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sábado, 29 de janeiro de 2011

VOCÊ É SELVAGEM O SUFICIENTE?


Sua beleza é arisca, arredia aos modismos. Ela encanta por um não-sei-quê indefinível... mas que também agride o olhar.
É um tipo raro e não tem habitat definido: vive em Catmandu, mora no prédio ao lado ou se mudou ontem para Barroquinha.
E não deixou o endereço. É ela, a mulher selvagem. Em quase tudo ela é uma mulher comum: pega metrô lotado, aproveita
as promoções, bota o lixo para fora e tem dia que desiste de sair porque se acha um trapo. Porém em tudo que faz exala um
frescor de liberdade. E também dá arrepios: você tem a impressão que viu uma loba na espreita. Você se assusta, olha de novo...
e quem está ali é a mulher doce e simpática, ajeitando dengosa o cabelo, quase uma menininha. Mas por um segundo você viu a loba, viu sim. É a mulher selvagem.
A sociedade tenta mas não pode domesticá-la, ela se esquiva das regras. Quando você pensa que capturou, escapole feito água entre os dedos. Quando pensa que finalmente a conhece, ela surpreende outra vez. Tem a alma livre e só se submete quando quer. Por isso escolhe seus parceiros entre os que cultuam a liberdade. E como os reconhece? Como toda loba, pelo cheiro, por isso é bom não abusar de perfumes. Seu movimento tem graça, o olhar destila uma sensualidade natural... mas, cuidado, não vá passando a mão. Ela é um bicho, não esqueça. Gosta de afago mas também arranha.
Repare que há sempre uma mecha teimosa de cabelo: é o espírito selvagem que sopra em sua alma a refrescante sensação de estar unida à Terra. É daí que vem sua força e beleza. E sua sabedoria instintiva. Sim, ela é sábia, pois está em harmonia com
os ritmos da Natureza. Por isso conhece a si mesma, sabe dos seus ciclos de crescimento e não sabota a própria felicidade.
Como todo bicho ela respeita seu corpo mas nem sempre resiste às guloseimas. Riponga do mato, gabriela brejeira? Não necessariamente, a maioria vive na cidade. E há dias paquera aquele pretinho básico da vitrine. E adora dançar em noite de lua. Ah, então é uma bruxa... Talvez, ela não liga para rótulos. Sabe que a imensidão do ser não cabe nas definições. Mulheres gostam de fazer mistério. Ela não, ela é o mistério. Por uma razão simples: a mulher selvagem sabe que a vida é uma coisa assombrosa e perfeita, e viver, o mais sagrado dos rituais. Ela sente as estações e se movimenta com os ventos, rindo da chuva e chorando com os rios que morrem. Coleciona pedrinhas, fala com plantas e de uma hora para outra quer ficar só, não insista. Não, ela não é uma esotérica deslumbrada mas vive se deslumbrando: com as heroínas dos filmes, aquela livraria nova, um presente inesperado... Ela se apaixona, sonha acordada e tem insônia por amor. As injustiças do mundo a angustiam mas ela respira fundo e renova sua fé na humanidade. Luta todos os dias por seus sonhos, adormece em meio a perguntas sem respostas e desperta com o sussurro das manhãs em seu ouvido, mais um dia perfeito para celebrar o imenso mistério de estar vivo.

Ela equilibra em si cultura e natureza, movendo-se bela e poética entre os dois extremos da humana condição. Ela é rara, sim, mas não é uma aberração, um desvio evolutivo. Pelo contrário: ela é a mais arquetípica e genuína expressão da feminilidade, a eterna celebração do sagrado feminino. Ela está aí nas ruas, todos os dias. A mulher selvagem ainda sobrevive em todas as mulheres mas a maioria tem medo e a mantém enjaulada. Ela é o que todas as mulheres são, sempre foram, mas a grande maioria esqueceu.
Felizmente algumas lembraram. Foram incompreendidas, sim, mas lamberam suas feridas e encontraram o caminho de volta à sua própria natureza. Esta crônica é uma homenagem a ela, a mulher selvagem, o tipo que fascina os homens que não têm medo do feminino. Eles ficam um pouco nervosos, é verdade, quando de repente se vêem frente a frente com um espécime desses. Por isso é que às vezes sobem correndo na primeira árvore. Mas é normal. Depois eles descem, se aproximam desconfiados, trocam os cheiros e aí... Bem, aí a Natureza sabe o que faz.

Ricardo Khelmer
(através de Grimoire Marques, grupo Mulheres & Deusas, Facebook)
Imagem: Adriana Calcanhoto

sábado, 1 de janeiro de 2011

Síndrome de Cinderela


"Lembra da Cinderela, aquela que durante o dia lavava, passava, limpava e cozinhava, tomava conta das irmãs e ainda satisfazia a todos os desejos da madrasta má? Pois é, e não é que a danada ainda tinha pique pra se embonecar toda, sapatinho de cristal e tudo, enfiar-se em uma abóbora e dançar com o príncipe a noite inteira?
Bem, a noite inteira não, só até a meia-noite, porque até a Cinderela tinha lá os seus limites, impostos pela fada-madrinha, diga-se de passagem, porque se fosse por ela ficava no arrasta-pé até o dia clarear. Vai ter disposição assim lá na casa do chapéu!
Pois contaram essa história pra gente quando a gente ainda era menininha, só que algumas de nós acabaram levando isso ao pé da letra, achando que ser como a Cinderela era formidável e seguem arrastando esse pesado fardo vida afora. São as ditas perfeccionistas: exigentes ao extremo consigo mesmas, nunca se poupando de esforços incomensuráveis e sobre-humanos pra fazer tudo da forma mais impecável possível, mas frequentemente indulgentes com as imperfeições alheias.
Aos vinte e tantos anos eu surtei, só faltava babar e chamar urubú de meu louro, e a explicação psicanalítica pra coisa era que eu "me esforçava tanto pra cumprir todos os meus papéis que acabava não dando espaço pra mim mesma".
Toma, besta, vai ficar aí tentando ser a melhor funcionária, melhor esposa, melhor mãe, melhor dona-de-casa, melhor tudo-que-há, que você também vai ter o seu! Temos que entender que somos apenas humanas e que se nossa opção foi desenvolver a nossa carreira, marido que nos desculpe mas a casa vai permanecer alguns anos (até a gente se aposentar, pelo menos) nesse estado assim beirando a zona. E se a bagunça o incomoda tanto, ele que é tão profissional quanto nós que se digne a vir pra casa mais cedo dispensando suas sagradas cervejinhas depois do escritório e peque no cabo da vassoura, ora essa! E nem me pergunte o-que--é-que-eu-faço-com-essa-vassoura-agora com essa cara de paspalho que senão eu dou uma daquelas respostas que no fim dão em divórcio!
E se a gente optou por ter filhos, o chefe vai ter a santa paciência de aturar aí uns atrasos de vez em quando, porque afinal quem é que supre o mercado de trabalho com mais e mais trabalhadores? Nós aqui, né? E se eles morrerem todos porque a mãe tinha que trabalhar e não podia levar ao médico, a longo prazo esse país aqui vai pras cucuias, não vai não? Então...
E claro que se o almoço atrasar porque a gente estava no cabeleireiro, nosso querido esposo vai ter que aprender pra que servem aqueles botõezinhos lá do microondas, que não tem controle remoto, não senhor. E fazer uma saladinha pra esperar a mulher de vez em quando também não mata ninguém nem cai a mão, não senhor.
É, amiga, pode doer a consciência um pouco no começo, mas a gente vai ter que se acostumar a estabelecer prioridades (as nossas, não as deles) e fazer sempre o que for mais importante, sem culpas por deixar o resto assim na base do deus-dará. Fazer tudo ao mesmo tempo a gente já viu que não dá, e seria desumano ao menos tentar, então relaxa e goza a vida!"

(por Zailda Mendes)
Publicado por Susana Vitorino em Mulheres & Deusas.

Bênçãos para 2011!


Terminou aquele que foi para mim um grande ano de descoberta e aprofundamento da questão do Sagrado Feminino. Muita coisa aconteceu nesse domínio na minha vida e acontecerá no ano que agora começou, estou certa. Uma das coisas boas foi o workshop que concebi "A Deusa no Coração da Mulher", uma experiência que adorei . Outra foram as minhas viagens, a Findhorn e à Conferência da Deusa em Madrid. Foi ainda ter conhecido mulheres tão carismáticas e fabulosas como Starhawk, Kathy Jones, Vicky Noble... Foi ter lido "La Femme Celte", de Jean Markale. Foi ter meditado, rezado, caminhado na natureza, criado altares e rituais... Foi ter continuado o meu trabalho com o Método Louise Hay.

Por tudo isto e muito mais, estou muito grata à Vida, a Deus/Deusa. A minha gratidão também para aquelas e aqueles que me visitam aqui. Que o novo ano traga muitas bênçãos para todas e todos.