Este é o momento do ano em que o
ciclo da vida termina, tudo o que a terra produziu já foi colhido e armazenado, o grão, os frutos, os vegetais (resta-nos a azeitona, a nós, mas está quase...!). Tudo o que resta vai agora ser cortado rente pela
foice da morte da Anciã e retornar ao útero da Mãe Terra para aí ser transformado.
O caldeirão simboliza esse útero da Mãe onde tudo é recriado para voltar a
nascer. Na natureza, vão acontecer processos de decomposição, de putrefação, de transmutação;
pétalas, folhagem, galhos secos transformar-se-ão em húmus suculento, enquanto
das sementes nova vida germinará para que o ciclo recomece. O tempo circular, o
tempo da Deusa.
Este é o momento da hibernação,
quando a vida se recolhe para o interior da terra, quando a nós humanos também
apetece ficar em recolhimento no interior das nossas casas, no aconchego do
calor da lareira, honrando esta época de introspeção, de avaliação daquilo que
na nossa vida também precisa de morrer, de ser transformado. Momento ainda de confronto com a Sombra... Quando aceitamos
fluir com a Vida, com a Natureza, quando compreendemos que dela fazemos parte
enquanto criações da Deusa, aprendemos a aceitar, respeitar, valorizar, honrar
e celebrar o processo da morte. Sabemos que somos energia eterna, que como
dizia Lavoisier, na Natureza nada se perde, tudo se transforma e que por isso
também nós estamos envolvidas e envolvidos neste ciclo de morte e renascimento.
Assim aquelas e aqueles que nos precederam, que continuam a viver noutra
dimensão, e a quem naturalmente na nossa cultura nós recordamos e honramos
neste momento do ano.
Pessoalmente, gosto de ir ao cemitério visitar o túmulo
da minha mãe, do meu pai, das minhas avós e avôs, das tias e dos tios já
falecidos. Levo-lhes flores e uma prece de gratidão pela herança que me
legaram. No meu altar coloco um bolo para elas e para eles, aquilo a que agora
chamamos bolo dos santos, herança
duma tradição muito antiga, pagã, que como tantas outras o cristianismo teve de
assimilar para conseguir impor-se e dominar enquanto religião. É óbvio que elas
e eles não irão comer esse bolo de uma forma física, mas a energia amorosa que
foi colocada na sua confeção e na intenção desta oferenda tocará a energia que
são agora, e sempre foram, e que conecta os nossos corações.
Neste festival honremos a Deusa
Anciã, a Deusa Negra do Mundo de Baixo e peçamos-lhe que nos ajuda a transmutar dentro do Seu caldeirão ou na fogueira que Lhe acendemos, aquilo que não queremos mais na nossa vida.
E depois celebremos a Vida com
muita alegria!
©Maria Luiza Oliveira Frazão
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