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terça-feira, 14 de abril de 2015

A GRANDE MÃE CÓSMICA

De 1975... mas nunca publicado em Portugal - uma das bíblias do Movimento da Deusa…

THE GREAT COSMIC MOTHER, Rediscovering the Religion of the Earth
(Data da 1.ª edição: Dezembro de 1975)
Monica Sjöö & Barbara Mor

O Primeiro Sexo: “No princípio tod@s fomos criad@s fêmeas”

No princípio era… um oceano feminino. Durante 2 billiões e meio de anos, todas as formas de vida terrestres flutuavam numa espécie de grande útero oceânico, alimentadas e protegidas pelos seus fluidos químicos, embaladas pelo ritmo lunar das marés. Charles Darwin acreditava que o ciclo menstrual teve aqui a sua origem, um eco orgânico do pulsar do oceano ao ritmo da lua. E, por causa deste longo período em que a vida na terra foi dominada por formas marinhas reproduzindo-se por partenogénese, ele concluiu que o princípio feminino é primordial. No princípio, a vida não foi gestada no interior do corpo de nenhuma criatura, mas sim dentro do útero oceânico que continha toda a vida orgânica. Não havia órgãos sexuais diferenciados, mas tão-somente uma existência feminina generalizada que se reproduzia a si mesma dentro do corpo feminino do mar*.

Antes que formas de vida mais complexas se pudessem desenvolver e viver em terra firme, foi necessário minimizar o ambiente oceânico, reproduzi-lo numa escala ínfima e móbil. Ovos frágeis e húmidos depositados na terra seca e expostos aos elementos não poderiam sobreviver, a vida não poderia mover-se para lá do aquoso estádio anfibiano. No decurso da evolução, o oceano – o espaço protetor e nutridor, os fluidos amnióticos, e até o ritmo lunar das marés – foi transferido para o interior do corpo da fêmea. O pénis, um dispositivo mecânico para a reprodução em ambiente terrestre, começou então a desenvolver-se.

O pénis surge primeiro na Idade dos Répteis, há cerca de 200 milhões de anos. A associação arquetípica entre o pénis e a serpente contém sem dúvida essa memória genética.

Este recurso fundamental ocorre com frequência na natureza: a vida é um ambiente feminino onde o macho aparece, muitas vezes periodicamente, criado pela fêmea, para realizar tarefas altamente especializadas relacionadas com a reprodução da espécie no sentido duma evolução mais complexa. Daphnia, um crustáceo de água doce, produz várias gerações de fêmeas por partenogénese: ela gera o ovo e a sua polaridade masculina para produzir um complexo de genes de onde resulta uma cria fêmea. Uma vez por ano, no final do ciclo anual, um grupo de machos de curta duração são produzidos; os machos especializam-se na manufatura de cascas de ovos com a resistência do couro capazes de sobreviver ao inverno. Entre as abelhas, os zangãos são produzidos e regulados pelas crias fêmeas estéreis da rainha fértil. Os zangãos existem para acasalar com a rainha. Uma média de sete zangãos por enxame cumpre esse acto em cada estação, após o que todo o grupo de machos é dizimado pelas abelhas operárias. Na América do Sudoeste, quatro espécies de lagartos reproduzem-se por partenogénese; aí os machos são muitos raros nas pradarias e planaltos.

Entre os mamíferos e mesmo na espécie humana, a partenogénese não é tecnicamente impossível. Cada óvulo feminino contém uma polaridade masculina com um conjunto completo de cromossomas; quando unificados, poderiam criar um embrião do género feminino. Os quistos nos ovários são óvulos não fertilizados que se unem à sua polaridade masculina, implantando-se nas paredes dos ovários onde se começam a desenvolver.

Não quer isto dizer que o macho seja dispensável. A partenogénese é um processo de clonagem. A reprodução sexual, que faz aumentar a variedade e a saúde do conjunto dos genes, é necessária para o tipo de evolução complexa que produziu a espécie humana. O ponto aqui é apenas demonstrar que no que se refere aos dois sexos, um deles anda por cá há muito mais tempo do que o outro.

*The First Sex: “In the Beginning We Were all Created Female”

Helen Diner, Mothers and Amazons (Nova Iorque: Doubleday/Anchor, 1973), 74. Diner refere-se à obra de Charles Darwin Descent of Man, and Selection in Relation to Sex, volume 1 (Nova Iorque: J. A. Hill and Co., 1904), 164-68; Darwin acreditava que ambos os sexos, eram maternos na origem e que a próstata dos homens seria um útero rudimentar. 

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