A condenação destas mulheres livres e sábias ainda agora continua a ensombrar a nossa psique...
“Michelet fala da feiticeira da Idade Média, conselheira, médica, adivinha e parteira. Ela era a única salvação da vida entediante e sofrida dos camponeses; ela trazia o sonho e a possibilidade de realização de desejos contidos numa época em que o clero e o sistema feudal impunham leis rígidas contra o corpo e a voz e, por que não dizer, contra a alma.
O medievalista Paul Zumthor fala-nos dessa época em que o corpo e a voz humanas eram condenadas à inércia, pelas rígidas leis cristãs, tais como o jejum, o voto de silêncio, a castidade e a autoflagelação, normas essas que se dirigiam contra as necessidades básicas do corpo humano: a fala, o movimento (imaginário e físico) e a voracidade.
Como manter inerte um corpo que palpita, que lateja, que tem como características primeiras o movimento e a fala? Como calar a voz?
O patriarcalismo cristão tentou calar a voz da mulher, paralisou o seu corpo e condenou-a a viver “fora da lei”, pois era impossível adequar-se a leis tão rígidas, tão mortais. Para não morrer, foi obrigada a estabelecer-se na “bordas” dum mundo marginal, num submundo, vivendo sempre à beira. O patriarcalismo cristão foi um indício da interpretação deformada do complexo de crenças que originou a chamada bruxa."
Ritos Encantatórios, os Signos que Serpenteiam as Chamadas Bruxas, Vânia Cardoso Coelho, S. Paulo, Annablume, 1998 (adaptado)
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