Deep into the Earth we go
Deep into de Earth we know... (canção de Sally la Diosa Pullinger)
A Terra, a Mãe Terra, foi o tema deste ano, direção Oeste
Por momentos mal se cabia no Town Hall, espaço público
disponibilizado todos os anos para este evento que já vai na 18.ª edição. A
representante do poder local, na sessão de abertura, salientou o papel e a responsabilidade
das mulheres na mudança de paradigma no sentido de criarmos sociedades mais
equilibradas, justas, muito mais pró-vida do que as que temos na atualidade.
A Visão MãeMundo
Para inundarmos o mundo com os valores da Mãe, os valores
Matriarcais, foi finalmente apresentada ao grande público a visão de Kathy Jones,
apoiada pela comunidade de sacerdotisas e sacerdotes de Avalon e de outras
pessoas que se identificam com o Movimento da Deusa. Para melhor compreender esta
visão, sugiro que consulte: em inglês e na tradução portuguesa.
Curar a Sombra
Para trazer este mundo ao plano físico, torna-se imperioso para nós mulheres enfrentarmos e curarmos os nossos aspetos Sombra, que
tantas e tantas vezes nos voltam umas contra as outras, sabotando todo o
trabalho que possamos fazer em conjunto. A nossa divisão, interna e que depois se reflete para o exterior, a nossa profunda insegurança cientificamente desenhada para nos manter no estado de colonizadas, de escravatura mais ou menos disfarçada, em que nos encontramos, acabam por nos tornar cúmplices do
sistema patriarcal que sem a nossa energia, aliás, não tem como sobreviver…
Na
apresentação da sua visão, Kathy Jones enfatizou este aspeto e durante a
própria Conferência tivemos ocasião de com humildade visitar ou revisitar os
nossos aspetos mais densos e mais difíceis e de publicamente os admitir (dentro do nosso círculo de trabalho), o que já significa curá-los…
Entretanto, tal como aconteceu com o resto d@s participantes
que encheram por completo o Tawn Hall na cerimónia de sexta-feira à noite, houve um comprometimento perante
a Deusa de dedicação plena a esta via revolucionária no verdadeiro sentido do
termo porque se trata de substituir os valores patriarcais vigentes que nos
conduzem à destruição pelos valores matriarcais que agem no sentido da Vida.
A Via da Deusa é uma Via Revolucionária
Sei que o termo assusta, sei que já não podemos lutar contra
nada, mas tão-somente, enquanto co-criador@s, ser a mudança que queremos que ocorra no mundo e dar-lhe toda a nossa energia… mas no entanto, tal como frisou
Yeshe Rabbit, assumirmo-nos na atualidade, quando os fumos da Inquisição ainda
não se esbateram completamente na paisagem, como Sacerdotisas da Deusa, ou
aderentes à causa/espiritualidade da Deusa, implica que muitos desafios se
podem apresentar, e a Guerreira em nós tem de estar preparada para os enfrentar
e seguir adiante com determinação.
A via da Deusa não é apenas glamour e olhinhos doces, roupas
coloridas e magníficos altares; a via da Deusa é essencialmente Serviço. A via
da Deusa implica além de outras coisas reflexão e estudo, por muito que nos
possa assustar a lista de autor@s cujo trabalho é urgente conhecermos. A via da
Deusa implica sairmos do nosso mundinho e ganharmos perspetiva, vermos as coisas
dum plano mais e mais elevado; implica uma consciência social, e política no
grande sentido da palavra. Implica Reeducação.
Yeshe Rabbit, inspiradora presença americana na conferência
de Glastonbury
I dance at the edge of the
world
Like my Ancestresses before me.
I am a sacred vessel.
My blood is indomitable.
Cradling the Now at my breast.
Nurturing the future unfolding.
There is nothing to fear.
I am a Mother of the New Time.
(Eu danço à beira do Mundo
Como @s ancestrais antes de mim
Sou recipiente sagrado
E o meu sangue é indómito
No meu regaço embalo o agora
Nutrindo o futuro que aí vem
Não existe nada a temer
Eu sou mãe do Novo Tempo)
"Conscious Goddess, a Sustainable Feminist Future of Spirituality"
Tive de novo o grande prazer de participar no workshop desta
feminista, tal como já tinha sucedido no ano passado. Yeshe Rabbit é
co-fundadora da The Bloodroot Honey Priestess Tribe, uma comunidade matriarcal
do norte da Califórnia, e a sua proposta e ensinamentos vão no sentido de nos
ajudar a criar núcleos matriarcais à nossa volta que paulatinamente substituam
as estruturas patriarcais altamente tóxicas, mas felizmente já muito caducas.
Desta comunidade de sacerdotisas saiu um projeto muito semelhante ao de Kathy
Jones, Mother of the New Time (http://www.cayacoven.org/motnt/index.html).
Eyshe lembrou-nos da maturidade duma espiritualidade, a da Deusa,
que esteve ativa no planeta por cerca de 35 000 anos, enquanto o Cristianismo
reina há pouco mais de 2 000. Transposto isto para uma vida humana, temos uma
criança de 11 anos e a sua premente necessidade de poder, manipulação e controlo… É sob os
ditames deste ser imaturo que temos vivido na maior das inconsciências… Se
continuarmos a alimentar as suas “birras”, não restará por fim pedra sobre
pedra… Por isso é tão urgente o BASTA! da
Mãe.
More fun, more sex, more chocolate!
Sociedades matriarcais proporcionam-nos “more fun, more sex,
more chocolate”… é o lema da bem-humorada sacerdotisa californiana. Lá onde
patriarcado é Utilitarismo e Transação, o matriarcado é Criatividade e
Processo. Para o utilitarismo patriarcal somos recursos a usar e a deitar fora;
apenas em sociedades matriarcais temos hipótese de ser uma Pessoa. O princípio
do Prazer em sociedades matriarcais é o que nos salvará da escravatura,
resultado da ganância patriarcal, com a sua obsessão pelo Crescimento a
qualquer preço.
Nos matriarcados, o círculo substitui a pirâmide hierárquica.
O círculo não exclui, pelo contrário, tal como acontece quando nos reunimos
numa roda, ele inclui e cura. É assim que sempre colocamos no seu interior quem
mais precisa da nossa atenção, como as crianças ou aquelas pessoas que estão a
precisar de cura. @s mais necessitad@s colocamo-l@s no interior do círculo, lá
onde se concentra o máximo do poder.
“The Stones of Wonder, Sacred Drama
Performance from the Mithos of Eartha”, escrito por Kathy Jones, com encenação
de Katie Player
Precisamos como de pão para a boca de ouvir as histórias
daquilo que aconteceu a uma cultura baseada nos valores femininos com a brutal
invasão patriarcal. Os atores masculinos contaram mais tarde o quão doloroso foi
para eles representar os papéis que Kathy Jones lhes destinou… Mas fizeram-no
com entrega, amor e compaixão, compreendendo como é importante revisitar estes
episódios para nos curarmos a to@s, homens e mulheres, num mundo completamente
desequilibrado como o nosso.
Lembrar o que por vezes algumas de nós parecem esquecer ou de que nunca tiveram realmente muita consciência: a importância de fazermos este trabalho nós mulheres, por nós e para nós. Na presença dos homens, rapidamente alteramos o nosso comportamento e com grande facilidade e inconsciência lhes entregamos o nosso poder. O homem tem sido o grande detentor do poder, ele é visto por muitas de nós como o pai provedor, o líder que nos salvará com o poder da sua palavra e da sua espada... Nos céus, nos últimos milénios, tem reinado em exclusivo uma entidade masculina e nos nossos mitos modernos o seu filho homem é o grande salvador... Dá para perceber o quanto estamos imbuídas de masculinidade? Dá para sentir o desequilíbrio? Só o nosso trabalho conjunto pode criar novos mitos que tragam o equilíbrio e a paz a este mundo, um novo mundo!
Se tivesse que contar-vos tudo o que me maravilhou nesta
conferência, nunca mais acabava e ia enfadar-vos por certo, por isso fico por
aqui…
Mas deixem-me só dizer-vos isto: não concebo que nenhum anjo, ET ou mestr@ ascenç@ crie um mundo para nós. Por que tal seria necessário quando somos criador@s tão capazes e talentos@s?!!!
Mas deixem-me só dizer-vos isto: não concebo que nenhum anjo, ET ou mestr@ ascenç@ crie um mundo para nós. Por que tal seria necessário quando somos criador@s tão capazes e talentos@s?!!!
©Luiza Frazão