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quinta-feira, 5 de maio de 2011

EM DEFESA DA RAPARIGA EM NÓS



LEGENDADO EM PORTUGUÊS

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EU SOU UMA CRIATURA EMOTIVA

Adoro ser uma rapariga.
Posso sentir o que tu estás a sentir
como te estás a sentir agora
e aquilo que sentias
antes.

Eu sou uma criatura emotiva.
As coisas não vêm a mim
como teorias intelectuais ou ideias muito estruturadas.
Elas pulsam através dos meus órgãos, sobem pelas minhas pernas
e queimam os meus ouvidos.
Eu sei quando a tua namorada está farta
mesmo que penses que ela te está a dar aquilo
que tu queres.
Eu sei quando uma tempestade se aproxima.
Posso sentir a vibração no ar.
Posso dizer-te que ele não vai voltar a ligar.
É cá um feeling que eu tenho.

Eu sou uma criatura emotiva.
Adoro levar as coisas a peito.
Tudo para mim é intenso.
O meu estilo de andar na rua.
A forma como a minha mãe me acorda.
A maneira como ouço as más notícias.
Como fico bera quando perco.

Eu sou uma criatura emotiva.
Estou ligada a tudo e a tod@s.
Nasci assim.
Não te atrevas a dizer que tudo isto é mau
coisas de adolescentes
ou que é só porque eu não passo duma rapariga.
Estes sentimentos fazem-me melhor.
Fazem-me estar pronta.
Estar presente.
São eles que me dão força.

Eu sou uma criatura emotiva.
Há uma forma específica de saber.
E as mulheres mais velhas já a esqueceram.
Que bom que ela ainda esteja no meu corpo.

Eu sei quando o coco está prestes a cair
Eu sei que nós já abusámos demais da terra.
Eu sei que o meu pai não vai voltar.
Que ninguém está preparado para o fogo.
Eu sei que o batom
não é só aquilo que parece.
Eu sei que os rapazes se sentem super-inseguros
e que os terroristas não nascem já feitos.
Eu sei que um beijo pode acabar
com a minha habilidade para tomar decisões
e, sabes, às vezes, é bom que assim seja.

Isso não é o fim do mundo.
São coisas de raparigas.
O que todos devíamos ser
se a grande porta dentro de nós continuasse aberta.
Não me digas para não chorar.
Para acalmar
Para não ser tão exagerada
Para ter juízo.
Eu sou uma criatura emotiva.
Foi assim que a terra foi feita.
É assim que o vento continua a polinização.
Tu não podes dizer ao Atlântico
que tenha modos.

Eu sou uma criatura emotiva.
Por que me queres derrubar
ou desligar?
Eu sou aquilo que resta da tua memória.
Eu estou ligada à tua fonte.
Nada foi ainda diluído.
Nada vazou.
Eu posso trazer tudo de volta.
Eu adoro poder sentir o que vai na tua alma
os teus sentimentos,
mesmo que eles acabem com a minha vida
mesmo que magoem muito
ou me façam descarrilar
mesmo que destrocem o meu coração.
Ela tornam-me responsável.
Eu sou uma criatura emotiva
devotada, incondicional
E, ouve-me, eu adoro,
adoro, adoro
ser uma rapariga.


Eve Ensler, dramaturga e ativista, é a fundadora da V-Day, um movimento global para acabar com a violência contra mulheres e raparigas. Em conjunto com o EU SOU UMA CRIATURA EMOCIONAL, V-Day criou um programa-piloto, V-Girls, para mobilizar as mulheres jovens para o "empowerment filantrópico" proporcionando-lhes uma plataforma que lhes permite amplificarem as suas vozes.

(Tradução Luiza Frazão)

5 comentários:

  1. ROSA LEONOR PEDRO disse:

    Eu adorei o vídeo e acho o trabalho dessa mulher extraordinário...mas não gostei da tradução de "menina" e por isso a Luiza fez bem em traduzir para rapariga, mas mesmo assim, ficaria mais contente se se falasse da MULHER porque é da Mulher autêntica que se trata...porque a ideia da menina traz-nos de volta a ideia generalizada da criança...e o que se trata aqui é mesmo da MULHER inteira, da parte da mulher que foi banida...e que tanta falta nos faz...mas enfim, congratulemo-nos por tão excelente trabalho!

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  2. Rosa, "menina" é a tradução brasileira; como sabe o termo "rapariga" é pejorativo lá. "Rapariga" parece-me melhor do que Mulher,neste caso, porque a autora fala dessa fase da vida das mulheres, que é de facto a fase "menina", não há mal nenhum nisso, mas, no caso, fica mais forte se falarmos de "rapariga". É a fase da vida mais decisiva e perigosa para a mulher, pois é quando estamos mais vulneráveis, mais emotivas, mas também mais livres e criativas. É um momento extarordinário, quando tudo se joga, sobretudo nos países de que fala a Eve Ensler, onde muito precoce e irremediavelmente se mergulha na idade adulta. Ora é esse momento de fulgor máximo na vida duma mulher que devemos honrar, preservar e usar mais tarde como uma extarordinária reserva de força.

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  3. ROSA LEONOR PEDRO:

    tem razão Luiza há que ter em conta os países as fases e as palavras e o seu sentido...eu sei que no Brasil o termo rapariga é mal visto ao contrário de cá...

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  4. Devo dizer que este trabalho me toca tanto porque como professora conheço de perto o extraordinário valor e o calibre das adolescentes e o modo como tudo isso é desvalorizado, amortecido e se volta contra elas no embate com a realidade patriarcal e o despertar duma sexualidade em que elas estão talhadas a "ficar sempre por baixo"...

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  5. Só acrescentar que esta discussão aconteceu no Facebook...

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