"(...)Na verdade, muito do que Inana simbolizava para os Sumérios foi exilado desde aquela época. Muitas das qualidades ostentadas pelas deusas do mundo superior foram dessacralizadas no Ocidente, assumidas por divindades masculinas e/ou extremamente comprimidas, idealizadas pelo código moral e estético do patriarcado. É por isso que a maioria das deusas gregas foram engolidas pelos seus pais e a deusa hebraica foi despotenciada. Restaram-nos apenas deusas minimizadas ou restritas apenas a determinados aspetos. E muitos dos poderes antes apresentados pela deusa perderam a conexão com a vida da mulher: o feminino apaixonadamente erótico e lúdico; o feminino multifacetado dotado de vontade própria, ambicioso, real.
Na verdade, AS MULHERES TÊM VIVIDO APENAS NO DOMÍNIO PESSOAL, na periferia da cultura do Ocidente, em funções fortemente circunscritas, frequentemente subordinadas a homens, posição social, filhos, etc., OCULTANDO A SUA NECESSIDADE DE PODER E PAIXÃO, vivendo em segurança e secundariamente na relação com nomes sobrecarregados, NOS QUAIS SE PROJETOU TODO O PODER QUE A CULTURA LEGITIMA PARA ELAS. O que então se tornou comportamento coletivamente aceite para as mulheres perdeu a conexão com o sagrado, ao mesmo tempo em que a estatura natural da deusa era reduzida. Tornou-se cada vez mais hipertrófico o superego patriarcal, originalmente necessário para inculcar a sensibilidade estética; a seguir, esse superego foi fortalecido pela Igreja Cristã institucional, com o fim de disciplinar as emoções tribais e selvagens do mundo medieval. A partir do Utilitarismo e do Vitorianismo, o superego comprimiu e regrediu tanto essas energias vitais, que agora elas têm de irromper, forçando, entre outras coisas, o retorno da deusa à cultura ocidental.”
Sylvia B. Perera, Caminho para a Iniciação Feminina
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