Conteúdos

segunda-feira, 11 de maio de 2015

CURAR MEDEA

Hoje, escrevia isto, e quando parei um pouco e fui espreitar o Facebook, tinha precisamente um convite para aderir a um grupo intitulado LA SANACIÓN DE MEDEA


Na verdade, aquilo de que nos falam estes mitos (Medeia e Lilith), é da derrota da mulher face ao ataque do patriarcado, que conquistou e destruiu uma organização social pacífica centrada na Mãe. É óbvio que isso só pôde ter acontecido no meio de muita resistência, de muita luta e com muita dor, e estes mitos dão-nos testemunho precisamente disso. Figuras míticas como Medeia e Lilith, completamente denegridas e amaldiçoadas, são personagens duma história contada pelo vencedor, que glorifica a sua própria ação de cruel destruição e morte e demoniza episódios da violência eventualmente perpetrada por mulheres que lutaram com as únicas armas de que dispunham, tentando resistir à terrível lei da espada e da difamação que se abateu sobre elas. 

Na verdade o que aconteceu, se quisermos fazer justiça neste caso, foi que os patriarcas legitimaram o ato de destruir, matar, saquear, dominar, perpetrado por eles, imbuindo-o de esplendor e de glória, e diabolizaram outros, resultado do puro desespero de mulheres indefesas, sozinhas e muitas vezes com descendência e ascendência a proteger, completamente vulneráveis, projetando nelas a sua sombra, os seus piores medos e fantasmas, transformando-as em perigosos alvos a abater, literal ou moralmente, pelo ridículo, o escárnio e o opróbrio. A mulher, ser mais empático, mais suscetível às emoções, e por isso mais vulnerável perante a frieza emocional do homem, aquela que divide o seu coração pelas/os filhas/os, amantes, mãe e pai, posta agora à total mercê do patriarca, do macho alfa, transformado em seu amo e senhor.

A verdade é que a nossa alma carrega essas memórias, que são parte do Corpo de Dor do Feminino, que muitas vezes não queremos ver nem aceitar, recusando sentir a nossa vulnerabilidade. No entanto acredito que sem revisitarmos essa dor e sem ousarmos corajosamente recontar a hsitória desde outro ponto de vista nunca nos poderemos verdadeiramente curar nem a nós nem ao mundo.

©Luiza Frazão