Este texto já foi escrito há alguns anos, numa altura em que apenas sonhava com Creta, não sabendo bem como e quando conseguiria concretizar o meu sonho... Ele entretanto concretizou-se em junho de 2015 e estas são as fotos tiradas na altura. Na última, estou deitada sobre a areia da praia de Malia e quando olho sobre a minha esquerda lá está a Deusa recostada na paisagem... pura epifania...
Foi este livro, O Cálice e a Espada, e a sua autora, Riana
Eisler, que me ajudaram a perceber por que é que no Movimento da Deusa toda a
gente, ou já foi a Creta e a Çatal Hüyük, ou se prepara para ir, ou quer
repetir a experiência.
Estas sociedades aparecem como o grande momento de glória
das sociedades ginocêntricas - muito mais correcto, na perspectiva da autora,
do que dizer “matriarcais”. Na verdade não havia domínio das mulheres sobre os
homens, mas sim parceria, cooperação, entre os dois géneros, embora os valores
que regiam a sociedade tivessem a ver com o feminino e as mulheres detivessem
grande autonomia, liberdade e poder.
A sociedade cretense é na realidade o tal Eldorado, porque aí
se encontraram vestígios dum modelo de organização social que funcionou muito
bem, e tudo leva a crer que isso se deveu ao exercício do poder no feminino.
Aqui a religião estava altamente ligada à arte a à recreação
e ocupava uma parte muito considerável da vida. A alegria de viver é
reconhecível em cada objecto de arte, o desenvolvimento económico é grande, a
distribuição da riqueza é muito equitativa e o nível de conforto muito elevado.
Não se nota que haja ambição pessoal nem o culto da
personalidade: nenhum-a autor-a assina as suas obras, nenhum rei regista em
crónicas, ou através de estátuas imponentes, os seus feitos heróicos. Daí
pensar-se que não seriam reis, mas sim… rainhas!
Não se verifica qualquer sinal de idealização da violência
masculina nem da força destruidora. Nestas sociedades o poder era interpretado
como responsabilidade, como cuidado com o bem comum, que era o mais importante.
Estou fascinada com Creta! A nossa Meca! Também quero lá ir
logo que possa, ainda por cima, as praias são lindíssimas…
O NOSSO JARDIM DOURADO
Será que também nós aqui poderíamos estar agora a desbravar
e a mostrar ao mundo a luz vibrante e inspiradora duma sociedade ginocêntrica
florescente do tipo da de Creta ou de Çatal Hüyük? A nossa querida Dalila Lello
Pereira da Costa acha que sim. Para ela, nunca nós conhecemos verdadeiro
progresso nem desenvolvimento como no Neolítico, em que a sociedade era… ia
dizer “matriarcal”, mas não digo, era ginocêntrica.
Ginocêntrica, diz a Riane Eisler, é muito mais correcto.
UMA HISTÓRIA QUE NÃO É NOSSA
Qual séc. XVI, qual quê! Como é que nós mulheres podemos
enaltecer um tempo em que os homens (não confundir, foram eles!) saíram daqui
para impor a outros povos que estavam sossegadinhos no seu canto, a sua Lei da
Espada, a escravatura, a conquista, a dominação?!
Essa não é a nossa história, queridas irmãs, e precisamos de
nos distanciar dela se queremos chegar a algum lado. Não esquecer que primeiro,
antes de agirem dessa maneira reprovável em todos os sentidos, tiveram eles de
nos dominar e escravizar a nós!
Essa história que nos contam na escola é aquilo que inglês
se designa por “history” (a história dele), diferente de “herstory” (a história
dela).
Enquanto mulheres, precisamos de nos dissociar dessa
história oficial, da qual mais legítimo seria sentirmos vergonha do que orgulho
e voltarmo-nos para a nossa história, aquela de quando éramos nós a dizer como
se devia fazer.
E é aqui que a Simone de Beauvoir em “O Segundo Sexo”, não
tem razão quando afirma que o domínio do homem sobre a mulher sempre foi uma
constante na história humana. Não foi. Graças a arqueólogas feministas, como a
Marija Gimbutas, e às descobertas de sociedades do passado altamente
desenvolvidas e prósperas que cultuavam a Deusa
e em que as mulheres detiveram papéis muito importante, não dominando
ninguém nem sendo dominadas, sabemos que nem sempre os homens dominaram as
mulheres.
AS NOSSAS
ANTEPASSADAS DO NEOLÍTICO
Então, a Dalila Pereira da Costa, que é muito discreta em
relação às reivindicações feministas, diga-se, mas supereficaz na defesa dos
valores femininos, dá-nos esta ideia de irmos atrás da nossa glória de
mulheres, descobrindo a força e o valor das nossas antepassadas, as mulheres do
Neolítico. E onde estão elas? Pois, muito perto… é lerem a Dalila (parece
difícil mas ultrapassado o medo de não percebermos nada, torna-se do mais
fascinante que já li nesta vida…) é lerem a Dalila, repito, com este objectivo
concreto: perceber aonde andam as nossas mulheres poderosas do Neolítico,
aquelas que não foram trucidadas, difamadas ou tornadas invisíveis pelos
patriarcas (romanos e cristãos e outros igualmente pouco recomendáveis), as
nossas Irmãs das Hespérides, que bailam felizes, livres e formosas como na
gruta de Cogul, nos vasos de Creta, nos templos de Çatal Hüyük… Aqui, segundo
reza a lenda, elas eram tão fortes que, ao mesmo tempo que fiavam, podiam
transportar à cabeça as tais “pedras formosas”...
UMA VISÃO QUE VALE A PENA
Algumas pessoas podem dizer que tudo isto é mentira, que nunca
existiu, que é pura invenção… Mas seja como for, acho que a uma invenção desta
natureza vale a pena darmos toda a nossa atenção e foco!
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