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terça-feira, 5 de julho de 2022

Mulheres Fiandeiras e Tecedeiras: Bruxas e Pagãs, por Max Dashu

 Uma Revisão

POR CAROL P. CHRIST

 

Witches and Pagans: Women in European Folk Religion 700-1000, de Max Dashu, desafia a suposição de que a Europa foi totalmente cristianizada em poucos séculos, como nos dizem os historiadores tradicionais. A maioria de nós aprendeu que, não apenas a Europa se tornou cristã muito rapidamente, como também que os europeus estavam mais do que dispostos a adotar uma nova religião que era “superior” ao “paganismo” em todos os sentidos. Leitoras/es cuidadosas/os do importante novo trabalho de Dashu serão desafiadas/os a rever os seus pontos de vista. Quando os 15 volumes completos da série projetada forem impressos, os historiadores podem ser forçados a baixar a cabeça de vergonha. Isso, claro, pressupõe que os estudiosos lerão o trabalho de Dashu. É mais provável que a ignorem, mas mais cedo ou mais tarde – atrevo-me a esperar – a verdade virá à tona.

A história foi escrita pelos vencedores – no caso da Europa por homens cristãos de elite. Esses homens podem ter querido acreditar que os seus pontos de vista eram amplamente aceites, mas Dashu sugere que não. Combinando registos artísticos e arqueológicos, Dashu descobre (para dar um exemplo) que imagens da Mãe Terra amamentando uma cobra estão longe de ser incomuns e podem até ser encontradas como ilustrações em documentos e monumentos cristãos. Os clérigos enfurecem-se contra as pessoas – principalmente as mulheres – que continuam a visitar poços sagrados e árvores sagradas e a praticar rituais de adivinhação e cura invocando poderes pagãos. Parafraseando Shakespeare: “Acho que o clérigo protesta demais”. Se essas coisas não acontecessem e não acontecessem com frequência, não haveria necessidade de condená-las. Usando estas pistas, Dashu fornece novas leituras intrigantes da coletânea de poemas Edda e das sagas nórdicas.

Ler este livro é como abrir uma caixa cheia de joias deixadas para nós por ancestrais que nem sabíamos que tínhamos. O grande número de factos e sugestões de factos é esmagador. A própria Dashu é a primeira a admitir que ainda não juntou todas as peças numa nova e abrangente história da Europa. Ainda assim, é difícil negar que, se o seu trabalho for levado a sério, é exatamente isso que os outros serão inspirados a fazer.

Para mim, a parte mais interessante deste livro são as novas informações sobre os rituais ligados à fiação e à tecelagem. Há muito sei que as mulheres foram responsáveis ​​por três invenções que marcaram a entrada da humanidade no Neolítico ou na Nova Idade da Pedra. Estas são a invenção da agricultura, a invenção da fiação e da tecelagem e a invenção da cerâmica cozida. Há muito entendo que essas invenções envolvem a descoberta de mistérios de transformação: sementes em plantas comestíveis; lã ou linho em fios e em tecidos; barro, pela ação do fogo, em potes resistentes.

Os primeiros trabalhos de Marija Gimbutas sobre as canções rituais de plantio e colheita das mulheres de sua terra natal, a Lituânia, demonstraram que as mulheres continuaram a transmitir os “segredos” da agricultura de geração em geração por milhares de anos. Embora eu estivesse ciente de que a invenção da tecelagem pelas mulheres era lembrada na tradição grega posterior das “Três Parcas”, não tinha uma imagem clara das mulheres transmitindo os “segredos” da fiação e tecelagem por meio de rituais e canções.

As mulheres fiam e tecem juntas, o seu trabalho emoldurado pelas árvores da vida.

Os primeiros capítulos de Bruxas e Pagãos preenchem essa lacuna. As nossas ancestrais europeias não apenas se sentaram e continuaram com o trabalho de fiação e tecelagem, como invocavam os poderes femininos – deusas, ancestrais e espíritos – quando começaram a girar e usaram as suas rocas (varas de madeira ou varas que seguravam o linho ou lã não fiado) como ferramentas de adivinhação e varinhas mágicas. (Aqui está uma ideia: por que não substituir as espadas e facas rituais por uma roca?) Os sacerdotes castigavam as mulheres por invocarem divindades não-cristãs enquanto teciam e por amarrar símbolos pagãos nos seus teares. Certa vez, enquanto observava um grupo de velhas gregas cardando lã, disseram-me que “as nossas mães” ensinaram-nos como fazer isso. Gostaria de ter-lhes perguntado se o ensino era por meio de música, mas com certeza que era.

Uma imagem mais clara começa a surgir: as mulheres preservaram mistérios antigos que celebravam os poderes femininos de criatividade enquanto realizavam as tarefas do quotidiano. Não foi tão fácil acabar com essas práticas, porque as mulheres entendiam que as suas canções e rituais eram essenciais para o florescimento contínuo da vida.

Obrigada, Max, pelo seu trabalho brilhante. Que ele mude a forma como vemos o mundo!


BIO: Carol P. Christ (1945-2021) foi uma escritora, ativista e educadora feminista e ecofeminista internacionalmente conhecida. O seu trabalho continua por meio da sua fundação sem fins lucrativos, o Instituto Ariadne para o Estudo do Mito e do Ritual.

Texto original:

https://feminismandreligion.com/2022/07/04/the-legacy-of-carol-p-christ-weaving-and-spinning-women-witches-and-pagans-by-max-dashu-a-review/

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