Embora a iconografia ocidental considere
geralmente o sol como sendo do género masculino e a lua do género feminino, a
antiga tradição oriental fala do sol no feminino. Os clãs que governavam o antigo
Japão situam a sua origem na poderosa Deusa Solar, Omikami Amaterasu. Em 238
AD, as tribos japonesas eram governadas por uma rainha chamada Himiko, Filha do
Sol.
A Grande Mãe hindu tomou a forma
do sol enquanto deusa Aditi, mãe das doze Adityas zodiacais, espíritos cuja luz
era revelada no dia do Juízo Final. No Mahanirvanatantra
é dito que o sol era a indumentária da Grande Deusa: “O sol, o símbolo mais
glorioso no mundo físico, é a
indumentária daquela que está “vestida com o sol”. A mesma deusa, identificada
com Maria, aparece nos Evangelhos como a “mulher vestida de sol” (Revelação
12:1).
O Budismo Tântrico reconheceu um
precursor da Mari do Oriente Médio, ou Maria, como o sol. Na aurora, os seus monges
agradecem-lhe enquanto “a gloriosa, o sol da felicidade… Eu saúdo-te, ó Deusa
Marici! Abençoa-me e satisfaz os meus desejos. Protege-me, ó Deusa, de todos os
oito medos”.
Quando os japoneses reviram a sua
mitologia para adaptá-la às novas ideias patriarcais, a Deusa Marici foi
masculinizada e o facto dela ter sido um dia identificada com Omikami Amaterasu
foi esquecido. Havia no entanto uma estranha ambivalência envolvendo o “poderoso
deus” chamado Marici-deva ou Marici-ten. “Ele” era chamado protetor do sol,
aparecendo no entanto sempre vestido com a indumentária duma mulher chinesa,
indicando uma origem feminina com raízes a leste do Japão.
Entre os antigos árabes, o sol
era uma Deusa, Atthar, por vezes apelidada de Archote dos Deuses.
Os celtas tinham uma Deusa Sol
chamada Sulis, nome que vem de suil, que
significa ao mesmo tempo “olho” e “sol”. Os povos germânicos chamavam-lhe
Sunna. Para os noruegueses, ela era Sol. Na Escandinávia, era igualmente
conhecida como “Glória-dos-Elfos”, a Deusa que daria à luz uma filha depois do
juízo final, produzindo assim o sol da nova criação. Nos Eddas diz-se “uma filha
radiante a brilhante sol conceberá antes de ser engolida por Fenrir; e a
donzela trilhará o caminho de sua mãe quando os deuses consumarem a sua própria
desgraça”.
A Deusa Sol Sul, Sol, ou Sulis
era cultuada na Britânia na famosa colina artificial do complexo megalítico de
Avebury, conhecido atualmente como Silbury Hill. Aí ela pariu cada novo Éon,
que saiu do seu útero-túmulo, com mais de 130 pés de altura e mais de 500 de
diâmetro. “A influência da deusa britânica Sul estendeu-se a grande parte do
sudoeste de Inglaterra, e o seu culto parece ter tido praticado no alto de
montes com vista para nascentes. Assim, perto da nascente de Bath temos o monte isolado chamado
Solsbury, ou Salisbury, provavelmente o seu lugar de culto”. Em Bath, os
romanos identificaram Sul com Minerva e erigiram-lhe altares designando-a por
Sul Minerva”.
Barbara Walker, The Woman’s Encyclopedia of
Myths and Secrets, HarperSan Francisco, 1983