De 1975... mas nunca publicado em Portugal - uma das bíblias do Movimento da
Deusa…
THE GREAT
COSMIC MOTHER, Rediscovering the Religion of the Earth
(Data da 1.ª edição: Dezembro de 1975)
Monica Sjöö & Barbara Mor
O Primeiro Sexo: “No princípio tod@s fomos criad@s fêmeas”
No princípio era… um oceano feminino. Durante 2 billiões e
meio de anos, todas as formas de vida terrestres flutuavam numa espécie de
grande útero oceânico, alimentadas e protegidas pelos seus fluidos químicos, embaladas
pelo ritmo lunar das marés. Charles Darwin acreditava que o ciclo menstrual
teve aqui a sua origem, um eco orgânico do pulsar do oceano ao ritmo da lua. E,
por causa deste longo período em que a vida na terra foi dominada por formas
marinhas reproduzindo-se por partenogénese, ele concluiu que o princípio
feminino é primordial. No princípio, a vida não foi gestada no interior do
corpo de nenhuma criatura, mas sim dentro do útero oceânico que continha toda a
vida orgânica. Não havia órgãos sexuais diferenciados, mas tão-somente uma
existência feminina generalizada que se reproduzia a si mesma dentro do corpo
feminino do mar*.
Antes que formas de vida mais complexas se pudessem
desenvolver e viver em terra firme, foi necessário minimizar o ambiente
oceânico, reproduzi-lo numa escala ínfima e móbil. Ovos frágeis e húmidos
depositados na terra seca e expostos aos elementos não poderiam sobreviver, a
vida não poderia mover-se para lá do aquoso estádio anfibiano. No decurso da
evolução, o oceano – o espaço protetor e nutridor, os fluidos amnióticos, e até
o ritmo lunar das marés – foi transferido para o interior do corpo da fêmea.
O pénis, um dispositivo mecânico para a reprodução em ambiente terrestre, começou
então a desenvolver-se.
O pénis surge primeiro na Idade dos Répteis, há cerca de 200
milhões de anos. A associação arquetípica entre o pénis e a serpente contém sem
dúvida essa memória genética.
Este recurso fundamental ocorre com frequência na natureza:
a vida é um ambiente feminino onde o macho aparece, muitas vezes
periodicamente, criado pela fêmea, para realizar tarefas altamente
especializadas relacionadas com a reprodução da espécie no sentido duma
evolução mais complexa. Daphnia, um crustáceo
de água doce, produz várias gerações de fêmeas por partenogénese: ela gera o
ovo e a sua polaridade masculina para produzir um complexo de genes de onde
resulta uma cria fêmea. Uma vez por ano, no final do ciclo anual, um grupo de
machos de curta duração são produzidos; os machos especializam-se na manufatura
de cascas de ovos com a resistência do couro capazes de sobreviver ao inverno. Entre
as abelhas, os zangãos são produzidos e regulados pelas crias fêmeas estéreis
da rainha fértil. Os zangãos existem para acasalar com a rainha. Uma média de
sete zangãos por enxame cumpre esse acto em cada estação, após o que todo o
grupo de machos é dizimado pelas abelhas operárias. Na América do Sudoeste,
quatro espécies de lagartos reproduzem-se por partenogénese; aí os machos são muitos
raros nas pradarias e planaltos.
Entre os mamíferos e mesmo na espécie humana, a partenogénese
não é tecnicamente impossível. Cada óvulo feminino contém uma polaridade
masculina com um conjunto completo de cromossomas; quando unificados, poderiam
criar um embrião do género feminino. Os quistos nos ovários são óvulos não
fertilizados que se unem à sua polaridade masculina, implantando-se nas paredes
dos ovários onde se começam a desenvolver.
Não quer isto dizer que o macho seja dispensável. A partenogénese
é um processo de clonagem. A reprodução sexual, que faz aumentar a variedade e
a saúde do conjunto dos genes, é necessária para o tipo de evolução complexa
que produziu a espécie humana. O ponto aqui é apenas demonstrar que no que se
refere aos dois sexos, um deles anda por cá há muito mais tempo do que o outro.
*The
First Sex: “In the Beginning We Were all Created Female”
Helen Diner, Mothers and Amazons (Nova Iorque: Doubleday/Anchor, 1973), 74. Diner refere-se à obra de Charles
Darwin Descent of Man, and Selection in
Relation to Sex, volume 1 (Nova Iorque: J. A. Hill and Co., 1904), 164-68;
Darwin acreditava que ambos os sexos, eram maternos na origem e que a próstata dos
homens seria um útero rudimentar.