas igualmente importante para a história das religiões, bem como para toda a pessoa que quiser reconsiderar as suas certezas mitológicas ocidentais, cristãs ou não, à luz de uma reflexão erudita e independente. 

Com efeito, é também indispensável para aquel@s que se interessam pelo renascimento da religião da Deusa, por Wicca, por esoterismo e por simbolismo. O autor age como um arqueólogo de crenças e restaura os rudimentos perdidos e os princípios ativos da magia que governa os poetas.

 A sua argumentação parte de um acurado exame de dois poemas galeses do século XIII, nos quais ele encontra as chaves, genialmente ocultas, desse antigo mistério. Robert Graves traz à baila diversos tópicos: as raízes da chamada Tradição Hiperboreal, o cerne da cultura celta; a história evolutiva do alfabeto fonético ocidental; o percurso das principais rotas migratórias durante a Idade do Bronze, na bacia mediterrânea e no continente europeu ocidental; o arcaico culto da Deusa, das origens paleolíticas até ao mundo mariano do cristianismo, passando pela mitologia grega e pela bruxaria medieval; o segredo do número da Besta, o 666; a revelação do secretíssimo Nome do Deus de Israel; além de muitas outras joias preciosas. A sua leitura estimula uma reintegração de diversas tradições mitológicas. 

As teologias monoteístas, que exprimem as crenças judaicas, cristãs e muçulmanas, sempre difundiram uma pretensa rutura radical entre elas e o mundo pagão. Robert Graves reencontra os liames que unem as tradições mitológicas com a elaboração semita das escrituras bíblicas.

Fonte: Editora Record, Brasil (adaptado)


segunda-feira, 2 de abril de 2012

A DEUSA NO CORAÇÃO DA MULHER


A DEUSA NO CORAÇÃO DA MULHER
Curso de 10 semanas sobre Arquétipos do Feminino

Início a 18 de abril 2012, 20:30 às 22:30, espaço Quantum, Rio Maior

“ELA é o autêntico poder da essência feminina do Universo. É ao mesmo tempo uma expressão do que sabemos acerca do mundo humano e um poder muito além da nossa capacidade de expressão.” Patricia Monaghan
Para Carl Jung, arquétipos são padrões de energia, formas nas quais se exprimem naturalmente as forças do Universo. A Psicologia Arquetípica compreendeu que as características das deusas das antigas culturas, como a grega e a romana, entre muitas outras, correspondiam a qualidades da psique feminina.
Tomar consciência da sua força e do seu poder, e equilibrar essas qualidades na nossa alma e na nossa vida, é a proposta deste curso.
Seguir a via dos Arquétipos é descobrir a extraordinária riqueza do Feminino, um manancial de possibilidades que permitem a nossa expressão mais natural e abrem uma libertadora via de expansão e crescimento.
É ainda mergulhar num universo de beleza e de significado, repondo um equilíbrio que se perdeu num mundo excessivamente masculinizado como aquele em que vivemos.
Honrar e celebrar as Deusas é celebrar a vida e os seus ciclos de nascimento e de morte, de ganho e de perda, de luz e de sombra; é sentir que o tempo joga a nosso favor, e que honramos a Vida sempre que aceitamos ser nós mesmas, inteiras e autênticas.

Neste workshop vamos sentir-nos Mulheres completas, com a nossa alegria e a nossa dor, a nossa força e a nossa vulnerabilidade, sabendo que tudo está certo e é necessário e faz parte da Vida. Vamos sentir-nos unas e solidárias umas com as outras, oferecendo-nos mutuamente um colo de confiança e de aceitação, sabendo que a cura começa pela nossa aceitação incondicional do ser Mulher e do Feminino em nós.
A dinâmica do grupo, ao longo das 10 semanas, ajudará cada uma na sua experiência de descoberta tanto das feridas do Feminino como do seu poder profundamente curador e sustentador da vida.

Técnicas de relaxamento, meditação induzida, visualização criativa, auto-expressão e partilha, permitirão um trabalho profundo com a mente e com as emoções, bem como resgatar a consciência e o uso do nosso poder pessoal, encontrando um novo propósito, motivação e renovada vitalidade.

“Grupos conduzidos por e para mulheres são o nosso refúgio psíquico; o nosso local para descobrirmos quem somos ou em quem nos podemos tornar como seres integrais e independentes.” Gloria Steine

Arquétipos com que trabalharemos: DEMÉTER, PERSÉFONE, ÁRTEMIS, HÉSTIA, HERA, ATHENA, HÉCATE, AFRODITE, GAIA, BRIGID, SOPHIA, KALI

quinta-feira, 29 de março de 2012

Sobre Luiza Frazão




Sacerdotisa de Avalon e de Rhiannon, formada pelo Templo da Deusa de Glastonbury, Reino Unido, e Sacerdotisa do Jardim das Hespérides. Licenciada em Línguas e Literaturas pela Universidade Nova de Lisboa, com formação no Método Louise Hay de Desenvolvimento Pessoal, em Programação Neurolinguística, Constelações Familiares, Astrologia e largos anos de experiência em Desenvolvimento Pessoal e Espiritual. Depois de intensa pesquisa na tradição céltica do nosso território, integrado na cultura do Arco Atlântico, reivindica para Portugal a dimensão do Jardim das Hespérides, a nossa dimensão da Deusa. Impulsionada e inspirada pelo seu treino de sacerdotisa de Avalon, e por intensa pesquisa no nosso território, criou uma Roda do Ano e um Templo, de que é Guardiã: a Roda do Ano e o Templo da Deusa do Jardim das Hespérides, localizado em Óbidos.  
Cerimonialista, pesquisadora, facilitadora de Círculos de Mulheres, formadora de Sacerdotisas da Deusa, co-fundadora  e anfitriã da Conferência da Deusa Portugal e autora da obra A Deusa do Jardim das Hespérides: Desvelando a Dimensão 
Encoberta do Sagrado Feminino em 
Portugal.




À direita na imagem, na Conferência da Deusa Portugal 2019,  em Sintra, com Kathy Jones