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sábado, 15 de outubro de 2022

Uma História Secreta e Simbólica das Romãs e a sua relação com a mito de Deméter e Perséfone

Perséfone, Dante Gabriel Rossetti
Kate Lebo:

Abrir uma é como levantar a tampa duma caixa de joias

 

Quando Perséfone volta para sua mãe, o submundo ainda está nela. Numa versão dessa reunião mítica, Yannis Ritsos escreve:

Eu ouvi as vossas vozes chamarem por mim;

e meu nome era estranho; 

e os meus amigos eram estranhos; 

estranha a luz superior com o quadrado, branco puro das casas,

os frutos carnudos, multicoloridos, pretensiosos e insolentes. . .

Perséfone viu as mortas e os mortos, casou-se com o seu rei, comeu três ou quatro ou sete bagos da sua romã. Sua mãe, a deusa da colheita Deméter, tendo sido esmagada pela dor, recusou-se a permitir que novas colheitas crescessem até que a sua filha lhe fosse devolvida. Os e as mortais ficaram famintos e até os deuses temeram que ninguém sobrevivesse para lhes fazer oferendas. Em outra versão do mito, Zeus foi convencido a fazer com que Hades devolvesse Perséfone.

Deméter, entretanto, recebeu em casa uma rapariga mudada, enrugada e assustadora, inquieta no império verde de sua mãe. Uma rapariga casada que ouve e fala dum mundo que Deméter não consegue entender. “A voz é mais pálida do que os lábios que deixa”, diz Deméter na releitura de Edith Wharton, a sua alegria transformando-se em confusão.

As romãs são frutas incomuns, “não mais do que um armário de sementes suculentas”, como Jane Grigson as descreve. Poetas são conhecidos por comparar esses bagos a joias. Abrir uma romã parece ser um pouco como levantar a tampa duma caixa de joias, na expectativa, senão na sensação – a menos que alguém abra uma caixa de joias numa postura defensiva –  de  antecipar um borrifo de vermelho. Dentro da casca dividida, porém, encontra-se um padrão ornamentado, reluzente e comestível.

De acordo com a tradição judaica, a romã contém 613 sementes, uma para cada mitsvá. Por milénios, em toda a Europa, Pérsia e Ásia, nas tradições budista, islâmica, judaica e cristã, as romãs foram invocadas como símbolo de fertilidade e às vezes esmagadas em câmaras nupciais para incentivar o nascimento de muitas crianças. Em O Unicórnio em Cativeiro, uma tapeçaria medieval europeia, que pode ser vista no Met Cloisters, em Manhattan, um unicórnio senta-se numa pastagem cercada sob uma romãzeira. Ele parece contente em cativeiro, um símbolo de fertilidade e casamento e da fertilidade do casamento duma alma com Cristo. O unicórnio parece estar sangrando das feridas da caçada que o acorrentou àquela árvore. Todavia, numa inspeção mais apurada, verificamos que as feridas não sangram – elas choram sementes. O sangue é o sumo da romã.

A palavra “granada” vem de “romã”, e é assim chamada pelo modo como uma granada dissemina estilhaços imitando a explosão propagadora de sementes duma romã ao ser esmagada.

As sementes de romã têm a forma de incisivos — gordas numa extremidade, onde um rubor de sangue se acumula, estreitando-se na ponta translúcida, onde a semente poderia, se fosse um dente real, enraizar na mandíbula. Se acreditarmos na Doutrina das Assinaturas – a ideia de que Deus escreveu uma linguagem nas plantas que podemos ler para identificar os nossos remédios –, essa forma significa que as romãs podem aliviar doenças orais. “Uma infusão forte cura úlceras na boca e na garganta e fixa os dentes”, escreveu Culpeper.

É estranho para nós agora esse tipo de antropomorfização que desmembra as plantas em partes humanas em vez de lhes dar personalidades humanas – reparadores de dentes em forma de dente. A Doutrina das Assinaturas fazia parte da visão de mundo pela qual as primeiras e os primeiros médicas, herbalistas e boticárias transformavam um organismo num recurso medicinal específico, uma alquimia que nós, capitalistas de hoje, certamente entendemos. “Cada planta é uma estrela terrestre”, como descreve Agnes Arber na sua história das ervas de 1912, “e cada estrela é uma planta espiritualizada”. O marketing moderno ignora a Doutrina das Assinaturas e vende o suco de romã como um elixir da juventude, com promessas antioxidantes que ficam apenas um pouco aquém de ressuscitarem os mortos e as mortas.

Os taninos no suco de romã, como no bom vinho, equilibram o ácido e o açúcar e adicionam uma sensação de substância, como se eu estivesse comendo algo da terra.

As romãs representam a fertilidade, mas também uma pausa na fertilidade — no mito e na vida.

No mito, Deméter lamenta o desaparecimento da sua filha deixando as colheitas morrerem. Ela abandona os seus deveres e caminha entre as e os mortais disfarçada no tipo de velha que pode cuidar das crianças na corte. Nada vai crescer até que sua filha retorne. E mesmo depois de Perséfone voltar para casa, ela comera a comida dos mortos e das mortas e deve voltar ao Hades por um quarto ou um terço ou metade do ano, provocando outro inverno. Esse ciclo de morte e renascimento torna Deméter e Perséfone empáticas com as e os mortais como nenhuma outra divindade. “Na sua dor e na hora da morte”, escreve Edith Hamilton na sua antologia de mitos gregos de 1940, “as mulheres e os homens podiam recorrer à compaixão da deusa que sofria e da deusa que morria”.

As romãs representam a fertilidade, mas também uma pausa na fertilidade — no mito e na vida. Na Grécia antiga, Dioscorides recomendou sementes e casca de romã como controle de natalidade. “Escritos médicos indicam que a romã foi administrada como um supositório”, escreve John M. Riddle em Eve’s Herbs – não oralmente, como o mito pode levar-nos a concluir. Ele relata que, em 1933, as tamareiras foram objeto da primeira experiência que encontrou compostos estrogénicos em plantas – a primeira confirmação de que a tradição de controle da natalidade à base de plantas tinha uma base biológica e cientificamente mensurável (embora os resultados da experiência não tenham sido duplicados e confirmados por pares até 1966). Experiências posteriores, nas décadas de 1970 e 1980, sobre os poderes contraceptivos das plantas, descobriram que ratos fêmeas alimentados com romãs e emparelhados com ratos machos que não foram alimentados com romãs experimentaram uma queda de 72% na fertilidade. Em cobaias, a queda foi de 100%. As sementes, raízes e planta inteira não tiveram efeito; o composto estrogénico estava no fruto — especificamente, na polpa ao redor da semente. Após 40 dias sem a dieta da romã, a fertilidade dos roedores voltou.

Em algumas versões, Zeus instrui Perséfone a não comer enquanto estiver no submundo. Quando Hermes a recupera, ela está faminta. Hades oferece-lhe a sua romã.

O Regresso de Perséfone
Frederic Leighton

Em Eating in the Underworld (Comendo no Submundo), de Rachel Zucker, Perséfone deixa Deméter por escolha própria,

Longe de onde o

corpo da minha mãe é

em toda parte,

uma jornada que imita o distanciamento maduro (mas ainda doloroso) da filha em relação à  mãe, que, porque a mãe está em toda parte, deve ir ao Hades - um deus e um lugar - para se libertar.

Só uma mãe poderia fabricar tal história:

a terra se abriu e me puxou para baixo.

 Nesta versão do mito, as romãs representam a persistência da vida, mas também criam o vínculo matrimonial que rebaixa a primazia das relações mãe-filha e interrompe a fertilidade. Winter, nesta história, observa a sua filha crescer e tornar-se alguém que não consegue entender. É fugir da sua mãe para que possa conhecer-se sem sentir-se esmagada pela sua fertilidade e amor.

O Inverno também significa descanso. Deméter chora e recusa-se a trabalhar. Com a fertilidade em pausa, um agricultor pode descansar da agitação de plantar, cuidar, colher, vender, preservar e armazenar antes de plantar novamente.

Lembre-se, quando me vê,

Perséfone diz,

Estou dentro de quem eu era.

 A terra onde cultivamos as nossas colheitas é a terra onde enterramos os nossos corpos. As romãs representam essa mesma contradição, esse ciclo completo: vida e morte e vida de novo, voltando de novo, voltando transformada.

De O Livro dos Frutos Difíceis (The Book of Difficult Fruit), de Kate Lebo (traduzido e adaptado/remanejado por Luiza Frazão)

https://lithub.com/a-secret-symbolic-history-of-pomegranates/

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Josefa de óbidos - a vida e obra apaixonante duma mulher independente e autossuficiente do século XVII

 

Casa da família, em Capeleira,
pintura de Baltasar  Gomes Figueira, pai de Josefa de Óbidos


Vivo na terra de...

Josefa de Óbidos! a solteirona mais famosa do Oeste profundo...
Viveu aqui a dois quilómetros, desde os 4 anos de idade, numa quinta hoje em ruínas (temos uma cultura tão rica e vibrante espalhada por qualquer recanto das nossas províncias ignaras que nos podemos dar ao luxo de simplesmente desprezar com enjoo algumas das suas jóias com mais potencial para multiplicarem e derramarem o seu brilho pelos incertos corredores do futuro... certo?...).
Ela viveu numa aldeia à qual deu o nome, Capeleira, ela própria, pintora de capelas.... É uma mulher do século XVII, que aprendeu a pintar com o pai, o pintor Baltazar Gomes Figueira, e depois fez disso um modo de vida. E foi tão apreciada e reconhecida na sua época que dela se diz na Wikipédia:
"Tendo vivido quase sempre na Quinta da Capeleira, nos arredores de Óbidos, a reputação que granjeou era de tal ordem que muitos dos que iam tomar banhos às Caldas da Rainha se desviavam de seu caminho para irem cumprimentá-la."
Junho 

Deixou uma obra imensa, menorizada, como tem acontecido com a de várias outras artistas que entretanto, diga-se, têm vindo a ganhar cada vez maior visibilidade e protagonismo. Ver o caso emblemático de Frida Khalo, que era a esposa do génio da pintura Diego Rivera, e fazia umas coisas enquanto esperava que ele descesse dos andaimes do centro Rockefeller em Nova York, que enchia de frescos, e hoje para o grande público é simplesmente o marido da Frida... E esperem lá porque a obra de Josefa de Óbidos já entrou no Louvre... embora isso não tenha impedido a sua antiga quinta de permanecer em ruínas... enquanto a casa da Frida é hoje um museu vibrante que um dia acabará por me levar ao México...
Em conversa com alguém noutro dia, a pessoa tinha a ideia de que Josefa era uma religiosa, uma freira... Na cabeça desta pessoa, uma pintora independente da era do barroco, sem marido a restringi-la da possibilidade de assinar a sua obra com o seu próprio nome e sem família directa a consumir-lhe o tempo e a energia, só poderia ter vicejado à sombra dum convento...
Pois, lamentei desiludi-la mas não foi o caso, Josefa de Ayala viveu e trabalhou e executou inúmeras encomendas e cuidou da mãe aqui sozinha na Capeleira, junto a Óbidos. Josefa foi, se quiserem, uma Spinster. "Solteirona" será a única tradução possível, mas o termo é mesmo péssimo porque te define em relação ao homem, cuja falta, na lógica da palavra, te mutila e transforma em pura aberração... No fundo e em essência um epíteto ainda mais difícil de resgatar do que o de "bruxa"... Mas nada como levar a ideia para a frente... vamos vendo...
Mas por que razão isso há de importar? Porque estamos a falar do séc XVII e não das Serranas da época anterior, pré-inquisição, das nossas amazonas ibéricas, cuja vida era bem mais animada, e colorida...
Dicen que me case yo:
no quiero marido, no.
Más quiero vivir segura
n'esta sierra a mi soltura,
que no estar en ventura
si casaré bien o no.
Dicen que me case yo:
no quiero marido, no.
Madre, no seré casada
por no ver vida cansada,
o quizá mal empleada
la gracia que Dios me dio.
Dicen que me case yo:
no quiero marido, no.
No será ni es nacido
tal para ser mi marido;
y pues que tengo sabido
que la flor ya me la só,
dicen que me case yo:
no quiero marido, no.
Gil Vicente (sec. XVI)

E é isso, vivo na vila que deu o nome a Josefa de Ayala Figueira, hoje conhecida como Josefa de Óbidos, pintora despachada e, claro, muito religiosa, como era próprio da época, mulher independente que por aqui vicejou e não deixou de se inspirar nas belas paisagens e produtos (doçaria, frutos, ostras que abundavam na lagoa de águas então limpas...) do Oeste profundo...
Gosto, sempre que passo pela igreja de Santa Maria (há sempre uma nas antigas terras d@s celtas, se virem bem) e a encontro aberta, de ir espreitar uma das suas obras minhas favoritas, dona Santa Catarina filosofando com os "doutores"...
Rosa Leonor Pedro Lilith, Cristina Grumete e 55 outras pessoas
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quarta-feira, 20 de julho de 2022

Antigas Histórias da Deusa - Mitos ou Verdades Culturais, Religiosas e Espirituais?

 


Os antigos acadianos deixaram escrito que a Deusa conhecida como Mami arrancou catorze pedaços de barro e transformou sete deles em mulheres e sete deles em homens. Ela criou a vida sobre a terra. No Daomé considerava-se que a Deusa conhecida como Mawu havia construído as montanhas e os vales, colocado o sol no céu, e que a vida na terra tinha sido criada por ela. Os textos chineses registam que a Deusa conhecida como Nu Kwa remendou a terra e os céus, quando estes foram despedaçados, e assim restaurou a harmonia e o equilíbrio no universo. Registos mexicanos revelam que a Deusa conhecida como Coatlicue viveu no alto de uma montanha, numa nuvem, e lá ela deu à luz a lua, o sol e todas as outras divindades. Hesíodo escreveu que a Deusa conhecida como Gaia deu à luz o céu e, acasalando-se com ele, deu à luz as outras divindades. Os textos sumérios dizem-nos que a Deusa conhecida como Nammu foi considerada a mãe que deu à luz o céu e a terra, e que Ela supervisionou a criação da vida por sua filha Ninmah. Os australianos explicam que é à Deusa conhecida como Kunapipi, que o nosso espírito retorna após a morte, permanecendo com Ela até ao renascimento seguinte. Nos hieróglifos egípcios, estava escrito que a Deusa conhecida como Au Sept era a mais antiga das antigas, Aquela da qual tudo proveio.

Deusa Chinesa Nu Kwa
Estas são apenas algumas imagens da mulher como divindade, força primordial da existência, como é concebida por várias culturas. Será completamente coincidência que a multiplicidade de relatos da mulher como divindade tenha sido classificada como “mitologia” em vez de como escritura sagrada e religiosa? Parece haver poucas pessoas nas sociedades ocidentais contemporâneas que sejam capazes ou estejam dispostas a perceber as histórias da criação e os relatos de divindades, que foram escritos em tabuletas de argila ou papiros por culturas antigas, como conceitos verdadeiramente “religiosos”... separados por geografia, cultura ou cronologia. Eles revelam contemplações espirituais e conceitos religiosos que se desenvolveram nessas culturas em todo o mundo, assim como as histórias das Escrituras Hebraicas se desenvolveram na sociedade primitiva, o Novo Testamento na sociedade cristã primitiva e o Alcorão na sociedade islâmica primitiva. Alguns afirmam que é uma certa qualidade “primitiva”, uma “irracionalidade” nos eventos e imagens, que definem um relato como mito. No entanto, quantas das pessoas que fazem essas afirmações e criam essas definições se referem ao relato da criação no livro de Gênesis, ao relato da abertura do Mar Vermelho, ou ao relato de Jesus andando sobre as águas e alimentando cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes como mitologia? Todos esses relatos espirituais são experiências e expressões das culturas do seu tempo. O que antes era desconsiderado como “mito” precisa de ser reivindicado como verdade cultural, religiosa e espiritual.
 
Texto elaborado por Jennifer Murphy, @primalwaters, com base no trabalho de Merlin Stone (1984) Ancient Mirrors of Womanhood (Antigos Espelhos da Feminilidade)  

Tradução de Luiza Frazão

Imagem 1: Grupo de antigas representações da Deusa provenientes da Síria, terceiro e segundo milénio antes da nossa era.

Imagem 2: Nu Kwa (clique sobre a imagem) 


terça-feira, 5 de julho de 2022

Mulheres Fiandeiras e Tecedeiras: Bruxas e Pagãs, por Max Dashu

 Uma Revisão

POR CAROL P. CHRIST

 

Witches and Pagans: Women in European Folk Religion 700-1000, de Max Dashu, desafia a suposição de que a Europa foi totalmente cristianizada em poucos séculos, como nos dizem os historiadores tradicionais. A maioria de nós aprendeu que, não apenas a Europa se tornou cristã muito rapidamente, como também que os europeus estavam mais do que dispostos a adotar uma nova religião que era “superior” ao “paganismo” em todos os sentidos. Leitoras/es cuidadosas/os do importante novo trabalho de Dashu serão desafiadas/os a rever os seus pontos de vista. Quando os 15 volumes completos da série projetada forem impressos, os historiadores podem ser forçados a baixar a cabeça de vergonha. Isso, claro, pressupõe que os estudiosos lerão o trabalho de Dashu. É mais provável que a ignorem, mas mais cedo ou mais tarde – atrevo-me a esperar – a verdade virá à tona.

A história foi escrita pelos vencedores – no caso da Europa por homens cristãos de elite. Esses homens podem ter querido acreditar que os seus pontos de vista eram amplamente aceites, mas Dashu sugere que não. Combinando registos artísticos e arqueológicos, Dashu descobre (para dar um exemplo) que imagens da Mãe Terra amamentando uma cobra estão longe de ser incomuns e podem até ser encontradas como ilustrações em documentos e monumentos cristãos. Os clérigos enfurecem-se contra as pessoas – principalmente as mulheres – que continuam a visitar poços sagrados e árvores sagradas e a praticar rituais de adivinhação e cura invocando poderes pagãos. Parafraseando Shakespeare: “Acho que o clérigo protesta demais”. Se essas coisas não acontecessem e não acontecessem com frequência, não haveria necessidade de condená-las. Usando estas pistas, Dashu fornece novas leituras intrigantes da coletânea de poemas Edda e das sagas nórdicas.

Ler este livro é como abrir uma caixa cheia de joias deixadas para nós por ancestrais que nem sabíamos que tínhamos. O grande número de factos e sugestões de factos é esmagador. A própria Dashu é a primeira a admitir que ainda não juntou todas as peças numa nova e abrangente história da Europa. Ainda assim, é difícil negar que, se o seu trabalho for levado a sério, é exatamente isso que os outros serão inspirados a fazer.

Para mim, a parte mais interessante deste livro são as novas informações sobre os rituais ligados à fiação e à tecelagem. Há muito sei que as mulheres foram responsáveis ​​por três invenções que marcaram a entrada da humanidade no Neolítico ou na Nova Idade da Pedra. Estas são a invenção da agricultura, a invenção da fiação e da tecelagem e a invenção da cerâmica cozida. Há muito entendo que essas invenções envolvem a descoberta de mistérios de transformação: sementes em plantas comestíveis; lã ou linho em fios e em tecidos; barro, pela ação do fogo, em potes resistentes.

Os primeiros trabalhos de Marija Gimbutas sobre as canções rituais de plantio e colheita das mulheres de sua terra natal, a Lituânia, demonstraram que as mulheres continuaram a transmitir os “segredos” da agricultura de geração em geração por milhares de anos. Embora eu estivesse ciente de que a invenção da tecelagem pelas mulheres era lembrada na tradição grega posterior das “Três Parcas”, não tinha uma imagem clara das mulheres transmitindo os “segredos” da fiação e tecelagem por meio de rituais e canções.

As mulheres fiam e tecem juntas, o seu trabalho emoldurado pelas árvores da vida.

Os primeiros capítulos de Bruxas e Pagãos preenchem essa lacuna. As nossas ancestrais europeias não apenas se sentaram e continuaram com o trabalho de fiação e tecelagem, como invocavam os poderes femininos – deusas, ancestrais e espíritos – quando começaram a girar e usaram as suas rocas (varas de madeira ou varas que seguravam o linho ou lã não fiado) como ferramentas de adivinhação e varinhas mágicas. (Aqui está uma ideia: por que não substituir as espadas e facas rituais por uma roca?) Os sacerdotes castigavam as mulheres por invocarem divindades não-cristãs enquanto teciam e por amarrar símbolos pagãos nos seus teares. Certa vez, enquanto observava um grupo de velhas gregas cardando lã, disseram-me que “as nossas mães” ensinaram-nos como fazer isso. Gostaria de ter-lhes perguntado se o ensino era por meio de música, mas com certeza que era.

Uma imagem mais clara começa a surgir: as mulheres preservaram mistérios antigos que celebravam os poderes femininos de criatividade enquanto realizavam as tarefas do quotidiano. Não foi tão fácil acabar com essas práticas, porque as mulheres entendiam que as suas canções e rituais eram essenciais para o florescimento contínuo da vida.

Obrigada, Max, pelo seu trabalho brilhante. Que ele mude a forma como vemos o mundo!


BIO: Carol P. Christ (1945-2021) foi uma escritora, ativista e educadora feminista e ecofeminista internacionalmente conhecida. O seu trabalho continua por meio da sua fundação sem fins lucrativos, o Instituto Ariadne para o Estudo do Mito e do Ritual.

Texto original:

https://feminismandreligion.com/2022/07/04/the-legacy-of-carol-p-christ-weaving-and-spinning-women-witches-and-pagans-by-max-dashu-a-review/

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Conferência da Deusa Portugal 2022 - uma experiência única e inesquecível


Esta Conferência, realizada entre 13 e 15 de Maio deste ano, foi a segunda do género, tendo a primeira tido lugar na mesma área de Sintra, Quinta dos Lobos, em Maio de 2019. Ficou estabelecido na altura que seria um evento bienal e que o seguinte seria em 2021, mas a pandemia trocou-nos as voltas e obrigou-nos a adiar até 2022. As circunstâncias continuavam desafiantes, mas mesmo assim em Janeiro decidimos prosseguir com a concretização do nosso projecto, fosse como fosse, e conseguimos. E tudo aconteceu como um milagre, um portal que se abriu por vontade e mão da Deusa, um céu que clareou. Justamente, porque em honra estavam as Deusas solares!...

 Na véspera, conseguimos criar o Templo da Mãe do Fogo na quinta Ten Chi. Esvaziámos o espaço, lavámos, limpámos e enfeitámos com os estandartes de Lydia Ruyle que nos chegaram dos Estados Unidos e com outros igualmente maravilhosos criados pelas Sacerdotisas de cada Círculo, nove ao todo. E cada uma delas decorou também o altar lateral da respectiva direcção.

Estava montado o cenário desta festa da Deusa, que incluía os espaços exteriores, como o altar à Deusa Maia, o espaço do mercado, a bilheteira e… por último mas de primeiríssima importância, a cozinha, onde a Cristiana e a Goreti, apoiadas por outras almas generosas e prestativas, fizeram a magia que garantiu sustento e abundância a todo o staff, bem como a todas e a todos os participantes que previamente encomendavam a sua refeição. Este foi mais um sonho que aqui se manifestou de forma ainda mais completa e perfeita e profissional do que a inicialmente imaginada, com ingredientes de primeira qualidade e tudo equilibrado com muita alegria, sentido de humor, amor e graça.

 

À hora prevista do dia 13 de Maio, dia em que na nossa tradição acolhemos a Senhora do Verão, depois das boas-vindas dadas pela nossa Melissa Mãe, a Sacerdotisa Cristina Grumete, pela segunda vez desde a primeira edição da Conferência, realizámos a cerimónia de abertura, que envolveu, como todas as outras, as nove Sacerdotisas do Grupo Cerimonial e as nove Sacerdotisas do Círculo. Foi quando introduzimos no espaço do Templo o Fogo sagrado de cada uma das nove  direcções, incluindo o Centro, e quando oferecemos à Mãe do Fogo as flores que havíamos levado, e também canções que exprimiam a nossa intenção para aqueles três dias de devoção, que era essencialmente a de reativarmos o nosso Fogo interior, de renovarmos a nossa energia, a nossa fé na Deusa e na Vida, de reafirmarmos a nossa coragem e a nossa alegria de viver.

Nestes três dias, trabalhámos com o Sol triplo, o sol do meio-dia, de Trebaruna, o sol poente, de Sul/Sula/Chula/Sulis, e o sol da madrugada, de Aurora. Recebemos bênçãos das águas quentes de cura de Sula, como as de São Pedro do Sul, as das Caldas da Rainha, do Marvão, de Chaves e outras levadas de termas conhecidas do nosso território.

 No sábado, abrimos o dia com uma cerimónia em que honrámos especialmente essas águas e com Sula fizemos a travessia pelo reino das nossas sombras, para à noite A encontrarmos através das Suas Sacerdotisas e Sacerdote. No domingo honrámos Aurora pela madrugada e saímos em procissão cantando e celebrando o corpo da Deusa em que se transforma a sagrada paisagem da serra de Sintra.

Sobre as comunicações, as nossas palestrantes e o nosso palestrante foram Mary Sharratt, que nos falou sobre a sua obra focada em mulheres ímpares cujo lugar na história precisa de ser reconhecido e valorizado; Rosa Leonor Pedro, que nos falou da mulher dividida pelo patriarcado. Mike Jones ensinou-nos a ler a paisagem sagrada e a explorar as dimensões secretas da Deusa na Sua natureza; Kathy Jones falou-nos da terra mágica de Glastonbury/Avalon e do Templo que aí criou há cerca de vinte anos; Laura Ghianda abordou o tema do feminino activo e solar e de dualismos injustos e redutores. Eu mesma falei de vestígios de antigos cultos a Deusas solares no nosso território. Marta Blanco Fernández esteve impossibilitada de viajar desde Espanha por razões de saúde, mas enviou-nos em vídeo a sua comunicação, baseada na tese de doutoramento que defendeu há alguns meses na universidade de Alicante,

 "Origem, demonização e sobrevivência do divino feminino na Península Ibérica: uma aproximação desde a tealogia e o ecofeminismo", que vos convidamos a ver e a ouvir no canal do Youtube da Conferência da Deusa Portugal: ://youtu.be/CvdRpxS6u0o

 Embora o termo "Conferência" evoque ênfase no aspecto mental, naquelas que são dedicadas à Deusa não é o caso. No entanto, este é também um aspecto importante. Honrando e valorizando o estudo académico e a investigação relativa no caso à mulher, à Deusa e ao sagrado feminino em geral, que expandem a nossa visão e dão estrutura, enraizando e fortalecendo o nosso trabalho.

 Referir ainda Elaine Wattam, que também veio de Glastonbury e nos ofereceu um belo workshop inspirado no fogo de Brígida, como sua Sacerdotisa que é, bem como de Avalon.

 Acrescentar também a participação da Sacerdotisa do Templo das Rosas, Ouassima Issrae, que nos apresentou o seu Templo e nos ofereceu a magia da Rosa.

 Pode ver mais sobre os temas abordados no site da Conferência:

 https://www.conferenciadadeusa.com/

Ao nível das performances, fomos muito abençoadas e abençoados com tanta dança maravilhosa, como o do fantástico Saucco de Trivia, de Madrid; a de Ana Bergano, Ikny Falcão e das bailarinas do espaço Reyel e ainda a de Tara Chantelle Gomez, que foi uma muito agradável surpresa. A sua arte, como a das restantes bailarinas e bailarino elevaram-nos a uma dimensão muito sagrada do Templo antigo e das suas bailarinas, que incorporavam a Deusa através da beleza da música e da dança. Danças circulares, criando integração, elevação de alma e profunda conexão e comunhão também não faltaram, graças às Sacerdotisas Juliana Di Avalon e Sandra Coelho e ainda às alunas da primeira Espiral da formação de Sacerdotisa do Jardim das Hespérides, que nos trouxeram, através da dança, a energia alegre, auspiciosa e divina da Rainha do Verão.

 Agradecer ainda o concerto de taças e gongos que Rafael Narciso nos ofereceu no serão de sábado, dia 14 de Maio.

 Fomos ainda abençoadas/os com tradutoras diligentes e incansáveis, das quais destaco Xénia Bendit, que, com graça e competência, acumulou essa função com outra de grande responsabilidade como Sacerdotisa do Círculo. Tivemos ainda o imenso privilégio de ter a talentosa Sara Miguens como nossa fotógrafa oficial! (Atenção que estas aqui ainda não são as suas fotos, que ainda estão em fase de edição).

 Também um destaque especial para as nossas Melissas, femininas e masculinas, que bem-dispostas, amorosas e eficientes, tiveram um papel indispensável para que tudo corresse tão bem. 

Foram quase três anos de intensa preparação e muitos desafios, uma pandemia e um conflito na Europa, que nos obrigaram a dois adiamentos. Tivemos pessoas que saíram e outras que entraram, quase até ao último momento, e tudo isso nos obrigou a alterações, reajustes e acertos na programação, alguns quase em cima da hora. No final, porém, miraculosamente, tudo acabou por se adequar da forma mais harmoniosa, bela, orgânica e amorosa. E a grande lição que recebemos foi que o mais importante, depois de fazermos com empenho tudo o que estiver ao nosso alcance, é confiarmos, mantendo o foco e o amor no coração. A Deusa sempre faz o resto!

 A energia reajustou-se por si própria e tudo fluiu, e o que sentimos foi a bênção duma imersão de três dias na maravilhosa dimensão do Jardim das Hespérides, uma experiência indescritível, numinosa. Nós apenas nos dispusemos a senti-La, criámos o cenário e as circunstâncias e a Deusa manifestou-se, o Seu Jardim Dourado abriu-se e todas e todos pudemos sentir a Sua energia profundamente curadora e transformadora.

 Alguns testemunhos:

A minha primeira participação numa conferência da Deusa foi uma experiência mágica e inesquecível. Assim que cheguei à quinta senti-me bem-vinda e fui amavelmente recebida e acolhida por todas as irmãs e irmãos experientes, que já são Sacerdotisas e Sacerdotes da Deusa. O que vivi na conferência durante os três dias foi inesquecível. Desde a partilha de amor, de fraternidade, de amizade, de sorrisos, de gargalhadas, de música, de danças, de comida deliciosa, de força, de coragem, de conhecimento, de cura, de ajuda, de consciência, de respeito e de bênçãos.

 E o mais importante, senti ainda mais o amor incondicional da Deusa em mim. Regressei a casa feliz, com o coração quente de tanto amor e amizade que recebi, e também dei.

Sandra Monteiro

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 Grata à Deusa e a todas as mulheres e homens que fizeram esta Conferência da Deusa Portugal - Maio de 2022 acontecer e que estiveram presentes.

 Foi uma honra e um prazer poder participar nesta celebração às Deusas Solares.

 Quando disse SIM estava longe de imaginar o lugar bonito que iria ocupar. Foi uma bênção, uma alegria e uma aprendizagem maravilhosas.

 Sinto que todos demos o nosso melhor e que estamos realmente a construir um mundo onde os nossos corações podem respirar e expressar-se em amor.

Mónica Campanhã

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 Ainda integrando todo o amor que recebi na Conferência da Deusa Portugal, que aconteceu no último fim de semana na Quinta Ten Chi, na qual tive a oportunidade de ajudar como Melissa.

 Este evento acontecerá novamente em 2024 e eu recomendo para aquelas e aqueles que sentem o apelo do culto da Deusa!

 Sou especialmente grata por esses momentos de pura conexão e lembranças de minhas vidas passadas, pelas almas incríveis que conheci, e principalmente pela oportunidade de estar ao serviço de um evento tão importante para os tempos que estamos a viver!

 EM AMOR E DEVOÇÃO

 Sarasvati Yarah

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Dias maravilhosos na Conferência da Deusa Portuguesa. Luiza e sua equipa fizeram um trabalho incrível, apesar de muitos obstáculos no caminho. Pessoas adoráveis e muito foco, alegria e devoção à Deusa. Foi muito bom fazer parte deste grande evento da Deusa e partilhar tempo com você, Laura, e todos os amigos portugueses e espanhóis. Foi uma experiência desafiadora e difícil na sua criação, mas tudo finalmente se encaixou magnificamente. Sinta-se orgulhosa, fique feliz. As teorias são boas, mas a prática é o que conta - como somos uns e umas com as outras e com a Deusa, como enfrentamos desafios.

 Kathy Jones

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Eu e o meu companheiro estamos maravilhados com este evento. Vocês tocaram nosso coração. Pratico a arte desde os meus 13 anos e nunca estive em uma cerimônia tão linda, tão poderosa e tão tocante de alma como aquelas em que participámos lá. Obrigado.

 Hud Alex Dalla Vecchia

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 O FOGO SAGRADO DA DEUSA

Ontem caminhei com o meu bastão invisível na procissão das mulheres e homens que no fim da Conferência da Deusa percorreram um pequeno caminho no coração de Sintra…e com os pés batendo na terra faziam ouvir os tambores como um só coração, fazendo ecoar em mim memórias de velhos cantos  e que em coro, agradeciam à Deusa o esplendor do dia e todas as dádivas terrenas de que somos prodigalizados, nós mulheres e homens, apesar da fome e das guerras e da miséria humana... e sentir esperança na Humanidade.

 E tudo isto foi possível pelo esforço e entrega de algumas dezenas de mulheres que quero homenagear, porque fez eclodir no meu peito uma epifania, sentir o milagre da unidade, no corpo e na alma, ao ver a face da Deusa reflectida em cada mulher abençoada pela sua dádiva.

 Eu vi mulheres brotando e florescendo como nascidas do ventre da Terra cantando cheias de reconhecimento e generoso afecto que prodigalizavam ao seu redor, honrando a dádiva da Deusa… e vi-me eu mesma, mais uma vez nascida do seu ventre e de todas as mulheres em osmose como parteiras que ampararam dores e choros e elevaram a minha alma em êxtase sereno com os seus sorrisos e manhas …

 E vi no seu canto, o olho da pequena coruja, inteligente e atenta todo o tempo ...ela via tudo em silêncio …e escondia-se sagaz…  e vi ainda uma sereia alada… e uma naga escondida na floresta…e vi também um trolle e uma fada…Vi um gnomo delicioso e uma donzela assustada e vi a bruxa rabugenta sempre a praguejar palavras entre dentes… Vi jovens e velhas e mulheres maduras serem transformadas e vi nos ares entre todas as deusas,  a encantadora de serpentes… Lilith, que sibilando, atravessava todos os espaços e se insinuava entre as mulheres erguendo-as na vertical ao encontro de si mesmas, mediadoras do ceu e da terra, unindo os elementos… 

 Quero agradecer a todas as mulheres que vieram até mim e me abraçaram e agradeceram aquilo que eu escrevo, mas que vem delas para mim porque é nelas que me inspiro e é delas que vem o que sinto e sei, por osmose e empatia feminina… como sendo minhas irmãs e mães e filhas que não tive…e porque sei que todas somos filhas da Deusa.

Quero agradecer à mulher doce  e genuína, com o seu véu vermelho (Tara Chantelle Gomez), que nos seus sublimes passos mágicos de dança  em círculo e com gestos de eternidade, me fez lembrar que todas somos a vida o renascimento e a morte ...e também no final, a todas as mulheres empoderadas, vestidas de dourado, que em apoteose, nos espelharam  nos seus espelhos de  miríades de cores, a lembrar que somos Ela, e belas... culminando assim este encontro de deusas  e mulheres e de alguns  homens especiais que também abracei…

 Quero agradecer a todas as mulheres presentes, lamentando sinceramente as ausentes, às Sacerdotisas e as Melissas todo o seu cuidado e serviço à Deusa…e em especial à  Luiza Frazão a sua fé, a sua persistência e a audácia de acreditar e trazer para esta realidade tangível o que era apenas um sonho meu de menina e adolescente…

 Gratidão eterna a toda as mulheres que ecoaram o meu coração!

 Rosa Leonor Pedro

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 Mais do que um Sonho, um Chamamento e um Legado.

 Fica o registo, para quem o sentir e desejar viver ou reviver desta forma.

 Ela

 No Caminho que me levava para os braços da Deusa, a partir de casa, enquanto me dirigia para a Conferência em seu Nome, senti o ímpeto de colher flores. Flores para Ela. Colhi-as então,  de cor rosa, branca, azul-lilás,  compondo um lindo ramo que coloquei, em reverência,  no solo que me acolheu. Foi assim a minha chegada, numa sentida homenagem ao Seu Colo e ao Seu Seio, que tanto me nutriram nestes dias.

 Dias indubitavelmente mágicos, irreais, mas, paradoxalmente, muito mais reais do que tantos outros.  Dias plenos de fascínio e beleza.

 Entrei no espaço em plena consciência,  procurando honrar cada Altar com a minha atenção muda e respeitosa.

Foram intensas todas as experiências que se seguiram, vibrantes de Vida, fazendo com que eta e Ela pulsasse por todo o nosso ser: o sangue correndo mais quente nas veias, o coração batendo ao ritmo das vivências, umas vezes descompassado, outras envolto na mais profunda paz.

Entreguei-me a Ela o mais que consegui, deixando que me conduzisse por tempos, espaços e códigos repletos de significado.

Inolvidável,  mais além do esperado,  tudo o que vivi! A honra que me coube junto a uma das senhoras mais distintas que já conheci,  Rosa Leonor Pedro Lilith.  O poema dito e tão visceralmente sentido por Amala e por todas e todos os que o recebiam, tendo a Sacerdotisa cumprido e honrado subliminarmente a missão oferecida por uma das maiores escritoras e defensoras da Mulher.

 As pessoas que conheci - porque assim estava escrito - pessoas cuja afinidade e amor fraterno se refectiu nos abraços que consolam e chegam até à alma.

 Ainda não desci o suficiente até este plano, talvez. Continuo imersa em beleza, embevecida por tudo o que recebi. Tudo foi perfeito,  desde o afago envolvente das árvores,  o lago de nenúfares com o leve coachar pela noite fora. A mensagem que recebi à chegada,  que me disse, em tom preciso, exactamente, o que precisava ouvir. Os Altares. O Grupo Cerimonial. As Sacerdotisas. Toda a equipa, que tão gentilmente me acolheu. As Mensagens essenciais das Oradoras. A Música. O Som do Gongo. O Som do Tambor. O Som das nossas Vozes.  As Danças Circulares. A Cerimónia Noturna. Os desafios. Os pirilampos que me acompanharam pela caminhada noturna na serra, para ver o Castelo dos Mouros iluminado. As confidências trocadas, a cair de sono, com os parceiros de camarata.  A cerimónia de Aurora ao Nascer do Sol!

Que almas tão grandes e generosas conheci ou revi. Vindas e vindos de vários pontos do país, da Espanha, da Irlanda, do Brasil... Nas mulheres, no menino de 12 anos que ficou no meu grupo, no outro elemento do sexo masculino, já de barbas brancas, ambos representantes do sexto masculino no mesmo. A colega de Português com uma sucessão de mestrados,  devotada à magia e a uma sabedoria muito antiga, uma sábia e talentosa artesã com uma força e generosidade inequívocas.

O Mago perito em Herbalismo e Medicina Tradicional Oriental, perito também na Arte do Gongo, emanando uma simplicidade e discrição que não conseguiram ocultar a sua mestria e saber sublime (referência a Rafael Narciso). A meditação. A união.

Tudo na mais mágica terra do nosso país, vivendo tanto, tanto do que a minha Alma sempre quis, realizando sonhos antigos e satisfazendo vontades emergentes das minhas entranhas, como a Dança Na Floresta, com a Bênção da Lua quase cheia e da Chuva que começou a cair enquanto os nossos pés descalços honravam o solo ancestral e o nosso Coração se abria à Deusa, ao Céu, à Terra e a nós próprias.

 A Conexão com a Deusa ao longo destes dias, neste Evento que tanto a louvou, foi, sim,  real e sagrada, a fazer-se sentir no mais simples e no mais profundo, na verificação de que tudo em redor se acabou por harmonizar e se harmonizou para mim.

 No momento mais solene, senti, intrinsecamente, a sua Voz e Presença em cada fibra do meu ser, o que fez com que as minhas águas deslizassem pela face, de pura emoção, gratidão, reconhecimento e entrega.

 Também aqui a perfeição e o sentido,  na sacerdotisa que me conduziu, assim como na que me recebeu.

 Sei que o que vivi me aconchegará, exponenciando a minha e a Sua força,  e que o meu enlevo acalentará os meus dias, fazendo-me sorrir secretamente nos momentos mais inesperados.

 Sei que longamente o esperava, tal como Ela por mim, tal como a Vida Plena e a Abundância por nós, a cada instante.

 Vou voltar. Sei que estou com Ela, que por Ela ansiava. E que Ela sempre me buscará.

 Obrigada.

 Fátima

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 “Hoje partilho algo que aprendi com as 17 mulheres e o homem que estiveram na criação, gestação, nutrição, manifestação, realização e celebração de um o Sonho.

 A manifestação de um sonho, ou projeto grandioso Feminino precisa da força da

 Coragem e Ousadia

 Confiar e acreditar que é possível

 Precisa de;

 Resiliência

 Paciência

 União,

 Sustentação

 Desapego

 Perda

 Isto tudo sem perder 

 Foco

 

 Flexibilidade

Porque um sonho grandioso manifesta-se sempre!

 Trabalhar num projeto Feminino com o envolvimento de muitas pessoas, precisa de foco, flexibilidade e planeamento

 O Sonho é a manifestação do Fogo do amor e da paixão

 O foco, a manifestação da Terra

 O mapa de orientação, a intuição do elemento Ar

 A flexibilidade, a água que contorna os obstáculos

 E a alquimia acontece.

 Agora quanto ao guião das etapas e fases,

 esse é cíclico, espiralado, flexível, mutável, misterioso, criativo, desafiador,

 A Deusa em movimento

 Uma dança cheia de graça

 Recalcular a rota é uma habilidade feminina

 O labirinto está dentro de nós

 As mulheres guerreiras nunca desistem.

 Têm elevada resistência a frustração

 O ego apaziguado

 As mulheres que amam e curam mulheres,

 Não abandonam, apenas se afastam e esperam o momento oportuno para voltar

 Não julgam embora sejam altamente críticas, mas respeitam

 Não traem, mas conversam entre si e chegam a um consenso

 Não humilham, mas respiram fundo e corrigem

 Não rejeitam, mas pedem um tempo para esclarecer, curar, pensar e voltar

 Entendem a alma feminina e aos poucos vão aprendendo a viver neste universo do feminino.

 Não utilizam as fraquezas da outra para brilhar.

 Para uma mulher fazer parte do sonho ou projeto de outra mulher

 É preciso que este lhe faça sentido, tenha uma razão e utilidade

 Precisa ter ressonância com a sua verdade, essência e missão de alma.

 Precisa de amar o Feminino em si.

 É preciso também, ter alma de guerreira e amiga e saber celebrar.

 A forma como tratamos as mulheres é a forma como nos tratamos.

 A conferência aconteceu através da manifestação da Deusa, no Coração dos Mistérios Sagrados de cada Mulher e de cada Homem,

 Afinal é possível trabalhar com mulheres, SIM!

 Quando o Sol e a Lua sabem dar o seu lugar no movimento cíclico do amanhecer e do entardecer.

 Mariette Capinha

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 Hoy hace una semana desde la que nada volverá a ser igual.

 Nunca pensé que la experiencia de una Conferencia fuera a cambiarte, a transformarte tanto, a regalarte tanto...

 Ha sido increíble desde el principio de ese viaje en coche, hasta el final, envuelta en un abrazo.

 Gracias @conferenciadadeusaportugal    por tanto, por las conferencias, los workshop, la comida, la danza, el amor en cada altar, en cada detalle...

 Gracias tribu porque sin vosotr@s nada hubiera sido igual!!! Vengo cargada de mensajes, removida de la cabeza a los pies, con fuego en los ojos y con un sentimiento de unión y comunidad que ya no se irá.

 Patricia (Espanha)

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 “Gratidão, sentido de comunhão, realização, Amor, amor e amor, será  pouco para exprimir o que sinto. Não há cansaço, nem ausência de sono que resista à maravilhosa energia de Amor que esteve presente neste fim de semana!!!

 Obrigada Luiza Frazão e todas as irmãs de caminhada que estiveram presentes, a todas e todos os participantes.

 Esta conferência foi mais que um sonho, foi um constante desafio. Tal como a cobra muda de pele, como a água encontra o caminho através de leitos nem sempre fáceis, até ao último minuto fomos constantemente desafiadas.

 Chegar ao final a transbordar felicidade, Gratidão e energia de Amor, todos em abundância, foi a melhor prenda que podia ter tido!

 Além de todas as vivências ritualísticas, cerimoniais, emocionais e sociais,  tenho que realçar o seguinte,  pois para mim será inesquecível: facilitar um workshop em conjunto com a minha querida irmã  Juliana Di Avalon, em que a energia do tarot da Imperatriz, dos elementos sagrados, expressos através  da dança circular sagrada e sua abertura nos nossos corações,  a um círculo de participantes perfeito, foi das experiências mais enriquecedoras, de respeito e partilha que tive neste meu percurso de professora de danças circulares sagradas, em fusão com o de sacerdotisa. Minha querida Juliana Di Avalon, obrigada! És maravilhosa!

 Bem hajam. Estão no meu Coração em Amor. Todas e todos!!!”

 Sandra Coelho



Imagens: 

 1. Grupo Cerimonial e Sacerdotisas do Círculo

 2. Altar principal

 3. Celebrando o regresso da Senhora do Verão

 4. Escritora Mary Sharratt (autora de Illuminations, Ecstasy, Revelations, entre outros títulos)

 5. Bailarinas do Espaço Reyel com Ana Bergano

 6. Altar à Deusa Maia, Rainha de Maio

 7. Grupo Cerimonial (fotografia de Sara Miguens)

 8. Danças circulares