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sexta-feira, 1 de abril de 2011

O FEMININO MULTIFACETADO


"(...)Na verdade, muito do que Inana simbolizava para os Sumérios foi exilado desde aquela época. Muitas das qualidades ostentadas pelas deusas do mundo superior foram dessacralizadas no Ocidente, assumidas por divindades masculinas e/ou extremamente comprimidas, idealizadas pelo código moral e estético do patriarcado. É por isso que a maioria das deusas gregas foram engolidas pelos seus pais e a deusa hebraica foi despotenciada. Restaram-nos apenas deusas minimizadas ou restritas apenas a determinados aspetos. E muitos dos poderes antes apresentados pela deusa perderam a conexão com a vida da mulher: o feminino apaixonadamente erótico e lúdico; o feminino multifacetado dotado de vontade própria, ambicioso, real.


Na verdade, AS MULHERES TÊM VIVIDO APENAS NO DOMÍNIO PESSOAL, na periferia da cultura do Ocidente, em funções fortemente circunscritas, frequentemente subordinadas a homens, posição social, filhos, etc., OCULTANDO A SUA NECESSIDADE DE PODER E PAIXÃO, vivendo em segurança e secundariamente na relação com nomes sobrecarregados, NOS QUAIS SE PROJETOU TODO O PODER QUE A CULTURA LEGITIMA PARA ELAS. O que então se tornou comportamento coletivamente aceite para as mulheres perdeu a conexão com o sagrado, ao mesmo tempo em que a estatura natural da deusa era reduzida. Tornou-se cada vez mais hipertrófico o superego patriarcal, originalmente necessário para inculcar a sensibilidade estética; a seguir, esse superego foi fortalecido pela Igreja Cristã institucional, com o fim de disciplinar as emoções tribais e selvagens do mundo medieval. A partir do Utilitarismo e do Vitorianismo, o superego comprimiu e regrediu tanto essas energias vitais, que agora elas têm de irromper, forçando, entre outras coisas, o retorno da deusa à cultura ocidental.”


Sylvia B. Perera, Caminho para a Iniciação Feminina

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