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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Conferência da Deusa de Glastonbury 2014


A Roda do Ano determinou que esta 19.ª edição da Conferência fosse dedicada à Deusa Anciã, que ocupa nessa mesma Roda a direcção Noroeste, o momento em que o ano termina com a morte da natureza anunciada já no Equinócio do Outono. A Deusa Anciã é portanto a Senhora da Morte, a que ceifa a vida que chegou ao seu término, recolhendo-a no Seu caldeirão, o Seu útero, o interior da Terra, onde será transformada para de novo renascer. A Morte, a que sempre se segue um novo começo, um Renascimento, foi portanto o grande tema desta Conferência: the Cauldron and the Loom, o Caldeirão e o Tear, lia-se no título do programa.

E o Tear, onde se entrelaçam os fios da Vida, veio para Glastonbury pela mão da fantástica Carolyn Hyllier, xamã, artesã, autora, compositora e intérprete, pintora… uma mulher única, um potentado, out of this world, como dizia alguém.  Carolyn Hyllier encheu o Assembly Rooms de Glastonbury com a sua instalação, misto de pintura e tecelagem, com a sua própria música de fundo, onde sobressaiam 13 tecedeiras, representantes de várias culturas do mundo que ganhavam vida quando percorríamos cerimoniosamente a instalação, interpelando-nos até às profundidades mais
inconfessadas da alma, fazendo estremecer todas as camadas de esquecimento, menosprezo e abuso com que recobrimos o feminino no mundo, desvalorizando a sua função, na aparência tão humilde mas na verdade tão grandiosa de simplesmente tecer as condições para que a vida seja possível. E de repente percebemos que as fantásticas tecedeiras míticas de Caroline Hyllier são como os grandes pilares em que assenta a própria alma do mundo…

Sob a sua alçada e com orientação da Sacerdotisa Annabel Du Boulay foi criada a Estrada da Morte com a participação de tod@s que na sexta-feira à noite percorremos em cerimónia e que em cerimónia fora transportada em ombros pelas sacerdotisas desde o Assembly Rooms até ao Town Hall nessa tarde num sublime cortejo fúnebre com o qual se pretendeu honrar a morte dando-lhe o peso e o lugar que merece, sabendo que ela é necessária para que a vida se renove e não algo de pavoroso com sabor a derrota que “civilizadamente” escondemos ou tentamos ignorar. Foi um dos momentos mais desafiadores percorrermos um-a por um-a a grande Estrada da Morte, sendo o desafio morrer para aquilo que não queremos mais na nossa vida, aprender o desapego. No fim de tod@s termos passado para o outro lado, fizemos em glória o percurso inverso sobre a grande estrada vermelha da Vida.

Foi muito interessante constatar que nunca vira tanta gente no Town Hall como este ano atraída pela energia da Deusa Anciã que forneceu ainda inspiração para uma cerimónia marcante de coroação das Anciãs, mulheres acima dos 69 anos, que encheram o palco, onde foram apresentadas por alguém íntimo que ressaltava os aspectos mais marcantes da sua vida e personalidade. Foi lindo e poderoso ver contrariar a tendência da cultura dominante para equacionar o avançar da idade com decadência, na lógica do simples mecanismo que se desgasta, em vez de com valor acrescentado, enriquecimento tanto pessoal  como para toda a comunidade.

Nesta Conferência coube-me também a mim, a convite da minha formadora na terceira espiral do meu treino de Sacerdotisa, Kathy Jones, a grande honra de apresentar um workshop sobre um trabalho inspirado pela energia da Bean Sidhe celta em que pudemos trabalhar aspectos relacionadas com a Sombra feminina.

Para muitas mulheres e alguns homens de várias partes do mundo, a Conferência é o grande momento do ano e a pequena cidade de Glastonbury enche-se de gente que vem aqui  celebrar o regresso da Deusa, honrá-La no lugar desde mundo em que a Sua energia está mais presente e mais se faz sentir, o lugar da Senhora de Avalon com a maravilhosa Sua energia de profunda cura e transformação.



Imagens da Conferência, a primeira no lugar aonde nos levou a procissão do último dia, junto à imagem da Deusa Anciã; a segunda com o grupo de Espanha, da Ibéria, ao qual se juntou a sacerdotisa de Avalon e de Rhiannon Katinka Soetens; a terceira do altar mexicano dos Mortos que criei para o meu workshop Women in White, the Universality of the Celtic Bean Sidhe, no Camino Center.  

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