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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

CONFERÊNCIA DA DEUSA – GLASTONBURY 2013

Deep into the Earth we go
Deep into de Earth we know... (canção de Sally la Diosa Pullinger)

A Terra, a Mãe Terra, foi o tema deste ano, direção Oeste

Por momentos mal se cabia no Town Hall, espaço público disponibilizado todos os anos para este evento que já vai na 18.ª edição. A representante do poder local, na sessão de abertura, salientou o papel e a responsabilidade das mulheres na mudança de paradigma no sentido de criarmos sociedades mais equilibradas, justas, muito mais pró-vida do que as que temos na atualidade.

A Visão MãeMundo

Para inundarmos o mundo com os valores da Mãe, os valores Matriarcais, foi finalmente apresentada ao grande público a visão de Kathy Jones, apoiada pela comunidade de sacerdotisas e sacerdotes de Avalon e de outras pessoas que se identificam com o Movimento da Deusa. Para melhor compreender esta visão, sugiro que consulte: em inglês  e na tradução portuguesa.

Curar a Sombra

Para trazer este mundo ao plano físico, torna-se imperioso para nós mulheres enfrentarmos e curarmos os nossos aspetos Sombra, que tantas e tantas vezes nos voltam umas contra as outras, sabotando todo o trabalho que possamos fazer em conjunto. A nossa divisão, interna e que depois se reflete para o exterior, a nossa profunda insegurança cientificamente desenhada para nos manter no estado de colonizadas, de escravatura mais ou menos disfarçada, em que nos encontramos, acabam por nos tornar cúmplices do sistema patriarcal que sem a nossa energia, aliás, não tem como sobreviver…

Na apresentação da sua visão, Kathy Jones enfatizou este aspeto e durante a própria Conferência tivemos ocasião de com humildade visitar ou revisitar os nossos aspetos mais densos e mais difíceis e de publicamente os admitir (dentro do nosso círculo de trabalho), o que já significa curá-los…

Entretanto, tal como aconteceu com o resto d@s participantes que encheram por completo o Tawn Hall na cerimónia de sexta-feira à noite, houve um comprometimento perante a Deusa de dedicação plena a esta via revolucionária no verdadeiro sentido do termo porque se trata de substituir os valores patriarcais vigentes que nos conduzem à destruição pelos valores matriarcais que agem no sentido da Vida.

A Via da Deusa é uma Via Revolucionária

Sei que o termo assusta, sei que já não podemos lutar contra nada, mas tão-somente, enquanto co-criador@s, ser a mudança que queremos que ocorra no mundo e dar-lhe toda a nossa energia… mas no entanto, tal como frisou Yeshe Rabbit, assumirmo-nos na atualidade, quando os fumos da Inquisição ainda não se esbateram completamente na paisagem, como Sacerdotisas da Deusa, ou aderentes à causa/espiritualidade da Deusa, implica que muitos desafios se podem apresentar, e a Guerreira em nós tem de estar preparada para os enfrentar e seguir adiante com determinação. 

A via da Deusa não é apenas glamour e olhinhos doces, roupas coloridas e magníficos altares; a via da Deusa é essencialmente Serviço. A via da Deusa implica além de outras coisas reflexão e estudo, por muito que nos possa assustar a lista de autor@s cujo trabalho é urgente conhecermos. A via da Deusa implica sairmos do nosso mundinho e ganharmos perspetiva, vermos as coisas dum plano mais e mais elevado; implica uma consciência social, e política no grande sentido da palavra. Implica Reeducação.

Yeshe Rabbit, inspiradora presença americana na conferência de Glastonbury 

I dance at the edge of the world
 Like my Ancestresses before me.
 I am a sacred vessel.
 My blood is indomitable.
 Cradling the Now at my breast.
 Nurturing the future unfolding.
 There is nothing to fear.
 I am a Mother of the New Time.

(Eu danço à beira do Mundo
Como @s ancestrais antes de mim
Sou recipiente sagrado
E o meu sangue é indómito
No meu regaço embalo o agora
Nutrindo o futuro que aí vem
Não existe nada a temer
Eu sou mãe do Novo Tempo)

"Conscious Goddess, a Sustainable Feminist Future of Spirituality"

Tive de novo o grande prazer de participar no workshop desta feminista, tal como já tinha sucedido no ano passado. Yeshe Rabbit é co-fundadora da The Bloodroot Honey Priestess Tribe, uma comunidade matriarcal do norte da Califórnia, e a sua proposta e ensinamentos vão no sentido de nos ajudar a criar núcleos matriarcais à nossa volta que paulatinamente substituam as estruturas patriarcais altamente tóxicas, mas felizmente já muito caducas. Desta comunidade de sacerdotisas saiu um projeto muito semelhante ao de Kathy Jones, Mother of the New Time (http://www.cayacoven.org/motnt/index.html).

Eyshe lembrou-nos da maturidade duma espiritualidade, a da Deusa, que esteve ativa no planeta por cerca de 35 000 anos, enquanto o Cristianismo reina há pouco mais de 2 000. Transposto isto para uma vida humana, temos uma criança de 11 anos e a sua premente necessidade de poder, manipulação e controlo… É sob os ditames deste ser imaturo que temos vivido na maior das inconsciências… Se continuarmos a alimentar as suas “birras”, não restará por fim pedra sobre pedra…  Por isso é tão urgente o BASTA! da Mãe.

More fun, more sex, more chocolate!

Sociedades matriarcais proporcionam-nos “more fun, more sex, more chocolate”… é o lema da bem-humorada sacerdotisa californiana. Lá onde patriarcado é Utilitarismo e Transação, o matriarcado é Criatividade e Processo. Para o utilitarismo patriarcal somos recursos a usar e a deitar fora; apenas em sociedades matriarcais temos hipótese de ser uma Pessoa. O princípio do Prazer em sociedades matriarcais é o que nos salvará da escravatura, resultado da ganância patriarcal, com a sua obsessão pelo Crescimento a qualquer preço.  
Nos matriarcados, o círculo substitui a pirâmide hierárquica. O círculo não exclui, pelo contrário, tal como acontece quando nos reunimos numa roda, ele inclui e cura. É assim que sempre colocamos no seu interior quem mais precisa da nossa atenção, como as crianças ou aquelas pessoas que estão a precisar de cura. @s mais necessitad@s colocamo-l@s no interior do círculo, lá onde se concentra o máximo do poder.

 “The Stones of Wonder, Sacred Drama Performance from the Mithos of Eartha”, escrito por Kathy Jones, com encenação de Katie Player

Precisamos como de pão para a boca de ouvir as histórias daquilo que aconteceu a uma cultura baseada nos valores femininos com a brutal invasão patriarcal. Os atores masculinos contaram mais tarde o quão doloroso foi para eles representar os papéis que Kathy Jones lhes destinou… Mas fizeram-no com entrega, amor e compaixão, compreendendo como é importante revisitar estes episódios para nos curarmos a to@s, homens e mulheres, num mundo completamente desequilibrado como o nosso.

Lembrar o que por vezes algumas de nós parecem esquecer ou de que nunca tiveram realmente muita consciência: a importância de fazermos este trabalho nós mulheres, por nós e para nós. Na presença dos homens, rapidamente alteramos o nosso comportamento e com grande facilidade e inconsciência lhes entregamos o nosso poder. O homem tem sido o grande detentor do poder, ele é visto por muitas de nós como o pai provedor, o líder que nos salvará com o poder da sua palavra e da sua espada... Nos céus, nos últimos milénios, tem reinado em exclusivo uma entidade masculina e nos nossos mitos modernos o seu filho homem é o grande salvador... Dá para perceber o quanto estamos imbuídas de masculinidade? Dá para sentir o desequilíbrio? Só o nosso trabalho conjunto pode criar novos mitos que tragam o equilíbrio e a paz a este mundo, um novo mundo!   


Conclusão

Se tivesse que contar-vos tudo o que me maravilhou nesta conferência, nunca mais acabava e ia enfadar-vos por certo, por isso fico por aqui…

Mas deixem-me só dizer-vos isto: não concebo que nenhum anjo, ET ou mestr@ ascenç@ crie um mundo para nós. Por que tal seria necessário quando somos criador@s tão capazes e talentos@s?!!!

©Luiza Frazão 




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