Comentário sobre a gilania de Jesus defendida pela autora
Riane Eisler em O CÁLICE E A ESPADA
“Jesus pregava o amor universal, a igualdade entre todos.
Ele denunciava as classes dominantes, não apenas os ricos e poderosos, mas
também as autoridades religiosas. A autora fala que a partir da nova
perspectiva da Teoria da Transformação Cultural é possível discernir um tema
espantoso e unificador: a visão da liberação de toda a humanidade através da
substituição dos valores androcráticos por valores gilânicos. Em toda a
trajectória de Jesus, fica evidente a presença de mulheres como discípulas e
líderes cristãs. Não parece que ele tenha feito diferenciação entre homens e
mulheres, pelo contrário, para os padrões androcráticos da época em que viveu,
ele defendia valores de igualdade entre todos.
Como em outras ocasiões de ressurgimento gilânico, a resistência
do sistema da época de Jesus foi muito forte. E os patriarcas da Igreja nos
deixaram um Novo Testamento, onde essa ideologia pregada por Jesus ficou
sufocada pela superposição de dogmas contraditórios, que foram necessários para
justificar a posterior estrutura e objectivos androcráticos da igreja.
Para conhecermos a verdadeira natureza do cristianismo
primitivo é necessário sair das escrituras oficiais e recorrer a outros antigos
documentos cristãos. Entre eles, o mais importante e revelador é o conjunto de
52 evangelhos gnósticos desenterrados em 1945. Esses ficaram enterrados por
quase 1600 anos e são anteriores aos evangelhos do Novo Testamento. O que de
mais importante encontrado nesses evangelhos, é o que fez com que Jesus fosse
morto, ou seja, o acesso à divindade não depende de uma hierarquia religiosa
encabeçada por um alto rabino, bispo ou papa. Esse contacto divino é possível
directamente através do conhecimento divino.
Nesses documentos fica claro também que Maria Madalena foi
uma das figuras mais importantes para o movimento cristão primitivo. Isso
talvez seja o que mais incomodou a igreja ortodoxa hierárquica, o fato de Jesus
colocar em posição de igualdade as mulheres.
Esses primeiros cristãos e cristãs ameaçavam o poder
crescente dos patriarcas da igreja e constituíam um grande desafio à forma como
as famílias patriarcais estavam estruturadas: dominadas pelos homens. O que
defendiam ameaçava a autoridade do homem sobre a mulher como fruto de
ordenamento divino. O cristianismo primitivo era visto como uma ameaça pelas
autoridades hebraicas e romanas e não apenas porque esses cristãos se recusavam
a adorar o imperador e prestar lealdade ao Estado, mas principalmente porque
eles questionavam s tradições das famílias vigentes, considerando as mulheres
como pessoas com seus próprios direitos.
Como antes e a maioria das que vieram depois, o cristianismo
tornou-se uma religião androcrática. E o evangelho do amor do cristianismo
original desandou terrivelmente. O Império Romano foi substituído pelo Sagrado
Império Romano.”
Já no ano 200 d. C o cristianismo estava se tornando
exactamente o tipo de sistema hierárquico e calcado na violência que Jesus
tanto se rebelou contra. E depois da conversão do Imperador Constantino, o
cristianismo se tornou um braço oficial, ou servo, do Estado.
Os líderes da igreja passaram a comandar pessoalmente a
tortura e execução de todos que não aceitassem a “nova ordem”. Em vez de ser um
espírito absoluto, como mãe e pai, Deus tornou-se explicitamente masculino.”
JSF
Imagem: Josefa d'Óbidos, Santa Catarina, igreja de Santa Maria, Óbidos
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