Encontrei há pouco uma foto do Ernest Hemingway e da modelo Jean Petchett e achei-a perfeita para ilustrar este excerto do Segundo Sexo, ou talvez até o livro inteiro...
"Em toda parte e em qualquer
época, os homens exibiram a satisfação que tiveram de se sentirem os reis da
criação. "Bendito seja Deus nosso Senhor e o Senhor de todos os
mundos por não me ter feito
mulher", dizem os judeus nas
suas preces matinais, enquanto as suas esposas murmuram com resignação: "Bendito seja o Senhor que me criou segundo a sua
vontade". Entre as mercês que
Platão agradecia aos deuses, a
maior se lhe afigurava o fato de ter sido criado livre e não
escravo e, a seguir, o de ser homem e não mulher. Mas os homens não
poderiam gozar plenamente esse privilégio, se não o
houvessem considerado alicerçado no
absoluto e na eternidade: de sua
supremacia procuraram fazer um direito. "Os que fizeram
e compilaram as leis, por serem homens, favoreceram seu próprio
sexo, e os jurisconsultos transformaram
as leis em princípios", diz
ainda Poulain de Ia Barre.
Legisladores, sacerdotes,
filósofos, escritores e sábios empenharam- se em demonstrar que a condição
subordinada da mulher era desejada no céu e proveitosa à
terra. As religiões forjadas pelos homens refletem essa
vontade de domínio: buscaram argumentos nas lendas de Eva, de Pandora,
puseram a filosofia e a
teologia a serviço de seus desígnios, como vimos
pelas frases citadas de Aristóteles e São Tomás."
Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo
Sem comentários:
Enviar um comentário