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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Monte Alentejano, uma Criação Feminina?


A respeito do Monte Alentejano, ou melhor, deste trabalho do Público sobre o tema, uma irmã escreveu:

“Quem seriam estas pessoas a fugir de um poder urbano? Penso que sejam mulheres... Até porque a economia do monte alentejano, da transformação dos produtos, é muito feminina, apesar dos homens dominarem toda a parte de produção de matéria-prima."

Eis o que eu penso do assunto:

Não sei se podemos dizer que tivessem sido as mulheres a criar o conceito do Monte alentejano, para isso ter-se-ia de fazer uma investigação com olhos de mulher (feminista, por outras palavras). Duvido muito, porque nessa altura já o patriarcado era dominante e a mulher não tinha autonomia, pertencia ao espólio do agricultor que procurava liberdade porque Estado implica não se poder fazer tudo o que se quer, obediência a leis e normas e sobretudo pagar impostos aos grandes e poderosos que fazem as leis e trinta por uma linha... haveria muitas razões para se querer ser mais livre...

Mas comunidades de mulheres subsistiram na Ibéria até para aí ao séc. XVII, ou até a Inquisição as ter deixado existir com autonomia. Cacilda Rodrigañez Bustos tem um trabalho sobre "las Serranas", de que o próprio Gil Vicente falou na sua poesia, bem como o poeta espanhol Luis de Góngora.

Para investigar e resgatar o verdadeiro papel das mulheres na história, o seu modo de vida autónomo, a diferença que fazia na sociedade a predominância do ponto de vista feminino e como tudo isso foi destruído, precisamos de ser mais ativas na investigação e mais ousadas, porque a cultura, a investigação, a academia estão dominadas pelo ponto de vista masculino...

É que sabemos que as mulheres são muito pró-ativas e determinantes, mas desde há uns 5 000 anos elas estão maioritariamente sob a alçada do poder masculino, trabalham para uma economia doméstica que é determinada pelo homem e pela sua perspetiva separatista, competitiva, dominadora. Aliás, ir instalar-se sozinho numa propriedade no meio do nada (acho que o monte é isso, não conheço bem) tem só por si, na minha perspetiva, a marca do masculino... As mulheres livres criam comunidades, círculos, são gregárias por natureza, como as lobas...
Mas o caso vale a pena ser investigado.

 Imagens: Google

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