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segunda-feira, 30 de maio de 2011

INVOCAÇÃO DAS DIVINDADES DO CABEÇO DAS FRÁGUAS


A CONFIANÇA NOUTRA MULHER



“Creio que iniciaticamente, toda a mulher nasce uma segunda vez de outra mulher que não é a sua mãe. Pela confiança noutra mulher, que já não é vista como uma rival, ela reconhece o seu feminino, abre-se a uma outra dimensão de amor."
Paule Salomon

Imagem: a Astróloga Maria Flávia de Monsaraz, que ajudou já muitas mulheres a renascerem...

sábado, 28 de maio de 2011

Apostar numa visão - Mães de Transição


"As Mães de Transição pretendem constituir-se rede de apoio local e ao mesmo tempo família alargada.
Assim, existe uma componente concreta, prática, de resolução concreta de problemas, de dificuldades ou do puro e simples isolamento que faz tão mal.
E existe uma outra componente mais de carácter emocional, que pressupõe o estreitamento de laço e a continuidade no tempo.

Assim, quem procura uma pessoa amiga encontra. Quem precisa de apoio com os filhos, encontra. Quem precisa de resolver questões da casa, das compras, do dia-a-dia; encontra. E quem imagina projectos mas não tem contexto, nem enquadramento e precisa de formar equipa com pessoas dentro do mesmo comprimento de onda... encontra.

As mulheres juntas sem competir são uma força extremamente poderosa, porque utilizam a empatia como ferramenta de rede e coisas espantosas acontecem quando dezenas de pessoas utilizam a Empatia como forma de estar na vida.

As mulheres juntas, em apoio mútuo, deixam de sentir solidão, desamparo. Deixam de ter de pôr tudo em causa e a elas mesmas. Podem curtir a vida. Podem ter coragem. Podem cuidar dos filhos com alegria.
É por isso que ajudar uma mãe a sentir-se bem, é ajudar uma família inteira e com isso novos valores de integração na próxima geração.

Ajudar uma mãe a sentir-se bem, não é ser terapeuta dela, ou conselheira, ou psico-analista.
é ser IGUAL.
É ser igual no essencial, no fundo de tudo o que realmente importa.
É por isso que apostamos na aceitação, na partilha, da importância de todos os pequenos gestos, sem cobrar, sem querer mudar a outra pessoa, sem querer nada que não seja participar com alegria num projecto de companhia.

Isto passa por trabalharmos estes valores, divulgamos estes valores, e mantermos uma relação estreita, com apoios, iniciativas e envolvimento; nos quais esta forma de estar vá encontrando cada vez mais raízes e mais fortes, dentro do coração de mulher e de mãe, de cada uma de nós.

Esta é a minha visão.
Quem quiser participar nisto comigo é bem vindo, precisamente por isso:
- Porque juntas somos incrivelmente mais fortes.

Aceitam-se colaborações concretas em todo país e mesmo fora do país.
Entrem em contacto com 92 778 36 02 ou mail maesdetransicao@gmail.com
http://participarnasmaes.blogspot.com/ "

Sofia Machado

Imagem: Laurie Blank, Sunday Morning

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Elizabeth Taylor - Uma colossal deusa pagã



Ela conquistou o Oscar por Butterfield 8
"Butterfield 8 foi a minha bíblia. Elizabeth não queria fazer esse filme. Odiou o papel durante toda sua vida. Mas Butterfield 8 significou tudo para mim como adolescente. O filme formou muitas das minhas ideias sobre a tradição pagã que nos chegou da Babilônia e sobreviveu à violenta investida cristã na Idade Média. A primeira vez que você a vê no filme, naquela combinação apertada, colada no corpo, é fascinante. O vestido jogado no chão, ela escova os dentes com uísque, vai para diante do espelho e escreve, raivosamente, "não estou à venda" com batom. Para mim ela representava o poder supremo da mulher sexual. Houve um grande ataque feminista contra o símbolo sexual de Hollywood como se fosse mero objeto, uma commodity, passivo diante do olhar masculino. Isso é estupidez. Em Butterfield 8 há uma cena no bar em que ela está usando um vestido preto e brigando com Laurence Harvey. Ele a agarra pelo braço e ela pisa no pé dele com o salto fino do sapato. É o macho versus a fêmea - um jogo feroz em pé de igualdade. Ele é forte, mas ela também é. Essa cena mostra o poder e a intensidade da heterossexualidade, com todas as suas tensões e conflitos. Mostra também quão terrível é o cinema de Hollywood atual - com seu sexo falso e manufaturado. Butterfield 8 crepita de erotismo por causa da distância psicológica e a atração animal entre o macho e a fêmea. O filme captura as complexidades e lutas da sexualidade - tudo isso foi perdido neste nosso período de mudança de gênero fácil. A era das grandes rainhas do cinema acabou. Sharon Stone teve seu momento estelar em Instinto Selvagem. Não só na famosa cena do interrogatório na delegacia de polícia, mas em todas as outras ela comandou o sexo e a câmera. Ali, tive um breve momento de esperança: será que o sexo finalmente voltou a Hollywood? Mas não, eles jamais apresentaram novamente alguma coisa boa como essa para Sharon Stone."

Camille Paglia

Vale a pena ler toda a entrevista em:

http://zelmar.blogspot.com/2011/04/camille-paglia-entrevista.html

terça-feira, 17 de maio de 2011

MARIA


Me sentindo vazia
Fria
Nua
Fui pra rua
Respirar a Lua
E me vestir de pérolas
E ao raiar do dia
Eu vi Maria
Saindo pra luta
Pra labuta
De toda manhã
De toda tarde
De toda noite
Pra todo gosto
Todo desgosto
Pra qualquer troço
Qualquer troco
Na valentia
Trazer o pão-nosso
De cada dia
Na fábrica
Na calçada
Na empresa
Na mesa
Na cama
Na casa
Na carga
Da dupla jornada
Eu vi Maria
Na tia
Na avó
Na empregada
Na doce amada
Na inocente
Na demente
Na vadia
Eu vi Maria...
Há muitas eras
Em muitas terras
Com muitos nomes
Sagrada
Consagrada
És Senhora da Terra
Senhora das Águas
Senhora dos Céus
Senhora do Mar
Senhora do Escuro
Senhora da Luz...
Me olho no espelho
Me acho sem graça
E o que vejo é Maria
Cheia de graça
Sorrindo pra mim...
Maria dos montes
Das fontes
Das brumas
Maria pagã
Maria cristã
Maria das virgens
Maria das santas
Das meretrizes
Das cicatrizes
Guardadas na alma
Maria que acalma
As filhas
As mães
As avós
Velai por nós...

Ana Paim

http://desombrasedeluzanna-paim.blogspot.com/2011/05/maria.html

sábado, 14 de maio de 2011

GAROTAS BOAZINHAS


O que nós somos muitas vezes é garotas boazinhas, com medo de fazer errado, de DESAGRADAR, de apanhar…

Então tu podes, tu deves quebrar essa imagem, esse espelho, gritar, barafustar. SER EXCESSIVA! SER TU MESMA, de forma egoísta, autocentrada, emocional…

Depois de saberes que podes ser tudo, agradar e desagradar, calar e falar, gritar e cantar… depois disso, e só depois disso, tu podes começar a sentir o que é melhor para ti, o que te desequilibra e equilibra, a ouvir o silêncio, a intuição que é exactamente abrires-te, depois de teres feito silêncio, para a grande mente cósmica…

Agora não penses que o consegues fazer antes de teres explorado os teus territórios e reclamado a sua posse… Vais ficar como uma panela de pressão prestes a explodir à primeira oportunidade, uma bomba relógio…

Imagem: Kate Kretz

HONRAR O CONHECIMENTO INTUITIVO


"As mulheres honram o seu Caminho Sagrado quando se dão conta do conhecimento intuitivo inerente à sua natureza receptiva. Ao confiar nos ciclos dos seus corpos e permitir que as sensações venham à tona dentro deles, as mulheres vêm sendo videntes e oráculos das suas tribos há séculos. As mulheres precisam de aprender a amar, compreender, e desta forma, curarem-se umas às outras. Cada uma delas pode penetrar no silêncio do próprio coração para que lhe seja revelada a beleza do recolhimento e da receptividade.

O verdadeiro sentido dessa conexão ficou perdido no nosso mundo moderno. Na minha opinião, muitos dos problemas que as mulheres enfrentam, relacionados com os órgãos sexuais, poderiam ser aliviados se elas voltassem a respeitar a necessidade de retiro e de religação com a sua verdadeira Mãe e Avó, que vêm a ser respectivamente a Terra e a Lua." Jamie Sams

“Se você, Mulher, Mãe, jovem ou anciã ouve esse chamamento...

Esteja num círculo de mulheres!” Carol Magri

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A LUA QUE MENSTRUA




Aviso da Lua Que Menstrua
Elisa Lucinda

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
Às vezes parece erva, parece hera
Cuidado com essa gente que gera
Essa gente que se metamorfoseia
Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
E ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
Mas é outro lugar, aí é que está:
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
Que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
Transforma fato em elemento
A tudo refoga, ferve, frita
Ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
É que tô falando na "vera"
Conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
Ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
Já se alcança a "cidade secreta"
A atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
Cai na condição de ser displicente
Diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
Que a mulher extrai filosofando
Cozinhando, costurando e você chega com mão no bolso
Julgando a arte do almoço: eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
Então esquece de morder devagar
Esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
Chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
Vaca é sua mãe, de leite.
Vaca e galinha...
Ora, não ofende, enaltece, elogia:
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite
Pensando que está agredindo
Que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

A REPUGNÂNCIA DO CRISTIANISMO PELO CORPO FEMININO


“O povo amava as senhoras pejadas. Ardentemente as veneravam as mulheres. Orando por uma hora “breve”, uma “hora pequenina”, um “bom sucesso” no parto. Apelando à Senhora como seu princípio, o princípio feminino no céu.”

“A Senhora Mãe acalentando o seu filho. Nos braços. No regaço. Ao seio, nessas quase desconhecidas Senhoras do Leite. Mas, além destas imagens expostas, divulgadas, outras há. Durante anos e anos estiveram escondidas. Foram veladas. Foram enterradas. E até destruídas: são imagens das virgens pejadas, prenhadas, as senhoras do Ó ou da Expectação. Virgens grávidas. O repúdio oficial que as atingiu é significativo do que Simone de Beauvoir chama “a repugnância do cristianismo pelo corpo feminino” que “é tal que consente em votar o seu deus a uma morte ignominiosa, mas afasta-o da "mancha” do nascimento”.

Excertos de artigo de Helena Neves

in O Público 2004

Imagem Google (Nossa Senhora do Leite)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

ORAÇÃO DAS MULHERES GUARDIÃS DA TERRA


MEDITAÇÃO COLETIVA PELA TERRA A 21 DE MAIO, ÀS 22H30.

ORAÇÃO DAS MULHERES GUARDIÃS DA TERRA

“O meu coração de mulher é aspergido

com o doce néctar da cura

que a Mãe Cósmica faz chegar até mim.

Neste momento sou parte do Círculo Sagrado de Mulheres de Luz,

e unida às minhas irmãs, activo a minha força espiritual

para irradiar energia amorosa

através das minhas mãos e da minha consciência.

Peço-te, Mãe Cósmica, que abençoes as minhas mãos

e as mãos d@s meus e minhas irmãs e irmãos de todo o mundo

para poder canalizar aqui e agora a tua Luz Curadora para a Mãe Terra.

Peço-te, Mãe Divina, que faças de nós um instrumento da tua paz.

Peço-te, Mãe Divina, que faças de nós um instrumento do teu amor.

Ajuda-nos a despertarmos como Mulheres Sagradas, guerreiras do Amor, defensoras da Vida.

Acompanhada pela força espiritual de todas as minhas irmãs,

envolvo a Terra numa intensa Luz Violeta

e limpo-a de todas as suas feridas.

Liberto neste instante a sua dor e sofrimento,

e envolvo a terra numa serena Luz Rosa,

enchendo de vibração amorosa cada recanto deste planeta.

O poder de gestação do meu útero une-se ao poder de gestação dos úteros das minhas irmãs,

E entre todas formamos um círculo sagrado de proteção da Mãe Terra.

Estando juntas e conscientes do nosso poder feminino unido,

o nosso Amor é uma arma concreta,

mais poderosa que qualquer arma de guerra.

Abro nas minhas circunstâncias atuais canais para a Graça Divina.

Comprometo-me a ser Guardiã da Mãe Natureza,

amando e cuidando de tudo aquilo que a Deusa criou na Terra.

Comprometo-me a manter sempre viva esta oração,

fortalecendo o Círculo de Mulheres de Luz.

E através dos meus atos quotidianos

Comprometo-me a semear Amor em toda a Terra.”

“2.222 mulheres em meditação poderiam mudar o mundo.”

https://www.facebook.com/event.php?eid=138391236232100

http://circulomujeres.wordpress.com/


segunda-feira, 9 de maio de 2011

AS DEUSAS DUPLAS - O CULTO DA MÃE E DA FILHA


Entre as inúmeras imagens de deusas antigas, encontram-se com frequência esculturas – em pedra, osso, argila – pinturas ou vasos em forma de deusas duplas ou geminadas. Elas simbolizam a polaridade biológica e oculta do princípio feminino, a eterna dança entre vida e morte, luz e escuridão, as fases da Lua, os ciclos da Natureza e da vida humana. Nos antigos Mistérios Femininos, as deusas duplas - aparecendo como mãe e filha ou irmãs - expressam os elos profundos dos laços de sangue, a solidariedade e parceria femininas, sendo um incentivo para a reformulação dos conceitos contemporâneos de cooperação e competição entre as mulheres.

A dupla de deusas simbolizava a soberania feminina na maioria das culturas pré-patriarcais, no nível espiritual e profano, representada pelos cultos matrifocais e a linhagem matrilinear. Com o passar do tempo, o ícone da Deusa Dupla metamorfoseia-se em Duas Mães, Senhoras, Irmãs ou Rainhas, reafirmando os laços de sangue e a parceria femininas. A iconografia da Deusa Dupla fortalece o conceito da natureza ambivalente da Grande Mãe, cujos polos de vida e morte se complementam numa mandala que mescla as forças de nascimento, crescimento, morte e renascimento. As mulheres espelham esta biologia bipolar, alternando nos seus corpos as fases hormonais (ovulação/menstruação), emocionais (expansão/retração) e espirituais (manifestação/contemplação). Nas culturas antigas ambas as polaridades eram honradas e consagradas, os rituais sendo organizados em função desta dualidade rítmica.

Assim como em outras mitologias, no Egito o tema da Deusa Dupla permaneceu durante milénios e era representado por várias deusas como Nekhbet/Wadjet, Tauret/Mut e Ísis/Nepthys.

A conexão complementar entre Ísis e Nephtys é muito antiga, dividindo entre si as regências: a luz lunar, a estrela matutina e o mundo visível e manifesto pertenciam a Ísis enquanto a face negra e oculta da Lua, a estrela vespertina e o mundo invisível e não manifestado eram o domínio de Nephtys. A sua dualidade – como faces opostas mas complementares da Grande Mãe – espelhava a dos seus maridos e irmãos, Osiris, deus da luz e fertilidade da terra e Seth, regente da escuridão e aridez do deserto.

Irmã gémea de Ísis, filha da deusa celeste Nut e do deus da terra Geb, Nepthys – ou Nebet Het - tem uma simbologia complexa e aparentemente contraditória. Ao mesmo tempo em que representa o fim da vida – seu nome simbolizava os “confins da terra e do tempo” - ela também anunciava o renascimento. O Seu tempo sagrado era o anoitecer, quando o barco solar mergulhava nas profundezas da terra, delas ressurgindo na manhã seguinte abençoado pela luz de Ísis. O Seu título era a “Senhora da Casa” reproduzido pelo hieróglifo e a imagem sobre a sua cabeça, o de Ísis sendo “A Senhora do trono”, que adornava a sua cabeça.

Enquanto Ísis governava o céu e a terra, o domínio de Nephtys era o mundo desconhecido e misterioso dos sonhos, do inconsciente e dos fenómenos psíquicos, bem como a realidade desafiadora da transformação dos mortos em seres de luz .O que acontecia no mundo astral (de Nephtys) afetava o mundo natural (de Ísis), assim como também o contrário. A morte era uma passagem estreita da luz para a escuridão, mas a alma precisava de atravessar esta escuridão para alcançar novamente a luz, conforme dizia esta frase gravada nos sarcófagos egípcios: “Que possas acordar para uma nova vida com as bênçãos de Nephtys, que te renovou durante a noite fria e escura”.

Nephtys era a padroeira do sofrimento feminino e também da cura, enviando sonhos curadores e energias de alívio aos doentes, bem como apoiando os moribundos na sua passagem, o que a tornou a deusa guardiã dos ritos fúnebres. Juntamente com Ísis, ela foi a criadora dos rituais de reverência aos deuses e das práticas templárias e mortuárias. Chamadas de Ma’aty – a dupla verdade – as irmãs eram “As Senhoras”, que apareciam em forma de pássaros migratórios nos sarcófagos para descrever o inverno (e a morte), bem como a primavera (e o renascer). Representadas juntas e com as asas estendidas ao lado dos faraós sobre os seus sarcófagos, elas não apenas simbolizavam a sua proteção, mas também o seu renascimento. O espaço entre as suas asas forma o símbolo ka, o abraço divino que contém o todo e todas as suas partes.Isis e Nephtys tornam-se uma deusa só quando juntam as suas energias complementares e assistem Osiris na sua ressurreição, assim como fazem com o Sol (na sua passagem entre noite e dia) e acredita-se que farão com todas as almas na sua transição entre vida/morte e renascimento.

Mirella Faur

in. http://witchclubhouse.blogspot.com/2010/03/o-culto-da-mae-e-da-filha.html

Imagem Google (as deusas egípcias Íris e Nephtys)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

PARA UMA MULHER QUE NOS INSPIRA TANTO


PARA ROSA LEONOR PEDRO

"Rosa, minha deusa…aceita meu amor…
Meu amor de filha, minha Ceres Iluminada...
Meu amor de aprendiz, rebelde às vezes... mas leal...

Às vezes, nós, meninas mais crescidas, ainda demoramos muito tempo a perceber toda essa intricada trama patriarcal, com as suas fantasias-armadilhas... ainda nos deixamos enredar por elas, ainda nos sufocamos e ficamos com os pés no ar, no cadafalso... Só quando sentimos de novo a chama ardente, e o grito que coa de dor dentro de nós, lembramos quem nós verdadeiramente somos...


Ainda serei rebelde muitas vezes, como uma filha perdida no inferno de Hades...

Ainda, se calhar, cairei na armadilha, vou desmaiar de medo, fazer xixi na cama, vou voltar com a cabeça cheia de piolho... kkkkkkkkkkkkkk... coisas q só uma mãe sabe cuidar...
Você ainda vai ralhar comigo, ficar zangada e rabugenta, praguejando as suas bruxarias.... kkkkkkkkkkk... mas eu estou aprendendo... eu, como tantas irmãs...

Já posso me sentar de noite na mesa da cozinha e beberiscar qualquer coisa, delirar, voar com minha vassoura... Vamos rir de madrugada, aquelas risadas de bruxa e fofocar das meninas ainda perambulando pelos reinos dos Hades modernos... tão perdidas, tão tontinhas... kkkkkkkkkkkkkkkk... vamos rir risadas de bruxa, fazer uma fogueira de madrugada no nosso quintal e dançar nuas, na chegada de alguma primavera... e não vamos dançar sozinhas... da sua semente, da minha, e de outras... novas flores e frutos irão ser ofertados a Ostara, à Ceres, a todas as deusas diânicas que zelam pelo feminino do mundo e preparam seu retorno...

Acho que eu só conheço uma mulher que não tem medo de ser bruxa, que não tem vergonha; muitas são ainda aprendizes como eu, algumas se apegam a receitas, alegorias, vassouras e chapéus, mas não são bruxas no essencial... são cinderelas brincando de bruxa... completamente submissas ao patriarcado, ainda dedicadas aos homens... e não estão de verdade ligadas às mulheres... nem à mulher em si mesma, nem à mulher ancestral... Queremos isso, mas ainda não chegamos lá... é que algumas mulheres, mesmo despertas, só tem coragem de seguir, segurando a mão do homem, ele é quem dá segurança, ainda não estamos religadas com as deusas altivas, fortes, poderosas, ainda não estamos no ciclo sagrado, apenas queremos entrar... Sonhamos com ele, desejamos a tenda sagrada das velhas sábias, desejamos de todo coração, tocar suas mãos, ajoelhar e pedir a bênção, como eu fazia com minha avozinha quando era pequena... Queríamos ao menos espiar, como meninas ainda, de pés no chão, que acordam de madrugada curiosas e ouvem o buchicho vindo da tenda, o burburinho das vozes, as melodias dos instrumentos, o cracalhar da fogueira... vemos os vultos, da dança... indecente, libidinosa, daquelas deusas safadinhas e serelepes...

Hoje, me sinto uma menina, que acordou a meio da noite, junto com outras, e espiamos as velhas bruxas, dançando nuas, para além daquela fogueira, e nós só vemos os vultos, esperamos o dia em que também estaremos em volta da fogueira... acho que eu ainda tenho tanto a aprender que nem sei andar ainda, estou engatinhando... mas tenho muita sede... sede de aprender e de fazer parte desse trabalho, de leva rosas para o altar, e descalçar minhas sandálias, para dançar nua, festejar a chegada da primavera... e homenagear deusas como você, Rosa Leonor, a Ceres de todas nós, ainda perdida nos subterrâneos de Hades, nós, Persefones virtuais... todas q queremos ser bruxas de verdade... e ainda estamos engatinhando, dando os primeiros passos... desejo de todo coração viver o dia em q as mulheres finalmente serão de fato leais umas com as outras, sem medo... essa força feminina, essa rede de amor fraterno, essa rede de luz, q fará de todas nós mulheres verdadeiras... muito diferente do que hoje em dia se considera ser mulher (se deitar debaixo de um falo...)

Seremos mulheres, deusas e bruxas... dançando descalças em volta da fogueira...
Celebrando mulheres como você, incansável Sacerdotisa...
Aceita-me, como uma menina de joelhos, com a mão estendida, esperando a sua bênção, como adulta, na mesma posição, expressando o meu reconhecimento ao seu valoroso trabalho em prol de todas nós e do feminino do mundo... o meu agradecimento por todo esse percurso em que me ensina tanto...

Aceita meu amor, minha gratidão e minha lealdade... te amo Rainha Rosa..."

NANA ODARA

Imagem: Google (altar de Hécate, Deusa da Sabedoria)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

EM DEFESA DA RAPARIGA EM NÓS



LEGENDADO EM PORTUGUÊS

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EU SOU UMA CRIATURA EMOTIVA

Adoro ser uma rapariga.
Posso sentir o que tu estás a sentir
como te estás a sentir agora
e aquilo que sentias
antes.

Eu sou uma criatura emotiva.
As coisas não vêm a mim
como teorias intelectuais ou ideias muito estruturadas.
Elas pulsam através dos meus órgãos, sobem pelas minhas pernas
e queimam os meus ouvidos.
Eu sei quando a tua namorada está farta
mesmo que penses que ela te está a dar aquilo
que tu queres.
Eu sei quando uma tempestade se aproxima.
Posso sentir a vibração no ar.
Posso dizer-te que ele não vai voltar a ligar.
É cá um feeling que eu tenho.

Eu sou uma criatura emotiva.
Adoro levar as coisas a peito.
Tudo para mim é intenso.
O meu estilo de andar na rua.
A forma como a minha mãe me acorda.
A maneira como ouço as más notícias.
Como fico bera quando perco.

Eu sou uma criatura emotiva.
Estou ligada a tudo e a tod@s.
Nasci assim.
Não te atrevas a dizer que tudo isto é mau
coisas de adolescentes
ou que é só porque eu não passo duma rapariga.
Estes sentimentos fazem-me melhor.
Fazem-me estar pronta.
Estar presente.
São eles que me dão força.

Eu sou uma criatura emotiva.
Há uma forma específica de saber.
E as mulheres mais velhas já a esqueceram.
Que bom que ela ainda esteja no meu corpo.

Eu sei quando o coco está prestes a cair
Eu sei que nós já abusámos demais da terra.
Eu sei que o meu pai não vai voltar.
Que ninguém está preparado para o fogo.
Eu sei que o batom
não é só aquilo que parece.
Eu sei que os rapazes se sentem super-inseguros
e que os terroristas não nascem já feitos.
Eu sei que um beijo pode acabar
com a minha habilidade para tomar decisões
e, sabes, às vezes, é bom que assim seja.

Isso não é o fim do mundo.
São coisas de raparigas.
O que todos devíamos ser
se a grande porta dentro de nós continuasse aberta.
Não me digas para não chorar.
Para acalmar
Para não ser tão exagerada
Para ter juízo.
Eu sou uma criatura emotiva.
Foi assim que a terra foi feita.
É assim que o vento continua a polinização.
Tu não podes dizer ao Atlântico
que tenha modos.

Eu sou uma criatura emotiva.
Por que me queres derrubar
ou desligar?
Eu sou aquilo que resta da tua memória.
Eu estou ligada à tua fonte.
Nada foi ainda diluído.
Nada vazou.
Eu posso trazer tudo de volta.
Eu adoro poder sentir o que vai na tua alma
os teus sentimentos,
mesmo que eles acabem com a minha vida
mesmo que magoem muito
ou me façam descarrilar
mesmo que destrocem o meu coração.
Ela tornam-me responsável.
Eu sou uma criatura emotiva
devotada, incondicional
E, ouve-me, eu adoro,
adoro, adoro
ser uma rapariga.


Eve Ensler, dramaturga e ativista, é a fundadora da V-Day, um movimento global para acabar com a violência contra mulheres e raparigas. Em conjunto com o EU SOU UMA CRIATURA EMOCIONAL, V-Day criou um programa-piloto, V-Girls, para mobilizar as mulheres jovens para o "empowerment filantrópico" proporcionando-lhes uma plataforma que lhes permite amplificarem as suas vozes.

(Tradução Luiza Frazão)

domingo, 1 de maio de 2011

A EXPERIÊNCIA DO FEMININO NA SUA MAIS PURA ESSÊNCIA


"Uma penteadeira toda cercada de espelhos que refletiam frascos de cristal; tinha pequenas gavetas que eram um fascínio, com caixas de perfumes e de pó-de-arroz e, entre a tampa da caixa e o pó, uma espécie de esponja levíssima que quando a gente soprava parecia voar. Uma cama de casal com um medalhão de madeira clara desenhado na cabeceira. A cama usualmente era coberta com um forro de cetim e, sobre este, uma colcha de cambraia branca com bordados abertos; no centro, outro medalhão de renda de filé fazendo o desenho de um cupido.

No quadro que em mim ficou gravado, a colcha de cambraia tinha sido dobrada; sobre travesseiros e deitadas no forro de cetim, duas mulheres amigas de minha mãe, e talvez minha mãe fosse uma delas, amamentavam seus bebês. Tinham tirado seus vestidos e estavam de combinações de cores claras, também de cetim. Outras mulheres estavam em volta, sentadas nos pés da cama e na banqueta da penteadeira. Todas falavam ao mesmo tempo e riam. Eu, a mais velha de muitas crianças que vieram depois, fui naturalmente admitida a um momento que era todo suavidade e graça. Participava de um mundo colorido e cheio de perfumes, de brilho de espelhos, cetins e cristais, um mundo cujo significado e mistério eu busca- ria sempre decifrar. Não se perpetuou como símbolo de maternidade mas de algo em que a maternidade simplesmente está inserida. Algo mais leve - uma realidade que ecoa dentro de mim como notas arpejadas, tênues, doces, traduzindo a experiência do feminino em sua mais pura essência."

Zelita Seabra (através de Mulheres & Deusas)

Imagem: Laurie Blank