Fazendo uma retrospectiva histórica e mitológica do papel da mulher ao longo dos tempos, constatamos o seu papel milenar como mediadora entre os planos divino e humano. Desde os primórdios da humanidade, coube às mulheres a responsabilidade de perceber os avisos, os sinais e as manifestações sobrenaturais e transmiti-los à comunidade. Durante os 35 mil anos em que Deus foi mulher, as mulheres – as representantes da Deusa na Terra - foram respeitadas pelo seu poder de conceber e nutrir a vida e pela sua profunda conexão com os planos subtis.
As mulheres eram regidas pela Lua e a ela estavam conectadas por meio dos seus ciclos menstruais.
As mulheres eram regidas pela Lua e a ela estavam conectadas por meio dos seus ciclos menstruais.
Considerada uma representação da Deusa, a Lua era honrada pelas mulheres por meio de reuniões, na sua fase menstrual, nas quais se dedicavam à introspecção, ao silêncio, à cura e à conexão com o divino. Esse retiro visava não somente a renovação e o fortalecimento pessoal, mas era também uma oportunidade de trabalhar em benefício da comunidade.
A percepção subtil intrínseca à natureza feminina tornava-se muito mais ampla e aguçada durante a menstruação, permitindo às mulheres atravessarem mais facilmente os véus que separam os mundos. Ao retornarem do seu isolamento, as mulheres traziam mensagens e orientações dos ancestrais, dos seres da natureza e da Deusa, sendo assim reconhecidas e honradas como porta-vozes do além.
A percepção subtil intrínseca à natureza feminina tornava-se muito mais ampla e aguçada durante a menstruação, permitindo às mulheres atravessarem mais facilmente os véus que separam os mundos. Ao retornarem do seu isolamento, as mulheres traziam mensagens e orientações dos ancestrais, dos seres da natureza e da Deusa, sendo assim reconhecidas e honradas como porta-vozes do além.
Nas culturas matriarcais do período neolítico, a mulher continuava a desempenhar a sua função de intermediária entre o sagrado e o profano, fosse como sacerdotisa, profetisa ou visionária. Ao visitar lugares sagrados em Malta, Sicília, Creta e Grécia, pude comprovar in loco a existência de inúmeras câmaras oraculares, de nichos para sonhos incubatórios e de janelas especiais nas paredes dos inúmeros templos, onde a comunidade ia para ouvir a voz da Deusa manifestada nas suas sacerdotisas.
Localizado na Grécia, em Delphi, o mais famoso oráculo do mundo antigo era dedicado a Python, a grande serpente sagrada, filha partenogénica da Terra que personificava o espírito profético de Gaia. Lá, após rigorosas purificações e preparações, as sacerdotisas oraculares – chamadas pitonisas – entravam em transe e transmitiam as mensagens para tod@s aquelas e aqueles que as procuravam. Mesmo após a usurpação do templo pelos sacerdotes de Apollo, o oráculo continuou sendo atributo das sacerdotisas, pois Python transmitia os seus segredos apenas às mulheres.
Com o advento das sociedades patriarcais, as mulheres perderam os seus direitos, sendo dominadas, subjugadas e silenciadas. No Império Romano, as mulheres ainda desempenhavam funções sacerdotais, mas foram excluídas da vida social, não tendo permissão para estudar ou para falar em público. A educação era reservada apenas às cortesãs, para que pudessem entreter os homens com a sua erudição. O cristianismo, por meio dos seus dogmas, proscrições e proibições, marginalizou e aniquilou definitivamente os valores femininos, excluindo as mulheres do sacerdócio, relegando-as às funções procriadoras e ao serviço do lar, da família e da comunidade.
Por não ter sido criada à imagem e semelhança de Deus (mas da costela do homem), por ter tentado comer da Árvore do Conhecimento e por ter sido castigada com a expulsão do Paraíso, a mulher tornou-se a origem de todos os males infligidos à humanidade, a fonte do pecado, do mal e da luxúria. A consequência foi a sua total desconsideração, passando a ser julgada incapaz de pensar e proibida de falar. A repressão religiosa, familiar e social colocou vendas nos olhos e mordaças na boca das mulheres, que, outrora, representavam a origem da vida e a fonte da sabedoria.
Após os horrores da Inquisição, as mulheres levaram ainda alguns séculos para emergir da escuridão, até que, no início do século passado, conseguiram recuperar o direito de falar, trabalhar e votar. O século XX pode ser considerado a retificação dos dezanove séculos de opressão e silêncio forçado, facilitando a compreensão do movimento feminista como um pêndulo oscilando entre dois extremos.
Após os horrores da Inquisição, as mulheres levaram ainda alguns séculos para emergir da escuridão, até que, no início do século passado, conseguiram recuperar o direito de falar, trabalhar e votar. O século XX pode ser considerado a retificação dos dezanove séculos de opressão e silêncio forçado, facilitando a compreensão do movimento feminista como um pêndulo oscilando entre dois extremos.
Ávidas por expressão, as mulheres foram à luta na tentativa de recuperar o tempo perdido. Hoje ninguém mais duvida da sua capacidade, seja na área social, política, económica ou científica, seja na área literária, artística, terapêutica ou mística. Pagando o alto preço da jornada dupla ou tripla de trabalho, a mulher saiu do anonimato e está conquistando um lugar ao sol, competindo de igual para igual com os homens. E é neste ponto que o pêndulo perde o seu equilíbrio: as mulheres, ao assumir características que não são intrínsecas à sua natureza - imitando o comportamento e apropriando-se dos valores ou do linguajar masculino – exageram a sua auto-afirmação e querem ser ouvidas a qualquer custo.
Talvez por isso a mulher fale demais, esquecendo-se que somente no silêncio pode ser ouvida a sua voz interior; que a sua força não vem da agressividade ou da combatividade, mas sim da compreensão, da sensibilidade, da criatividade, da ponderação e da sabedoria. Por mais que o mundo exterior a solicite, pressione ou agrida, a mulher moderna precisa relembrar como se proteger e como se fortalecer, buscando dentro de si o seu verdadeiro eu, ouvindo a sua sabedoria inata e expressando, com convicção e competência, o seu potencial de maga: saber, querer, ousar... e calar.
http://sitioremanso.multiply.com/journal/item/19
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