Gosto, dizia, de percorrer esses caminhos, sinto que preciso
deles e que eles precisam de mim. Dizem-nos @s mestr@s que o mundo precisa da
nossa atenção para existir e eu acredito e é quase com um sentimento de dever
ou de missão que sempre que posso percorro os campos, para garantir que
perduram, que continuam a mudar de aparência em cada estação, que ainda rescendem
a ervas mágicas no Verão, que se enchem de flores quando vem a Primavera e de
pássaros nos ninhos e de regatos e poças de água no Inverno e que amarelecem no
Outono quando a Deusa Abundância estende para nós os seus frutos e bagas todas
ao mesmo tempo.
Entretanto perguntam-me as pessoas da aldeia que, imagine-se,
já não andam pelos campos no meio dos quais construíram as habitações onde
vivem, se não tenho medo de andar sozinha pelo campo. A pergunta, mais do que
incomodar-me, fere a minha alma como o bulldozer fere a paisagem. Ao indagar dos
hipotéticos perigos, dizem-me que vêm basicamente das cobras e dos assaltantes.
Devo dizer entretanto que considero as cobras dos animais
mais sagrados de toda a criação. Quanto aos assaltantes, eles estão por todo o
lado, toda a paisagem foi tomada de assalto, a cultura foi tomada de assalto,
toda a terra foi tomada de assalto. Eu visito apenas o que resta do saque, por
enquanto, o que vai sobrevivendo no meio de toda a desolação, e dou-lhe toda a atenção
e carinho que posso e perecer nesse acto não vou dizer que seria heróico, mas alguma
coisa do género.
Luiza Frazão
Muito bom, muito bom mesmo.
ResponderEliminarAdorei!
Grata!
Madalena