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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

AFRODITE HETERA

Li há dias numa revista cor-de-rosa as declarações da mulher do escritor e apresentador de televisão José Rodrigues dos Santos sobre as condições em que decorre o seu trabalho e o apoio que lhe dá, que tem tudo a ver com o que diz Jean Shinoda Bolen sobre o papel da mulher no trabalho criativo dum homem, a tal "grande mulher" por trás do "grande homem"... Infelizmente, o contrário raramente se verifica...


"PORTADORAS DE VISÕES"

AFRODITE ENQUANTO A HETERA

“Para que um sonho se realize, temos de o ter, de acreditar nele e de trabalhar por ele. Muitas vezes é essencial que outra pessoa significativa acredite que o sonho é possível: essa pessoa é uma portadora de visões, cuja fé é frequentemente crucial. Daniel levinson, em Seasons of a Man’s Life, descreve a função duma “mulher especial” na fase de transição que representa a entrada dum jovem no mundo adulto. Segundo Levinson, uma mulher desse tipo possui uma relação especial com a realização do sonho do jovem. Ajuda-o a moldá-lo e a vivê-lo. Partilha-o, acredita no jovem como o herói do sonho, dá-lhe a sua bênção, junta-se a ele na jornada e proporciona um santuário onde as aspirações dele podem ser imaginadas e as suas esperanças alimentadas.


Essa mulher especial é semelhante à descrição que Toni Wolf faz da “mulher hetera” (do grego antigo hetaira, que quer dizer cortesã, mulher educada, culta e invulgarmente livre para a sua época; em alguns aspectos, assemelhava-se à gueixa japonesa), um tipo de mulher cujas relações com os homens possuem qualidades tanto eróticas como de companheirismo. Pode ser a sua femme inspiratrice ou musa. Segundo Wolf, uma analista jungiana que foi doente de Jung, era sua colega e, segundo alguns, a sua amante também. Pode ter sido a “mulher especial” de Jung, a mulher hetera que inspirou a teoria jungiana.

Por vezes, uma mulher possui o dom de atrair alguns ou muitos homens, que a consideram a mulher especial; é capaz de descobrir o seu potencial, de acreditar nos seus sonhos e de os inspirar. Lou Salomé Andreas, por exemplo, foi a mulher especial, a musa, a colega e a companheira de muitos homens famosos e criativos como Rilke, Nietzsche e Freud.

Tanto as mulheres como os homens precisam de ser capazes de imaginar que o seu sonho é possível e de ter outra pessoa que olhe para elas/es e para o seu sonho com a consciência de Afrodite, estimuladora do desenvolvimento. Especula-se acerca das razões que levam à existência dum número tão reduzido de mulheres artistas, líderes, maestras ou filósofas: talvez as mulheres não tenham portadores do sonho. As mulheres têm alimentado o sonho dos homens, ao passo que os homens, em geral, não têm alimentado muito bem o sonho das mulheres da sua vida.”
Jean Shinoda Bolen, AS DEUSAS EM CADA MULHER
Imagem: Laurie Blank

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