Hoje, escrevia isto, e quando parei um pouco e fui espreitar o Facebook, tinha precisamente um convite para aderir a um grupo intitulado LA SANACIÓN DE MEDEA!
Na verdade, aquilo de que nos falam estes mitos (Medeia e Lilith), é da derrota da
mulher face ao ataque do patriarcado, que conquistou e destruiu uma
organização social pacífica centrada na Mãe. É óbvio que isso só pôde ter acontecido no
meio de muita resistência, de muita luta e com muita dor, e estes mitos dão-nos
testemunho precisamente disso. Figuras míticas como Medeia e Lilith,
completamente denegridas e amaldiçoadas, são personagens duma história contada
pelo vencedor, que glorifica a sua própria ação de cruel destruição e morte e demoniza
episódios da violência eventualmente perpetrada por mulheres que lutaram com as
únicas armas de que dispunham, tentando resistir à terrível lei da espada e da
difamação que se abateu sobre elas.
Na verdade o que aconteceu, se quisermos
fazer justiça neste caso, foi que os patriarcas legitimaram o ato de destruir,
matar, saquear, dominar, perpetrado por eles, imbuindo-o de esplendor e de glória,
e diabolizaram outros, resultado do puro desespero de mulheres indefesas,
sozinhas e muitas vezes com descendência e ascendência a proteger, completamente
vulneráveis, projetando nelas a sua sombra, os seus piores medos e fantasmas, transformando-as
em perigosos alvos a abater, literal ou moralmente, pelo ridículo, o escárnio e
o opróbrio. A mulher, ser mais empático, mais suscetível às emoções, e por isso
mais vulnerável perante a frieza emocional do homem, aquela que divide o seu
coração pelas/os filhas/os, amantes, mãe e pai, posta agora à total mercê do
patriarca, do macho alfa, transformado em seu amo e senhor.
A verdade é que a nossa alma carrega essas memórias, que são parte do Corpo de Dor do
Feminino, que muitas vezes não queremos ver nem aceitar, recusando sentir a nossa vulnerabilidade. No entanto acredito que sem revisitarmos essa dor e sem ousarmos corajosamente recontar a hsitória desde outro ponto de vista nunca nos poderemos verdadeiramente curar nem a nós nem ao mundo.
©Luiza Frazão
Sem comentários:
Enviar um comentário