A Roda do Ano determinou que esta 19.ª edição da Conferência
fosse dedicada à Deusa Anciã, que ocupa nessa mesma Roda a direcção Noroeste, o
momento em que o ano termina com a morte da natureza anunciada já no Equinócio
do Outono. A Deusa Anciã é portanto a Senhora da Morte, a que ceifa a vida que
chegou ao seu término, recolhendo-a no Seu caldeirão, o Seu útero, o interior
da Terra, onde será transformada para de novo renascer. A Morte, a que sempre
se segue um novo começo, um Renascimento, foi portanto o grande tema desta
Conferência: the Cauldron and the Loom, o Caldeirão e o Tear, lia-se no título
do programa.
E o Tear, onde se entrelaçam os fios da Vida, veio para
Glastonbury pela mão da fantástica Carolyn Hyllier, xamã, artesã, autora,
compositora e intérprete, pintora… uma mulher única, um potentado, out of this world, como dizia
alguém. Carolyn Hyllier encheu o
Assembly Rooms de Glastonbury com a sua instalação, misto de pintura e
tecelagem, com a sua própria música de fundo, onde sobressaiam 13 tecedeiras, representantes
de várias culturas do mundo que ganhavam vida quando percorríamos
cerimoniosamente a instalação, interpelando-nos até às profundidades mais
inconfessadas da alma, fazendo estremecer todas as camadas de esquecimento,
menosprezo e abuso com que recobrimos o feminino no mundo, desvalorizando a sua
função, na aparência tão humilde mas na verdade tão grandiosa de simplesmente tecer
as condições para que a vida seja possível. E de repente percebemos que as fantásticas
tecedeiras míticas de Caroline Hyllier são como os grandes pilares em que
assenta a própria alma do mundo…
Sob a sua alçada e com orientação da Sacerdotisa Annabel Du
Boulay foi criada a Estrada da Morte com a participação de tod@s que na sexta-feira
à noite percorremos em cerimónia e que em cerimónia fora transportada em ombros
pelas sacerdotisas desde o Assembly Rooms até ao Town Hall nessa tarde num sublime
cortejo fúnebre com o qual se pretendeu honrar a morte dando-lhe o peso e o
lugar que merece, sabendo que ela é necessária para que a vida se renove e não
algo de pavoroso com sabor a derrota que “civilizadamente” escondemos ou tentamos
ignorar. Foi um dos momentos mais desafiadores percorrermos um-a por um-a a grande
Estrada da Morte, sendo o desafio morrer para aquilo que não queremos mais na
nossa vida, aprender o desapego. No fim de tod@s termos passado para o outro
lado, fizemos em glória o percurso inverso sobre a grande estrada vermelha da
Vida.
Foi muito interessante constatar que nunca vira tanta gente
no Town Hall como este ano atraída pela energia da Deusa Anciã que forneceu
ainda inspiração para uma cerimónia marcante de coroação das Anciãs, mulheres
acima dos 69 anos, que encheram o palco, onde foram apresentadas por alguém
íntimo que ressaltava os aspectos mais marcantes da sua vida e personalidade.
Foi lindo e poderoso ver contrariar a tendência da cultura dominante para
equacionar o avançar da idade com decadência, na lógica do simples mecanismo
que se desgasta, em vez de com valor acrescentado, enriquecimento tanto pessoal
como para toda a comunidade.
Nesta Conferência coube-me também a mim, a convite da minha
formadora na terceira espiral do meu treino de Sacerdotisa, Kathy Jones, a
grande honra de apresentar um workshop sobre um trabalho inspirado pela energia
da Bean Sidhe celta em que pudemos trabalhar aspectos relacionadas com a Sombra
feminina.
Para muitas mulheres e alguns homens de várias partes do
mundo, a Conferência é o grande momento do ano e a pequena cidade de
Glastonbury enche-se de gente que vem aqui celebrar o regresso da Deusa, honrá-La no
lugar desde mundo em que a Sua energia está mais presente e mais se faz sentir,
o lugar da Senhora de Avalon com a maravilhosa Sua energia de profunda cura e
transformação.
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