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Hella Haasse, por Diana Vandenberg |
Olá Amigos!
Ora então… aí vem (outra vez?!), o Dia Internacional da
Mulher, devidamente alindado com flores e chocolates…
E…, como era de prever… cá estou eu (outra vez?!) a
discordar de um dia dedicado ao GÉNERO feminino.
Alguns de vós já estarão a retorquir: “…tens de entender que
o “Dia” se justifica pois é uma chamada de atenção para a violência exercida
sobre a Mulher”.
Ai sim?! Então por que é que a violência sobre a Mulher tem
vindo a aumentar?! … apesar da
quantidade de “Dias” dedicados ao “Género Feminino”, como:
· “Dia
Internacional da Mulher – 8 de Março”,
· “Dia
Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres – 25 de
Novembro”,
entre outros, de certa forma relacionados:
· “Dia
Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência – 11 de Fevereiro”,
· “Dia
Internacional para Eliminação da Violência Sexual em Conflito – 19 de Junho”,
· “Dia
Internacional das Mulheres na Diplomacia – 24 de Junho”,
· “Semana
Mundial do Aleitamento Materno – 1 a 7 de Agosto”,
· “Dia
Internacional das Meninas – 11 de Outubro”,
· “Dia
Internacional da Mulher Rural – 15 de Outubro”,
· “Dia Mundial
para a Prevenção e Cura da Exploração, Abuso e Violência Sexual Infantil – 18
de Novembro”
Em Portugal, de acordo com Boletim estatístico
"Igualdade de Género em Portugal", em 2023 registaram-se 30.461
ocorrências por violência doméstica (em 2022, tinham sido 26.520 ocorrências),
das quais apenas 4.141 resultaram em condenações dos agressores. A “esmagadora
maioria das vítimas de violência doméstica” são mulheres (sete em dez, em 2023)
e “a larga maioria” de pessoas denunciadas e condenadas são homens (oito em
dez, em 2023)
Se acompanharem os relatórios anuais das Nações Unidas,
“Gender-related killings of women and girls (femicide/feminicide)”, poderão
constatar que, globalmente, o número de mulheres e meninas mortas pelos seus
parceiros íntimos ou outros membros da família foi, aproximadamente,
· 2021 -
45.000
· 2022 –
48.000
· 2023 –
51.000
E não estão aqui referidos os 612 milhões de mulheres e
meninas afectadas por guerras, mulheres que enfrentam situações brutais devido
às intervenções militares, fonte de um tremendo genocídio de mulheres, muitas
vezes acompanhado de violência sexual extrema e impunidade para os seus
agressores.
Em 2023, a proporção de mulheres mortas em conflitos armados
duplicou em comparação com 2022. Quatro em cada dez pessoas que morreram em
consequência de conflitos em 2023 eram mulheres. Os casos de violência sexual
relacionados com conflitos verificados pela ONU aumentaram 50% e o número de
meninas afectadas por violações graves aumentou 35%.
Digam-me vocês…
Sempre fomos assim ou, em algum momento, algo muito errado
aconteceu?!
Dei a este texto o título “O Sagrado Feminino”, ao qual até
devia ter acrescentado “ e O Sagrado Masculino”, porque, na verdade, ambos
deveriam estar juntos… e estão em desequilíbrio.
Os homens e as mulheres de hoje são seres frágeis e
manipuláveis porque, algures no passado, perderam o CONHECIMENTO de quem
realmente são, deixando-se levar pela cultura imposta pelas religiões, pelo
mercantilismo, pelo domínio territorial., ou seja, romperam a parceria com a
Natureza, com a “Mãe Terra”, Ela também vítima de violência.
Vários filósofos e investigadores, como Rousseau, Freud
entre outros, fizeram reflexões sobre como e a partir de quando o Ser Humano
ficou condicionado a um modo de viver antropocêntrico, hierarquizado,
escravizante e, em consequência, tão irremediavelmente conflituoso.
Como nasceu e germinou a civilização patriarcal, dominada
por “sacerdotes, generais e mercadores”??
A cultura patriarcal preconiza que “homem que é homem não
chora”, não se vulnerabiliza, usa a força física, assegurando assim que os
jovens nunca cheguem a ser homens conscientes da sua inerente conexão com a
Natureza, conscientes dos seus ciclos naturais, da sua capacidade de se
conectar com o seu lado feminino e de viver o seu lado masculino de forma
saudável, longe dos estereótipos tóxicos.
Líderes que equilibram as suas energias, masculina e
feminina, tendem a ser mais justos, compassivos e eficazes, promovendo um
ambiente de trabalho mais positivo e produtivo. Equilibrar o Sagrado Masculino
(analítico, racional, lógico, matemático) e o Sagrado Feminino (intuitivo,
criativo, sensível e artístico) ajuda a reduzir comportamentos agressivos e
violentos, promovendo uma cultura de paz e respeito.
Quando o homem perdeu essa ligação com o “Sagrado”, deixou
de conseguir solidificar os seus valores e princípios, começando a desrespeitar
o “Sagrado Feminino” que existe nas mulheres e também neles próprios.
A partir daí, o desequilíbrio instalou-se, dando origem à
opressão e dominação masculina. A sexualidade foi um dos pontos mais marcantes.
As religiões transformaram o acto de união entre homem e mulher ( divino e
sagrado) em pecado…, o mercantilismo transformou-o em negócio… e a mulher
fechou-se, para se defender de tanta subjugação e humilhação.
Acontece então que o impulso da mulher é entrar em luta
contra os homens em geral.
Nos últimos cem anos, movimentos de mulheres têm lutado pela
igualdade de oportunidades, a nível de cargos de liderança, diferenças
salariais, responsabilizando os homens pela violência física e psíquica contra
as mulheres…, mas o desequilíbrio permanece porque, nem homens nem mulheres
acolheram ou respeitaram o Sagrado Feminino, a Energia que é maternal, que é
beleza, afecto, sensualidade, criatividade, inspiração, intuição.
Para complicar, o falso binário de “GÉNERO” transformou-se
numa ferramenta de divisão sexual, uma forma de desigualdade, que se articula
com outras, como a classe, a etnia, a idade.
Esse é o mundo em que ainda nos encontramos…
Por isso é que algumas mulheres que estão em lugares de
liderança não conseguem ainda resgatar, dentro de si, o Sagrado Feminino e usar
a criatividade, a inspiração, a intuição, para ajudar os homens a criar um
mundo de equilíbrio e harmonia…
Por isso e que Ursula van der Leyen saiu de uma reunião onde
era suposto ser encontrado um Caminho para a Paz…, a dizer que é urgente
fabricar armas… E, como dizia Eduardo Galeano: “As armas exigem guerras e as
guerras exigem armas”
O conceito de “Sagrado Feminino” e “Sagrado Masculino” não é
que “homens e mulheres” sejam opostos, mas que existem energias complementares
dentro de cada Ser, que precisam de estar em equilíbrio.
O Sagrado Feminino é uma metade do Todo; o Sagrado Masculino
é a outra metade. Juntos, eles criam um mundo de harmonia e equilíbrio.
Apesar de tudo, estou
optimista! O despertar de consciência
nos homens e mulheres tem sido cada vez maior, já se vão notando casos de
integração do Sagrado Masculino e do Sagrado Feminino.
É o “Regresso a Casa”!!! É o voltar a ter respeito e
confiança em nós próprios, honrar a nossa ancestralidade, a Mãe Terra, e
desenvolver um olhar sagrado perante a Vida, para que a Humanidade se liberte
das “amarras patriarcais” e possa construir um Mundo Novo!
Fernanda Barbosa