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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

GLASTONBURY - A MÃE DE TODAS AS CONFERÊNCIAS




A 17.ª Conferência da Deusa de Glastonbury acabou no domingo por volta das quatro da tarde. Depois disso, desmontámos o cenário e na 2.ª feira às 19 e 30 foi a cerimónia de Lammas no Goddess Hall. O tema deste ano foi a Mãe, a energia da Criadora, daquela face da Deusa que nutre, que suporta a manifestação,  a vida. Os amarelos e os dourados prevaleciam sobre todas as cores. Cores da abundância e da riqueza.

Mas aí, na energia da Mãe, nem tudo foi colo, aconchego, nutrição, generosidade… Foi primeiro o doloroso recordar das feridas da Mãe, a Mater Dolorosa em nós. Nós filhas, nós mães… Como cuidamos ou negligenciamos, como fomos cuidad@s ou negligenciad@s … Cada ferida se abrindo, cada uma se oferecendo à consciência/cura…  Ir fundo no abandono, ir fundo na consciência da criança em nós que pede colo, ir fundo na consciência da Mãe ferida em nós que aprendeu a dar, dar, dar como única forma de pagar o seu direito de estar viva… Até que nas feridas abertas a Deusa lança o seu bálsamo e começas a fluir leve no amor, na alegria, na graça e na beleza do Feminino… Realizas como é justo e natural cultuar uma Criadora cujo corpo se abre para dele sair a vida, a vida que foi fabricada no seu corpo, com a sua própria substância…

Na noite depois da abertura, no Drama Sagrado Mother Matters, dirigido por Katie Player, dezasseis mulheres, à semelhança de Monólogos da Vagina, contaram-nos as suas histórias reais enquanto mães ou enquanto filhas, guiando-nos com graça pelos seus meandros mais obscuros, onde por vezes se podia ouvir o coro da tragédia ou o coro dos anjos, das fadas, dos unicórnios, nas dimensões aonde brincam agora os espíritos bem-amados…

Depois dessa noite, o tom das Senhoras de Avalon estava dado: não há por onde fugires, nem penses em fazer de conta, não vale virares a cara… Vais viajar pelos três mundos em segurança, é só veres como fazemos, repara bem, nós vamos à frente, abrimos-te o caminho… follow us, sister… vai com confiança aos teus infernos mais privados, onde serás acolhida pela toda-poderosa Keridween com o seu caldeirão de morte, transformação e renascimento…


Não conheço sobre esta terra lugar mais seguro, porque nenhuma parte de nós tem de ser negada ou suprimida aqui, nem o nosso natural gosto pelo enfeite, a exuberância, a cor, o puro divertimento…
Foi muita Mãe, sem dúvida, mas não tanto como na nossa cultura patriarcal onde este é o arquétipo feminino mais estimulado, validado, usado e abusado…  Muito peso. A Mãe suporta aqui, na nossa cultura… o insuportável…  E foi por isso que o trabalho da californiana Ava sobre o arquétipo da Rainha soube tão bem. Durante mais de duas horas, explorámos a riqueza do único arquétipo do Feminino que não pode coexistir com o patriarcado e que tem sido portanto o mais difamado e atacado. Aquela que governa, que conduz a energia, tem o poder de pura e simplesmente não a dar a seja o que for que, com o seu apurado discernimento, não lhe pareça ser a favor do bem maior, sendo que a Rainha em nós é o arquétipo mais impessoal, a que vê the big picture… Amei!


Completamente de acordo com Ava, a facilitadora da Rainha em nós, quando começou por pedir uma salva de palmas para Kathy Jones, a criadora da Goddess Conference, que, segura da sua visão e do seu poder, não teme rodear-se de outras Rainhas e com elas interagir, criando um evento cuja energia inspiradora irradia para o mundo inteiro e se arrisca a ser neste momento o foco da mais extraordinária revolução da atualidade…

Luiza Frazão

Imagens: Sacred Drama, Mother Matters e altar principal