Conteúdos

terça-feira, 3 de setembro de 2019

A GILANIA DE JESUS



Comentário sobre a gilania de Jesus defendida pela autora Riane Eisler em O CÁLICE E A ESPADA

“Jesus pregava o amor universal, a igualdade entre todos. Ele denunciava as classes dominantes, não apenas os ricos e poderosos, mas também as autoridades religiosas. A autora fala que a partir da nova perspectiva da Teoria da Transformação Cultural é possível discernir um tema espantoso e unificador: a visão da liberação de toda a humanidade através da substituição dos valores androcráticos por valores gilânicos. Em toda a trajectória de Jesus, fica evidente a presença de mulheres como discípulas e líderes cristãs. Não parece que ele tenha feito diferenciação entre homens e mulheres, pelo contrário, para os padrões androcráticos da época em que viveu, ele defendia valores de igualdade entre todos.
Como em outras ocasiões de ressurgimento gilânico, a resistência do sistema da época de Jesus foi muito forte. E os patriarcas da Igreja nos deixaram um Novo Testamento, onde essa ideologia pregada por Jesus ficou sufocada pela superposição de dogmas contraditórios, que foram necessários para justificar a posterior estrutura e objectivos androcráticos da igreja.
Para conhecermos a verdadeira natureza do cristianismo primitivo é necessário sair das escrituras oficiais e recorrer a outros antigos documentos cristãos. Entre eles, o mais importante e revelador é o conjunto de 52 evangelhos gnósticos desenterrados em 1945. Esses ficaram enterrados por quase 1600 anos e são anteriores aos evangelhos do Novo Testamento. O que de mais importante encontrado nesses evangelhos, é o que fez com que Jesus fosse morto, ou seja, o acesso à divindade não depende de uma hierarquia religiosa encabeçada por um alto rabino, bispo ou papa. Esse contacto divino é possível directamente através do conhecimento divino.
Nesses documentos fica claro também que Maria Madalena foi uma das figuras mais importantes para o movimento cristão primitivo. Isso talvez seja o que mais incomodou a igreja ortodoxa hierárquica, o fato de Jesus colocar em posição de igualdade as mulheres.
Esses primeiros cristãos e cristãs ameaçavam o poder crescente dos patriarcas da igreja e constituíam um grande desafio à forma como as famílias patriarcais estavam estruturadas: dominadas pelos homens. O que defendiam ameaçava a autoridade do homem sobre a mulher como fruto de ordenamento divino. O cristianismo primitivo era visto como uma ameaça pelas autoridades hebraicas e romanas e não apenas porque esses cristãos se recusavam a adorar o imperador e prestar lealdade ao Estado, mas principalmente porque eles questionavam s tradições das famílias vigentes, considerando as mulheres como pessoas com seus próprios direitos.
Como antes e a maioria das que vieram depois, o cristianismo tornou-se uma religião androcrática. E o evangelho do amor do cristianismo original desandou terrivelmente. O Império Romano foi substituído pelo Sagrado Império Romano.”
Já no ano 200 d. C o cristianismo estava se tornando exactamente o tipo de sistema hierárquico e calcado na violência que Jesus tanto se rebelou contra. E depois da conversão do Imperador Constantino, o cristianismo se tornou um braço oficial, ou servo, do Estado.
Os líderes da igreja passaram a comandar pessoalmente a tortura e execução de todos que não aceitassem a “nova ordem”. Em vez de ser um espírito absoluto, como mãe e pai, Deus tornou-se explicitamente masculino.” JSF

Imagem: Josefa d'Óbidos, Santa Catarina, igreja de Santa Maria, Óbidos

Sem comentários:

Enviar um comentário