Por que é que continuamente se infere que a época pagã, o tempo em que eram cultuadas divindades femininas (quando esse tempo é mencionado), é como uma época de trevas, de caos, de mistério e de mal, sem a luz da ordem e sem a razão que supostamente foram depois trazidas pelas religiões masculinas? As pesquisas arqueológicas entretanto confirmam que as primeiras leis, formas de governação, medicina, agricultura, arquitectura, metalurgia, veículos de rodas, cerâmica, têxteis e escrita foram inicialmente desenvolvidas em sociedades que seguiam a religião da Deusa. E finalmente acabamos por nos questionar sobre as razões para a falta de informação facilmente acessível sobre sociedades que, durante milhares de anos, cultuaram a antiga Criadora do Universo.
Apesar dos muitos obstáculos, consegui reunir a informação
existente e comecei a relacionar entre si o que tinha recolhido. À medida que
fui investigando, a importância, a longevidade e a complexidade desta religião
antiga começou a tomar forma diante de mim. Muitas vezes havia apenas a
referência à Deusa, um pedaço de lenda, uma referência obscura ao longo das 400
ou 500 páginas de erudição académica. Um templo abandonado em Creta ou uma
estátua no museu de Istambul com escassa informação a acompanhá-la começaram
entretanto a encontrar o seu lugar próprio num cenário mais vasto.
Merlin
Stone, When God Was a Woman, traduzido por Luiza Frazão
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