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sábado, 31 de outubro de 2020

ARQUÉTIPOS DA SOMBRA - A SOLTEIRONA... depois da BRUXA...

 

Nesta altura do ano em que é inevitável enfrentarmos a Sombra, é inevitável também falarmos dos aspectos amaldiçoados do feminino, até porque vamos ganhando cada vez mais consciência deles. Esses aspectos têm a ver essencialmente com questões de Liberdade, um direito que é muito prejudicial para o Patriarcado reconhecer plenamente à mulher. Liberdade para fazer escolhas, para se ser independente, inteira e completa em si mesma, para se viver como se quer. Esses aspectos que foram denegridos, como Megera ou Medusa, têm também a ver com força e poder, poder de dizer não, de se autodefender, de não agradar a toda a gente, de estar maldisposta, de não ser a boazinha de serviço, de escolher não entrar numa estrutura, numa instituição em que temos sido (e só por isso mesmo tem sobrevivido) a parte mais fraca…

Verdade que resgatámos com sucesso o título de Bruxa, mas há pelo menos um que continua a não parecer nada bonito: Solteirona! Aquela que "ficou para tia"... Basicamente é sempre bom desconfiar de títulos que não se aplicam ao homem, ou que perdem impacto no masculino... Há quantos anos já a filósofa feminista Mary Daly (1928-2010) levantou do chão esse título maldito entre os malditos dado pelo pensamento patriarcal a uma mulher que não se casou?... Assim, na língua inglesa a palavra Spinster já figura há muito na lista dos epítetos femininos resgatados da ignomínia misógina, precisamente pelas feministas. Título a reclamar sem medo, com  alguma ironia, para depois o desvalorizarmos, por aquilo que ele nos diz sobre a forma como temos permitido ser definidas na nossa relação com o homem.


Imagem: https://www.theguardian.com/books/2015/aug/02/spinster-kate-bolick-review-self-indulgent

 

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